sábado, janeiro 19, 2013

Um Drama e três Acto(re)s

Nestes três homens, todos eles ex presidentes do Vitória ,se centra a História do clube nos últimos trinta e três anos e boa parte dos problemas que hoje assolam a instituição.
É também nos seus mandatos, e no que lhes deu origem, que podemos encontrar algumas das razões pelas quais o Vitória tem feridas na sua massa associativa que duram há mais de uma década e que urge cada vez mais cicatrizar.
António Pimenta Machado(APM) foi o presidente que esteve mais anos à frente dos destinos do clube.
Encontrou uma instituição digna, modesta, sem património, utente de um fraco estádio municipal e inquilina de um velho imóvel na rua D. João I onde tinha a sua sede social.
Um clube simpático, pouco incomodativo para os poderes do futebol, detentor de simpatias mais ou menos generalizadas no país mas que raramente "contava" fosse para o que fosse.
Quando saiu, passados 24 anos,o Vitória era dono de um magnifico estádio comprado por preço simbólico ao município, de um modelar complexo desportivo(primeiro clube do pais a ter semelhante infraestrutura), de um pavilhão, de uma sede condigna com o seu estatuto de clube de referência do desporto português.
Com base em guerras justas e injustas, em atitudes polémicas e posições desassombradas, o Vitória ganhou notoriedade nacional, alguma influência nos meandros do futebol e alguns inimigos de estimação.
Afirmou o seu estatuto europeu mas não ganhou títulos (excepto a supertaça) nem uma estabilidade de influências que era vital para o salto qualitativo.
Tal como o "cavaquismo", seu contemporâneo, o "pimentismo" apostou com sucesso no betão mas muito menos na educação.
Neste caso de uma classe dirigente que lhe pudesse dar continuidade sem sobressaltos.
Ao progressivo isolamento de APM, até por força da mudança de residência para Lisboa, respondeu uma cada vez maior vontade de um "ajuste de contas"por parte de alguns inimigos que criara na sociedade vimaranense que nunca digeriram a forma de ser e de gerir de APM nem a visibilidade nacional que alcançara e que despertava invejas várias.
O afastamento físico de APM, alguns erros de estratégia do próprio, a par de decisões controversas e de resultados desportivos periclitantes criaram o "caldinho de cultura" necessário a encostá-lo á parede e colocá-lo na porta de saída.
Bastou depois a questão do "saco azul" , e todas as manipulações feitas pelos pseudo salvadores da "pátria vitoriana" em volta do assunto incluindo grande peças oratórias em AG e denuncias á PJ, para APM sair da presidência.
Abrindo  a primeira grande fractura na família vitoriana.
Entre os que se regozijaram com a sua saída e os que nunca perdoaram aos conspiradores quer a saída de APM quer as manobras conducentes a esse fim que quase destruíram o Vitória.
E chegou Vítor Magalhães(VM).
Depois de uma campanha de "venda" da sua imagem muito bem conduzida e que o apresentava como o salvador do Vitória.
Se Pimenta era como Cavaco autoritário, VM era como Guterres o homem da distensão e do diálogo.
E a verdade é que a sua entrada(com uma votação esmagadora) animou os vitorianos, fez disparar o número de sócios e criou expectativas muito positivas.
Contudo VM cometeu, acredito que de boa fé, um erro de palmatória.
Apareceu ao "colo" daqueles que tinham conspirado activamente para derrubar APM.
E com isso manteve feridas abertas e solidificou uma parcela de vitorianos "pimentistas, de dimensão não depreciável, que nunca o apoiaram e mantiveram uma oposição constante.
Enquanto os resultados desportivos correram bem( a primeira época) VM aguentou-se sem problemas e mantendo um sólido apoio da maioria dos associados.
Quando, em parte por culpa própria, o futebol fraquejou até á impensável descida de divisão a base de apoio dos contestatários não parou de aumentar e a queda de VM tornou-se uma questão de tempo.
Devo dizer hoje, e sem prejuízo de manter algumas criticas que então lhe fiz, que VM teve pouca sorte á frente do Vitória. Porque cometeu erros, é verdade, mas foi um presidente que apostou em dotar o clube de boas equipas e que desceu de divisão com um plantel que em condições normais iria tranquilamente á Europa.
Tal como APM também VM saiu antes do final do mandato.
Deixando muita gente satisfeita mas alguns descontentes com a sua saída.
E chegou Emílio Macedo da Silva(EMS).
Que nunca teve o apoio, nem nada que se parecesse,que tinham tido no passado APM e VM.
Eleito por falta de alternativa credível, visto como um mal menor, nunca despertou entusiasmos nem teve um base de apoio sólida denotando sempre uma enorme falta de empatia com uma "família" que de facto não era a dele.
Nem começou mal,antes pelo contrário,conseguindo a subida de divisão e depois o terceiro lugar.
Mas foi o seu "canto de cisne".
A partir daí foram erros atrás de erros, más opções atrás de má opções, ainda ganhou a reeleição mas não propriamente pelos associados acreditarem que era uma boa solução.
Onde APM "era" Cavaco e VM era "Guterres, EMS foi "Sócrates"!
De inicio prometia muito mas depois não só não resolveu  nenhum dos principais problemas como os agravou a todos.
Tal como os seus antecessores saiu antes do fim.
Mas ao contrário deles não deixou saudosistas.
Em Guimarães é fácil encontrar quem tenha saudades de APM e não é difícil encontrar quem simpatize com VM e ache que ele teve pouca sorte.
Apoiantes de EMS é que me parece impossível encontrar um único!
Mesmo entre os que nele votaram ou das suas listas fizeram parte.
Hoje o Vitória tem dois problemas dramáticos para resolver:
Um é o financeiro.
O outro o da relativa desunião da massa associativa causada por uma década de divergências e polémicas, resultados desportivos abaixo do esperado e a consciência de que o Vitória perdeu muito tempo enquanto o rival do lado aproveitou os nossos erros de estratégia para crescer e alcançar patamares que normalmente nunca estariam ao seu alcance.
A saída para este problema parece-me que passa por duas vertentes:
Uma é a equipa A ganhar jogos, garantir classificações compatíveis com a nossa dimensão e voltar a entusiasmar os adeptos.
A outra é ultrapassar as feridas que vem de trás e olhar em frente.
Mas para isso é preciso que sobre o passado não fiquem duvidas, suspeições ou mal entendidos.
Nas vitórias desportivas e na transparência do relacionamento com os sócios está o "ovo" de Colombo de um Vitória que regresse ao seu futuro.
Depois Falamos

8 comentários:

Unknown disse...

Para o Vitoria e para os socios faz falta algo mais... Para crescer em numaro de socios e nao so... Somos grandes de mais para nao ter titulos... Sei que nem sempre e facil, mas vale apena lutar...

Unknown disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Francisco Guise disse...

"Mas para isso é preciso que sobre o passado não fiquem duvidas, suspeições ou mal entendidos."

Cirilo, vou plagiar-te sobre o que acima descreves e com o qual concordo totalmente.
Depois falamos...

Francisco Guise

Anónimo disse...

Vítor Magalhães não foi mau presidente , foi sim vitima de alguma ingenuidade... e foi comido de cebolada e absorvidos em esquemas afectos a quem viria a ele suceder.
Faltou-lhe a seu lado um homem do mundo do futebol, que conheça as suas manhas e esquemas obscuros, pois a nível de gestão foi excelente. E bem relembrado o plantel que disponibilizou para o clube, na época em que descemos. Claramente a nível individual, foi o melhor de sempre... basta ver o numero de internacionais na equipa... mas como disse, foi tão ingénuo de não ver e perceber o que naquela equipa estava tão minado!

Pedro disse...

Caro anónimo,

Concordo em parte com o sr, diz, mas discordo totalmente quando considera o melhor plantel de sempre, o que desceu. Não era sequer a melhor equipa e muito menos o plantel. Aliás, diga-me o qual o percurso dessas estrelas??? Tinha alguns bons jogadores, um ou outro excelente, como equipa nunca funcionou e era extremamente desequilibrado. No entanto, considero inadmissível ter descido.

Abraço

Abraço

luis cirilo disse...

Caro Paulo:
Lá chegaremos estou convicto.
Mas temos de ajudar todos!
Caro Francisco:
Eu sei que concordamos. Alías acho que todos os vitorianos concordam e desejam isso.
Caro Anónimo:
Grosso modo estou de acordo consigo embora não ache o plantel assim tão bom. Chegava para ir à Europa mas já tivemos bem melhor.
Caro Pedro:
Exactamente

o grande disse...

Muito bom artigo.
O paralelismo foi genial e a conclusão também.
Como foi apontado, houve algum exagero no 'melhor plantel de sempre', mas já foi esclarecido.

Bom trabalho.

luis cirilo disse...

Caro o grande:
Muito obrigado.
Seguramente que continuarei a pensar e a escrever sobre o Vitória