Há muito tempo, talvez mais de vinte anos, que digo que o Vitória é um gigante adormecido á espera que o despertem para então poder demonstrar tudo aquilo de que é capaz.
Tem adeptos, tem tradição, tem "escola", tem um óptimo estádio e um dos melhores complexos desportivos do país, tem um ecletismo fantástico que lhe tem valido vários títulos, teve ao longo dos anos equipas de futebol que não temiam comparações com as melhores deste país, teve jogadores de topo, enfim teve( e tem) tudo que é necessário a que o gigante acorde e assuma a sua grandeza.
Mas então o que lhe falta dirão os leitores?
Até ontem faltavam duas coisas.
Ganhar um titulo nacional e assumir um projecto desportivo capaz de com estabilidade ser ganhador de forma continuada.
Agora falta apenas uma.
Porque o ambicionado titulo nacional foi ganho ontem no Jamor face a um adversário poderoso, "abençoado" por todos os poderes do futebol, mas ao qual o Vitória soube ganhar usando as limitadas armas de que dispõe.
Agora falta o resto.
Devo dizer que ao longo de mais de quarenta anos a ver o Vitória houve claramente dois momentos em que pensei que o gigante ia acordar e ficar bem desperto.
Nas épocas de 1985/1986 e 1986/1987 sob o comando de António Morais e Marinho Peres o Vitória construiu uma grande equipa de futebol que se batia de igual para igual com todas as outras e que na segunda dessas épocas lutou pelo titulo (a par de um esplêndida participação europeia)quase até ao fim do campeonato.
Tivesse o plantel mais dois ou três jogadores de boa qualidade e não sei não...
Ainda assim conseguiu o terceiro lugar e abriu nos vitorianos a enorme esperança de que na época seguinte é que seria.
Infelizmente um tremendo erro de gestão desportiva ( a transferência de Paulinho Cascavel para o Sporting) "matou" a equipa ,que quase descia de divisão na época 1987/1988, e voltou a adormecer o gigante.
Que nos anos 90, pese embora as belas equipas de que dispusemos com jogadores como Vítor Paneira, Capucho,Dane, José Carlos,Zahovic, Gilmar, etc nunca permitiu o tal despertar duradouro que nos anos 80 chegou a parecer possível.
De vez em quando o gigante abria um olho, mexia-se um bocado, mas voltava a dormir.
A segunda oportunidade de o acordar a sério foi nos anos de Manuel Cajuda á frente da equipa.
A descida de divisão foi um tremendo abanão nos adeptos que contudo reagiram de forma excepcional, dando ao clube um apoio inigualável, e ajudaram imenso a uma subida que a categoria e argucia do treinador Manuel Cajuda tornou imparável.
No ano a seguir foi o que se sabe.
Um grande campeonato, o segundo lugar roubado pelas arbitragens nos dois últimos jogos fora(Académica e Belenenses), mas ainda assim um inédito apuramento para a pré eliminatória da liga dos campeões face a um adversário perfeitamente acessível.
Tudo isto perante um envolvimento estreito dos adeptos com a equipa e um entusiasmo em crescendo a fazer lembrar os melhores tempos dos anos 80.
Também sabemos o que aconteceu a seguir.
Uma lamentável mistura de interesses pessoais com negócios extra futebol, um mau aconselhamento jurídico a par de uma quebra de relações com o Porto em detrimento de uma inócua parceria com o Benfica, levaram a uma eliminação perfeitamente evitável na Champions a par de um campeonato apenas razoável e que levou a uma detioração irreversível das relações entre direcção e treinador.
E o gigante voltou a adormecer.
Novamente após dois anos em que o despertar parecia poder ser duradouro.
Surge agora a terceira oportunidade.
Ancorada na conquista de uma taça de Portugal longamente ansiada e em cinco ocasiões perdida, num treinador com carisma junto dos adeptos, numa equipa assente em jovens talentosos e em adeptos fortemente motivados.
E o gigante voltou a abrir os olhos.
Sabendo todos nós que para o despertar ser duradouro e ele poder mostrar todo o seu potencial é necessário dar-lhe um alimento vital para que a sua força seja imparável.
E o alimento chama-se vitórias.
Porque é a única forma de ele não voltar a adormecer.
É evidente que uma vitória na taça não transforma um clube cheio de dificuldades financeiras num clube rico.
Mas os prémios arrecadados, a participação directa na fase de grupos da liga Europa, e os valores recebidos pelas transferências já feitas permitirão seguramente uma aposta séria no futebol quer através da manutenção dos jogadores fundamentais que ainda não foram transferidos quer na aquisição criteriosa de reforços.
Saíram Ricardo, Tiago Rodrigues, Soudani e El Adoua quatro titulares indiscutiveis na espinha dorsal da equipa.
Para os substituir há opções válidas na equipa B mas são igualmente necessários reforços de qualidade.
O primeiro dos quais é não deixar sair mais ninguém.
Porque se Rui Vitória na próxima época ao invés de construir uma equipa que possa ambicionar patamares mais elevados tiver de voltar a reconstruir o plantel então, não sendo nada que não possa ser feito, a verdade é que vai ser mais uma "machadada" na crença e na ilusão dos adeptos.
E corremos o sério risco de o gigante voltar a mergulhar num sono profundo que alguns pigmeus aproveitarão para o continuarem a ultrapassar nas conquistas e na ambição.
Repito e concluo.
A vitória na Taça de Portugal, a valia do plantel (A e B) e o envolvimento dos adeptos dão ao gigante adormecido uma terceira oportunidade de voltar a acordar definitivamente.
É bom que a aproveitemos.
Porque pode ser a ultima.
Depois Falamos
P.S. Eu sei que em tempo de justos festejos este artigo pode parecer um pouco "frio".
Mas o futebol de hoje é demasiado dinâmico para permitir que se perca muito tempo a festejar.
A Taça já faz parte da nossa História.
Agora há que tratar do futuro próximo.