domingo, outubro 06, 2024

Desperdício

Talvez seja começar pelo fim mas há coisas que devem ser ditas consoante a sua importância.
Rui Borges não tem obrigação de o saber, mas era bom que alguém lhe explicasse isso, que para o Vitória há jogos especiais e cujas caracteristícas os diferenciam de todos os outros.
Vencer os chamados "grandes" é derrotar o "sistema", vencer o Braga é triunfar num derbi centenário para os clubes e milenário para as comunidades e derrotar o Boavista é abater a um "passivo" que nunca estará saldado, porque a História não pode ser reescrita, mas que sabe bem ir diminuindo progressivamente triunfo atrás de triunfo.
O que significa que nesses jogos tão especiais é preciso pôr a carne toda no assador (como dizia o grande Quinito) e no assador a manter de principio a fim.
O que equivale a dizer que não são jogos para fazer poupanças, rotações ou experiências.
São jogos para disputar com o máximo de rigor, de concentração , de intensidade e de acerto.
No relvado e no banco!
Dito isto vamos à apreciação do jogo propriamente dito.
Boa primeira parte do Vitória dominando completamente o Boavista e fazendo apenas um escasso golo face às oportunidade que teve para fazer mais dois pelo menos.
Quando logo após o início da segunda parte Gustavo Silva fez o segundo golo ( da equipa e da sua conta pessoal) creio que nenhum vitoriano presente no estádio ou a ver o jogo pela televisão pensaria que o Vitória deixaria de ganhar ficando apenas a dúvida de por quantos golos de diferença.
Um pensamento legítimo para um adepto mas perigoso para a equipa porque este Boavista, muito longe de grandes equipas do passado e recheado de jovens por força da impossibilidade de inscrever novos jogadores , já mostrara em jornadas anteriores ser uma equipa com alma e que nunca se entrega por desfavorável que seja o resultado. 
E a verdade é que após o segundo golo a exibição do Vitória foi decaindo de qualidade e de intensidade enquanto o Boavista (uma equipa joga o que a outra deixa) foi crescendo paulatinamente muito por força, também, da entrada de Reisinho que foi pautando o jogo com critério até então inexistente e viria a transformar as duas grandes penalidades.
Ms foi nas susbtituições que do meu ponto de vista se perderam dois pontos.
Normal a troca de Samu, debilitado por um choque na primeira parte, por Nuno Santos pese embora este mais uma vez não ter aproveitado a oportunidade mas aí a responsabilidade é apenas dele.
Mas depois o inexplicável.
Que é, aliás, uma espécie de repetição de matéria dada com a troca de Nélson Oliveira e Gustavo Silva por Ramirez e João Mendes desfazendo o 4-3-3 e passando a um 4-4-2 hibrido com que a equipa manifestamente não se dá bem.
Para lá de isso ter significado a saída de um avançado que tinha feito dois golos e estava naturalmente muito moralizado para a entrada d eum médio que não pisa de forma confortável os flancos.
Obviamente que isso também significou uma menor pressão sobre o ultimo reduto adversário e um convite ao Boavista para avançar no terreno o que com mais de 20 minutos para jogar podia tornar-se um risco face ao quão enganador um 2-0 é e ainda por cima num jogo destes.
E pouco demorou para o Boavista dar o primeiro sinal de sério perigo com um golo bem anulado  pelo árbitro por sugestão do VAR dado ter existido falta sobre Bruno Gaspar.
O sinal não terá sido totalmente entendido porque três minutos depois dá-se a saída simultânea de Tomás Handel e Tiago Silva, dois jogadores nucleares da equipa e que vinham garantindo a supremacia na intermediária, para dar entrada a Manu Silva e Zé Carlos que a única coisa de saliente que fizeram foi cometerem as duas grandes penalidades que deram o empate ao Boavista.
Percebo que a equipa possa denotar algum cansaço depois deste início de época com muitos jogos, e de na quarta feira ter disputado um jogo europeu (em casa e com um adversário frágil convém referir), mas já tenho alguma dificuldade em perceber que nestes últimos jogos as substituições tenham sido sempre em torno dos mesmos jogadores (os que entram e os que saem) bem como a necessidade de num jogo tão especial como este se terem dado uns minutinhos de descanso a jogadores preponderantes quando o campeonato vai parar durante três semanas e haverá tempo para descansar.
Regresso a Rui Borges para uma nota final.
Quando a equipa ganha ganham todos e quando a equipa perde perdem todos.
Que me recorde já é a segunda vez em pouco tempo que o treinador responsabiliza os jogadores por resultados menos positivos.
Ele lá sabe as linhas com que se cose mas ter o balneário unido em seu torno não é coisa menor.
E isso ele sabe de certeza.
Vem agora estas três semanas sem campeonato, mas com um jogo manhoso em Paços de Ferreira para a taça daqui a duas semanas, e será certamente tempo para descansar, reflectir, corrigir os erros e ganhar um novo folêgo para o reinício de campeonato.
Nada está em causa, há muito campeonato para jogar, mas depois do excelente triunfo em Braga a equipa em nove pontos possíveis fez apenas dois e essa média tem de ser substancialmente melhorada.
O árbitro Luís Godinho teve um jogo difícil mas também não fez muito para o tornar fácil.
Permissivo para o antijogo do Boavista, tolerante para a rudeza de alguns jogadores axadrezados, sem autoridade disciplinar e incapaz de contrariar alguns pequenos "sururus" que foram acontecendo aqui e ali como é típico nestes jogos de grande rivalidade entres os clubes.
Nos lances capitais, as duas grandes penalidades e o golo anulado ao Boavista, decidiu bem com a ajuda do VAR.
Não foi por ele que o Vitória desperdiçou dois pontos.
Depois Falamos.

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