terça-feira, maio 28, 2013

Terceira Oportunidade

Há muito tempo, talvez mais de vinte anos, que digo que o Vitória é um gigante adormecido á espera que o despertem para então poder demonstrar tudo aquilo de que é capaz.
Tem adeptos, tem tradição, tem "escola", tem um óptimo estádio e um dos melhores complexos desportivos do país, tem um ecletismo fantástico que lhe tem valido vários títulos, teve ao longo dos anos equipas de futebol que não temiam comparações com as melhores deste país, teve jogadores de topo, enfim teve( e tem) tudo que é necessário a que o gigante acorde e assuma a sua grandeza.
Mas então o que lhe falta dirão os leitores?
Até ontem faltavam duas coisas.
Ganhar um titulo nacional e assumir um projecto desportivo capaz de com estabilidade ser ganhador de forma continuada.
Agora falta apenas uma.
Porque o ambicionado titulo nacional foi ganho ontem no Jamor face a um adversário poderoso, "abençoado" por todos os poderes do futebol, mas ao qual o Vitória soube ganhar usando as limitadas armas de que dispõe.
Agora falta o resto.
Devo dizer que ao longo de mais de quarenta anos a ver o Vitória houve claramente dois momentos em que pensei que o gigante ia acordar e ficar bem desperto.
Nas épocas de 1985/1986 e 1986/1987 sob o comando de António Morais e Marinho Peres o Vitória construiu uma grande equipa de futebol que se batia de igual para igual com todas as outras e que na segunda dessas épocas lutou pelo titulo (a par de um esplêndida participação europeia)quase até ao fim do campeonato.
Tivesse o plantel mais dois ou três jogadores de boa qualidade e não sei não...
Ainda assim conseguiu o terceiro lugar e abriu nos vitorianos a enorme esperança de que na época seguinte é que seria.
Infelizmente um tremendo erro de gestão desportiva ( a transferência de Paulinho Cascavel para o Sporting) "matou" a equipa ,que quase descia de divisão na época 1987/1988, e voltou a adormecer o gigante.
Que nos anos 90, pese embora as belas equipas de que dispusemos com jogadores como Vítor Paneira, Capucho,Dane, José Carlos,Zahovic, Gilmar, etc nunca permitiu o tal despertar duradouro que nos anos 80 chegou a parecer possível.
De vez em quando o gigante abria um olho, mexia-se um bocado, mas voltava a dormir.
A segunda oportunidade de o acordar a sério foi nos anos de Manuel Cajuda á frente da equipa.
A descida de divisão foi um tremendo abanão nos adeptos que contudo reagiram de forma excepcional, dando ao clube um apoio inigualável, e ajudaram imenso a uma subida  que a categoria e argucia do treinador Manuel Cajuda tornou imparável.
No ano a seguir foi o que se sabe.
Um grande campeonato, o segundo lugar roubado pelas arbitragens nos dois últimos jogos fora(Académica e Belenenses), mas ainda assim um inédito apuramento para a pré eliminatória da liga dos campeões face a um adversário perfeitamente acessível.
Tudo isto perante um envolvimento estreito dos adeptos com a equipa e um entusiasmo em crescendo a fazer lembrar os melhores tempos dos anos 80.
Também sabemos o que aconteceu a seguir.
Uma lamentável mistura de interesses pessoais com negócios extra futebol, um mau aconselhamento jurídico a par de uma quebra de relações com o Porto em detrimento de uma inócua parceria com o Benfica, levaram a uma eliminação perfeitamente evitável na Champions a par de um campeonato apenas razoável e que levou a uma detioração irreversível das relações entre direcção e treinador.
E o gigante voltou a adormecer.
Novamente após dois anos em que o despertar parecia poder ser duradouro.
Surge agora a terceira oportunidade.
Ancorada na conquista de uma taça de Portugal longamente ansiada e em cinco ocasiões perdida, num treinador com carisma junto dos adeptos, numa equipa assente em jovens talentosos e em adeptos fortemente motivados.
E o gigante voltou a abrir os olhos.
Sabendo todos nós que para o despertar ser duradouro e ele poder mostrar todo o seu potencial é necessário dar-lhe um alimento vital para que a sua força seja imparável.
E o alimento chama-se vitórias.
Porque é a única forma de ele não voltar a adormecer.
É evidente que uma vitória na taça não transforma um clube cheio de dificuldades financeiras num clube rico.
Mas os prémios arrecadados, a participação directa na fase de grupos da liga Europa, e os valores recebidos pelas transferências já feitas permitirão seguramente uma aposta séria no futebol quer através da manutenção dos jogadores fundamentais que ainda não foram transferidos quer na aquisição criteriosa de reforços.
Saíram Ricardo, Tiago Rodrigues, Soudani e El Adoua quatro titulares indiscutiveis na espinha dorsal da equipa.
Para os substituir há opções válidas na equipa B mas são igualmente necessários reforços de qualidade.
O primeiro dos quais é não deixar sair mais ninguém.
Porque se Rui Vitória na próxima época ao invés de construir uma equipa que possa ambicionar patamares mais elevados tiver de voltar a reconstruir o plantel então, não sendo nada que não possa ser feito, a verdade é que vai ser mais uma "machadada" na crença e na ilusão dos adeptos.
E corremos o sério risco de o gigante voltar a mergulhar num sono profundo que alguns pigmeus aproveitarão para o continuarem a ultrapassar nas conquistas e na ambição.
Repito e concluo.
A vitória na Taça de Portugal, a valia do plantel (A e B) e o envolvimento dos adeptos dão ao gigante adormecido uma terceira oportunidade de voltar a acordar definitivamente.
É bom que a aproveitemos.
Porque pode ser a ultima.
Depois Falamos

P.S. Eu sei que em tempo de justos festejos este artigo pode parecer um pouco "frio".
Mas o futebol de hoje é demasiado dinâmico para permitir que se perca muito tempo a festejar.
A Taça já faz parte da nossa História.
Agora há que tratar do futuro próximo.

14 comentários:

Paulo disse...

Exmo.: LUIS CIRILO este comentário para mim foi dos melhores que postou. Parabéns espero que cheguem onde tem que chegar e que não deixem adormecer o verdadeiro sonho de todos os vitorianos que é chegar la em cima no topo do futebol Português.

Luís André Costa disse...

O El Adoua está de saída? Para onde?

ar disse...

Ainda é cedo para falar em transferências ,nao podemos esquecer a situação financeira,temos que ver os erros passados. Penso que a prioridade será segurar o treinador, depois tentar o empréstimo para a próxima época do Ricardo e do Tiago,seguidamente contratar jogadores jovens com ambição e sem vícios, mas para isso sabemos que temos ter uma pontinha de sorte.
A direção que trabalhe sem pressão e que tenha atenção a certos empresários da bola que são autênticos mercenários pois querem colocar autênticos barretes nas equipas por causa de uma percentagem,não é Emilio Macedo?

Pedro disse...

A estes nomes que referiu que saíram tem de juntar estes que irão sair: Baldé, Douglas e talvez Olímpio.

Abraço

Gabriel disse...

Parabéns Vitória.

luis cirilo disse...

Caro Paulo Px:
Obrigado pelas suas palavras. É em prol desse sonho que escrevi este texto.
Caro Luis André:
Não se sabe o clube mas sabe-se que vai sair.
Caro ar:
A situação financeira preocupa mas a desfazer equipas todos os anos nunca mais saímos da cepa torta. Tem de haver equilibrio entre as necessidades financeiras e as exigências desportivas. Quanto ao Tiago e ao Ricardo(excelentes pessoas e excelentes jogadores)desejo-lhes toda a sorte do mundo. Mas recebê-los por empréstimo seria um erro grosseiro de gestão desportiva. Temos cá muitos jovens com qualidade que são nossos e que nos interessa "fazer" jogadores de alto nível.Não somos uma "incubadora" do Porto.
Caro Pedro:
Espero que não mas temo que sim. Já para não falar do João Ribeiro que também não renovará e do Alex que eventualmente pode por fim á carreira.
Caro Gabriel:
Bem merecidos

miguel silva disse...

Excelente artigo sr Luís Cirilo. Excelente análise à história recente do Vitória. Um alerta para todos os vitorianos. Eu vou continuar a ir ao estádio apoiar o clube em todos os jogos. A nossa presença no estádio é fundamental. Deveriamos ser 30 000 em todos os jogos, mostrando quem somos e o que queremos. Rui Vitória já percebeu bem, e expressa-o bem no seu grito de guerra. Temos de ser o 'espírito' do nosso Vitória; não jogamos mas estamos sempre presentes.

Marco Ribeiro disse...

Caro Cirilo,

Esta é a nossa hora. Vamos certamente estar todos à altura do desafio.

Viva o Vitória!

Abraço

Anónimo disse...

O Alex pode e deve jogar mais um an. O Kanu precisa dele.

General disse...

O que é preciso como todos sabemos, é resolver os problemas financeiros do clube herdados pelo anterior presidente que me escuso a escrever o nome.
Aliás, aproveito a boleia deste blog para dizer a esse beltrano que desta vez ganhou o Vitória. É. O Vitória ganhou!

Posto isto, todos sabemos, até o Sr Cirilo (votei Lista A por sua culpa) que o VSC precisa de tempo até voltar a poder vender caro.
Por isso, vamos todos ter muita calma e ponderação.
Eu tambem quero que fiquem cá todos. Todos.
Mas quem saiu, saiu.
Sejam eles Nuno Assis,Pedro Mendes, Nilson, Vitor Bastos, Rafa, Kaká ou Luis Cirilo.
Sairam todos.
E ganhamos a taça.
Acredito que estamos no caminho certo.
Como penso que ainda é cedo para nos armarmos em novos ricos.
Um abraço e viva o grande Vitória!

luis cirilo disse...

Caro Miguel Silva:
Este triunfo cria a todos uma nova responsabilidade. Sem perder a cabeça nem cometer loucuras o Vitória tem de apostar no futebol. Porque estes adeptos merecem e de decepções já basta.
Caro Marco:
Estaremos certamente á altura. Sempre estivemos. Não é pelos adeptos que alguma vez o Vitória teve momentos maus.
Caro General:
De todo que citou sou o que faço menos falta. Embora um ou outro dos referidos também não façam falta nenhuma. Claro que um triunfo na taça não traz a prosperidade imediata mas traz,isso sim, outras responsabilidades com vista ao futuro. E os adeptos estão fartos de altos e baixos e de alegrias intercaladas com decepções.
O clube tem de vender jogadores, agora e sempre,mas nesta fase de consolidação deve vender o menos possivel e por valores que compensem.
P.S. Ao contrário dos jogadores eu não saí do clube. Apenas da direcção. E nunca precisei de ser director para ser vitoriano

Anónimo disse...

sei que não é um facto muito chamado ao caso, mas acho que já houve outros momentos altos na história do clube, nomeadamente no início e final da década de 60. (4º lugar e final da taça no início, e um fantástico 3º liugar em 69.

Outro ponto alto foram as épocas de 74-75 e 75-76, com a equipa de Jeremias, e a final da taça.

Outro ponto alto, as épocas de Quinito, e tantas outras (Pedroto, Inácio, etc, etc)

Por isso acho que já tivemos muitos pontos relevantes.
Neste momento vivemos uma emoção altissima, que perdurará na história do clube, mas o volume de saídas poderá "minar" irreversivelmente as hipóteses de crescimento.

Anónimo disse...

Caro Luis Cirilo
Não fique pelas meias palavras...
Diga lá quem é o director que só depois de o ser é que passou a ser vitoriano.

luis cirilo disse...

Caro Anónimo:
É verdade o que diz. Foram momentos muito relevantes mas se eu citei estes três foi por do meu ponto de vista terem sido especialmente marcantes em termos de galvanização vitoriana.
É claro que se a equipa vir sair mais jogadores fundamentais, para além dos que já sairam, dificilmente a próxima época corresponderá ás nossas expectativas.
Caro Anónimo:
Eu não sou "certificador" do vitorianismo de ninguém. Apenas disse que eu (e por mim posso falar)nunca precisei de ser director para ser vitoriano.
Ou defender o Vitória onde posso.