Que é a minha Terra e por isso a que conheço melhor.
Onde fiz seis mandatos na Assembleia Municipal e participei em todas as campanhas autárquicas desde 1976, embora com graus de envolvimento necessariamente diferentes, o que me permite uma visão privilegiada sobre a próxima disputa eleitoral.
Guimarães é um caso "sui generis".
Em 1976 venceu o PS, em 1979 a AD, em 1982 o PS , em 1985 o PSD e a partir daí sempre o PS que já vai na sua nona vitória consecutiva, sempre por maioria absoluta, afirmando uma hegemonia que tem sido indiscutível.
Ou seja depois de grande equilíbrio nas quatro primeiras autárquicas entre PS e PSD/AD o ano de 1989 marcou o fim dessa repartição de poder e consagrou um PS absoluto.
Não cabe aqui, já o fiz noutros textos ao longo dos anos neste blogue, comentar as razões para isso pelo que vou apenas deixar a minha opinião sobre o que poderão ser as próximas autárquicas no concelho de Guimarães.
E dentro da lógica elas apontarão para a décima vitória consecutiva dos socialistas.
Que significará o terceiro e último mandato de Domingos Bragança que só não dormirá sossegado quanto às eleições porque há um persistente "ruído" de afiar de facas dentro do PS que o deve incomodar, de alguma forma, pensando na governança pós eleições.
Porque sendo a sua liderança incontestável é mais que óbvia a existência de uma enorme luta pelo poder (e pela sucessão) entre os jovens turcos socialistas espalhados pela vereação, pelas empresas municipais e pelo Parlamento que querem assegurar nas listas de 2021 as posições que os coloquem em lugar vantajoso para disputarem a futura liderança.
Certo é que depois estarão todos unidos na disputa das eleições, a partir do momento em que as listas estejam escolhidas, guardando a retoma do afiar de facas para depois das mesmas.
No PSD também já está escolhido o candidato.
Será Bruno Fernandes, o líder concelhio do partido, homem com grande experiência autárquica depois de ter presidido durante doze anos à junta de freguesia da vila de S.Torcato onde desenvolveu trabalho de mérito.
Foi também peça essencial na preparação e condução das duas últimas eleições autárquicas da coligação "Juntos por Guimarães" (que se mantém nestas eleições) pelo que conhece muito bem o concelho e é nele razoavelmente conhecido também.
Não ganhará mas pode aspirar a manter os resultados de 2017 o que poderá ser muito importante com vista a 2025 onde com a saída de Domingos Bragança, e as quase inevitáveis fracturas internas no PS, poderá a oposição (PSD + CDS) ter a sua primeira grande hipótese em muitos anos de ganhar a Câmara.
Da CDU vem a maior surpresa destas eleições em Guimarães, e um foco adicional de interesse para as mesmas, face à candidatura de Mariana Silva a primeira mulher a candidatar-se como cabeça de lista à Câmara Municipal de Guimarães na história do Portugal democrático.
E do "outro" também.
Estrela em ascensão na política local desde 2009, e na política nacional desde 2019, Mariana Silva está como deputada municipal desde há três mandatos e é deputada na Assembleia da República, pela primeira vez, na actual legislatura e em ambos os Parlamentos tem-se afirmado por um discurso focado em temas ligados ao ambiente, à mobilidade, à habitação, aos direitos das mulheres ,entre outros, sempre com um tipo de intervenção que foge aos canônes mais rigidos do PCP (é militante do PEV) e se caracteriza por uma não ortodoxia e uma abertura a outros sectores de esquerda.
Creio que será uma candidatura bem sucedida, até porque a novidade de ser uma candidata e o seu discurso poderão atrair eleitores de esquerda fartos do PS mas que não se reveêm na tal ortodoxia típica do PCP, e tudo indica que a CDU recuperará o vereador perdido em 2017 e poderá reforçar posições na assembleia municipal.
Quanto aos restantes partidos não se aguarda nada que não seja a habitual irrelevância autárquica do Bloco de Esquerda e a candidatura de pequenos partidos para fazerem prova de vida mas sem qualquer hipótese de elegerem seja quem for.
Resta o Chega.
Que ao que tudo indica também se candidatará aos orgãos autárquicos, no seu caso pela primeira vez, mas que dificilmente poderá aspirar a mais (e mesmo isso...) do que "imitar" o BE e eleger um deputado municipal.
Creio que em Guimarães, como em quase todo o país, o Chega vai perceber aquilo que o BE já sabe há muito tempo; legislativas são legislativas e autárquicas são autárquicas sendo que é muito mais fácil crescer nas primeiras,como o BE vem fazendo desde 1999, do que nas segundas onde o BE ao fim de vinte anos nao passa da irrelevância sem deter uma única presidência de câmara.
Guimarães serão eleições que acompanharei com todo o interesse mas pela primeira vez desde 1976 sem a mínima participação nas mesmas.
Depois Falamos.
Depois Falamos.
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