O meu artigo desta semana no zerozero.pt
Diz o povo, na sua quase infinita sabedoria, que onde há fumo há fogo (ainda que por vezes possa demorar) pelo que a notícia agora anunciada da criação de uma superliga europeia é apenas o “fogo” respeitante a um “fumo” que já andava no ar desde vários anos a esta parte e que se sabia que mais cedo ou mais tarde daria nisto.
E o “nisto” é o anúncio feito por doze clubes – Real Madrid,
Barcelona, Atlético de Madrid, Juventus, Milan, Inter, Liverpool, Manchester
United, Manchester City, Arsenal, Chelsea e Tottenham- da criação da tal
superliga que passará a diputar-se já de imediato a partir da próxima época e
na qual participarão mais três clubes “fundadores” e outros cinco escolhidos
anualmente em função dos seus resultados.
O que significa que os quinze
(doze já anunciados e mais três que permanecem no segredo dos deuses) terão
lugar cativo para todo o sempre na superliga e depois anualmente serão
escolhidos outros cinco (com base nos tais critérios desportivos ainda não
divulgados) para completarem o lote de
vinte equipas que dividadas em duas séries de dez disputarão a prova.
Ao que parece às quartas feiras e sem prejuízo da participação dessas
equipas nas provas nacionais.
O objectivo será substituir a actual Liga dos Campeões e permitir aos
clubes participantes embolsarem ainda mais dinheiro com direitos televisivos e
tudo o mais que gira em torno de uma prova dessa dimensão jogada por alguns dos
maiores clubes do mundo.
Acontece que essa prova nada tem a ver com os princípios e valores do
futebol e é, isso sim, uma enorme perversão do mesmo pondo em causa tudo aquilo
que o futebol foi e é ao longo da sua História mais que centenária e que o
transformou no desporto mais amado e praticado a nível planetário.
Mas para os seus promotores isso pouco importa porque nso seus
horizontes gananciosos apenas veêm dinheiro, dinheiro e mais dinheiro pouco se
importando com o desporto em si, com os adeptos, com as tradições e legados de
tantos anos que o futebol trás consigo.
Em bom rigor esta avidez sem limite, esta colocação do dinheiro à
frente de qualquer outro valor, esta convicção de que o dinheiro tudo compra e
tudo vence começou quando o presidente do Real Madrid , Florentino Perez ( um
personagem sinistro a que o futebol apenas “deve” atentados contra a sua
essência), contratou Figo ao Barcelona pagando uma clausula de rescisão
milionária e dando início a um perfeito desvario nos valores que se pagam por jogadores (e pagam a
jogadores) rapidamente seguido por muitos outros clubes da Europa mais rica e
que levou boa parte deles a enormes problemas financeiros e a passivos
colossais.
Mas para os seus dirigentes, com o inevitável Florentino à cabeça,
nada disso importa porque o que realmente interessa é dinheiro a jorros para
sustentar a sua megalomania e fazer dos seus clubes autênticas equipas
produtoras não de bom futebol mas sim de
lucros infinitos para todo o sempre.
Aliás não deixa de ser curioso que olhando para os doze clubes
fundadores da superliga vêem-se lá muito poucos clubes dirigidos por gente
eleita pelos associados (curiosamente o Real Madrid e o Barcelona são as
excepções mais visíveis) , ou seja com um compromisso mínimo que seja com a
paixão que sempre acompanhou o desenvolvimento e a afirmação do futebol, mas
abundam os clubes pertencentes a multimilionários russos, norte americanos,
árabes e chineses ou seja gente que nada tem a ver com o futebol, que se está
nas tintas para a sua essência e as suas tradições e que apenas vê nesta
superliga uma forma de aumentarem as suas já imensas fortunas pouco se
importando com o que vão destruir à volta.
Como era de esperar as reacções, fora do círculo fechado da ganância
sem limite, tem sido brutalmente adversas e já se sabe que FIFA, UEFA, Comissão
Europeia e múltiplas federações e ligas nacionais (bem como figuras de
referência dos clubes fundadores como Sir Alex Ferguson por exemplo) já se
manifestaram duramente contra a criação desta superliga e prometem combatê-la
por todos os meios.
Nomeadamente a UEFA que, e muito bem, já anunciou em comunicado que os
clubes que participarem nessa superliga serão impedidos de participarem em
qualquer competição nacional, europeia ou
mundial e os seus jogadores também não poderão representar as
respectivas selecções nacionais.
Aliás em linha com o que a FIFA já anunciara em Janeiro do corrente
ano afirmando que qualquer jogador e qualquer
que participassem numa competição de élite organizada por convite (lá está o tal “fumo” que já andava no ar) seriam impedidos de
participar em competições oraganizadas pela própria FIFA.
É este o ponto da situação.
Doze clubes organizadores da superliga(mais os tais três ainda
desconhecidos) a fazerem frente a FIFA,UEFA, Federações e Ligas nacionais,
Comissão Europeia e governantes de vários países que já se manifestaram contra
a iniciativa como são os casos do presidente de França e do primeiro ministro
de Inglaterra entre outros que já vieram a público rejeitar a iniciativa.
Registam-se ainda as recusas de entrar na superliga do actual campeão
europeu-Bayern de Munique- e de dois ex campeões europeus como o Borússia
Dortmund e o Futebol Clube do Porto.
E por isso sendo arriscado fazer previsões sobre como tudo isto
acabará, até pela promessa mútua de recurso aos tribunais pelos promotores da
superliga e pelos organismos que tutelam o futebol europeu e mundial, não
duvido que o futebol tem sobre si uma ameaça de cisão que não o pondo em causa
como desporto de multidões ainda ssim terá nefastas consequências a pairarem
sobre as suas competições nacionais e europeias.
É evidente que se a superliga avançar a FIFA , a UEFA e as federações
nacionais devem ter a coragem de levarem até às ultimas consequências as
sanções já divulgadas, porque é a única forma de salvaguardarem o futebol e
qualquer cedência nessa matéria será causadora de danos que a prazo serao
maiores que a própria superliga, mas é igualmente evidente que o peso desses
clubes, mais o financiador da competição o banco americano J.P Morgan, é de tal
ordem que não ficaria excessivamente admirado se tudo isto acabasse numa
negociação que resultasse em muito mais dinheiro para esses clubes quando
disputassem ( e a esmagadora maioria fá-lo...sempre) a Liga dos Campeões.
Assunto a seguir com muita atenção ou não fosse o futebol a coisa mais
importante das coisas menos importantes!
P.S. Em Portugal a LPFP já se pronunciou contra a superliga o que lhe fica muito bem como é óbvio. Mas para ter moral para falar contra provas destinadas a élites e tratamentos preferenciais a alguns clubes bem faria se olhasse para a forma como organiza as suas próprias competições.
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