A Equipa Fundamental

O projecto desportivo em curso no Vitória tem, como qualquer projecto com pés e cabeça teria, no topo das prioridades a equipa A que jogando a 1ª liga e dando sequência a uma longa História do clube será sempre a prioridade das prioridade em termos de objectivos desportivos e financeiros.
Mas a equipa fundamental para o sucesso desse projecto é a equipa B.
Vamos ao diagnóstico:
O Vitória tem uma longa tradição que remonta a finais dos anos 60 de ter uma boa formação nas camadas jovens a par de um "talento" inato para desperdiçar sucessivas "fornadas" de jovens jogadores que andaram durante décadas a fazer a "felicidade" de clubes vizinhos e não só.
As razões eram várias: desde haver dinheiro para contratar jogadores "feitos" a uma certa falta de coragem dos treinadores para apostarem em jovens passando pela elevadíssima exigência dos adeptos em relação aos da "casa" que eram sempre avaliados com excessivo rigor.
Obviamente que era um perfeito contra senso, a rondar o disparate, que um clube que todos os anos gastava verbas significativas na sua formação dela não tirasse em regra proveito nenhum.
Quando a actual direcção tomou a decisão de apresentar uma candidatura aos orgãos sociais do clube sabia (aproximadamente) qual era a situação financeiro/desportiva do mesmo.
Que apontava para a necessidade de reduzir custos, rejuvenescer o plantel e aproveitar até ao tutano uma dúzia de jovens que rodando noutros clubes tinham demonstrado a qualidade necessária a poderem ser apostas de médio prazo na principal equipa do clube.
Mas para isso era necessário juntá-los e dar-lhes condições de trabalho equiparáveis à equipa a que estariam destinados.
Por outro lado e na conclusão de uma análise aprofundada do mercado futebolistico dos custos/beneficio da importação de jogadores de outros países e do trabalho já existente em termos de formação e de prospecção percebeu-se que havia uma "janela" de oportunidade para um clube que quisesse apostar seriamente no jogador português num projecto de médio prazo que tivesse como objectivo final a constituição de um plantel profissional da equipa A maioritariamente português e formado no clube.
Uma espécie adaptada de Atlético de Bilbau á minhota.
Por isso se tomaram três decisões estratégicas.
Renovar contrato com Rui Vitória que para além de ser um dos melhores treinadores portugueses é também um homem com sensibilidade para a formação e cultura desportiva e pessoal para compreender, abraçar e desenvolver um projecto deste tipo.
Criar a equipa B com base nessa dúzia de jogadores que estavam a rodar, com a promoção de seis jogadores que subiam a seniores (mas o "malandro" do Ricardo escapuliu-se logo para a A e por lá ficou) e a contrataçaõ cirúrgica de jogadores que se integrassem nos requisitos previsto para a equipa B. Jovens (menos de 23 anos), com enorme margem de progressão, bem formados desportiva e pessoalmente, preferencialmente portugueses e a jogarem em Portugal.
Assim chegaram ao Vitória o Tiago Almeida (internacional nos escalões jovens)o Kanu e o Índio(brasileiros mas a jogarem em Portugal) jovens de quem, tal como dos outros , se espera muito.
A terceira decisão foi contratar Luiz Felipe e a sua equipa técnica.
Conhecedores profundos do clube, onde já tinham trabalhado com sucesso na formação, e de muitos dos jogadores com quem iam trabalhar  que tinham ajudado a fazer nos anos anteriores reuniam as caracteristicas necessárias por a equipa B a funcionar depressa e bem.
A isso se juntava um indiscutivel carisma do técnico junto de muitos dos jogadores que o conheciam e por ele tinham imenso respeito porque sabiam bem do que a "casa" gastava.
Foram três decisões absolutamente correctas e que na parte que me toca voltaria a tomar se a isso fosse chamado.
E estes meses de trabalho tem demonstrado esse acerto.
Excelente relacionamento entre técnicos, perfeita integração de todos os jogadores no espírito de um grupo único, magnifica resposta dos jogadores da B quando chamados á A.
Tudo isto complementado pelo trabalho "invisível" de dois novos departamentos ( o DAR e o DAS) a cujo contributo se espera que o futuro faça justiça e que tem sido importantes para complementar o trabalho de campo das equipas técnicas.
A par disso procedeu-se a uma enorme remodelação nos escalões de formação de molde a que o projecto desportivo para o futebol profissional começasse a desenvolver-se desdes as escolinhas (projecto ADN) e fosse assumido por todos os escalões de formação até aos juniores.
Simultâneamente, e já a pensar nas equipas B dos próximos anos, foram-se celebrando contratos profissionais com alguns dos jovens mais prometedores (Miguel Oliveira, Júnior, Didi) estando outros já na calha para o mesmo fim enquanto o departamento de prospecção ia propondo nomes para reforços possíveis das equipas A e B não só no mercado  de Janeiro como também para a próxima época.
É importante recordar tudo isto nesta altura porque existindo um projecto desportivo em andamento , e sendo ele nuclear para o futuro competitivo do futebol do clube, é necessário defender o seu ponto mais frágil que é neste momento a equipa B.
As razões são conhecidas.
Sendo a equipa A a prioridade das prioridades, e estando ela severamente desfalcada pelas razões que se conhecem, tem sido a B o verdadeiro "pronto socorro" fornecendo alguns dos seus mais destacados jogadores para reforçarem as opções de Rui Vitória.
Claro que isso se está a pagar duramente em termos de resultados.
A titulo de exemplo bastará ver que na Covilhã o técnico Luiz Felipe se viu privado de cinco jogadores (quatro deles habituais titulares) e para o banco levou apenas cinco opções porque não havia mais!
E por isso a equipa B está neste momento em lugares de descida.
Devo dizer que em condições normais não estarei preocupado.
Com o fim da CAN e o regresso á competição de Dinis, Amorim, André e Alex as coisas voltarão a compor-se  e a equipa B irá muito a tempo de garantir a permanência (em condições normais)nunca esquecendo, contudo, que para todas estas premissas se confirmarem ainda faltam duas ou três semanas e os jogos consequentes.
Especialmente se nesta reabertura de mercado for possível ir ao... mercado e contratar dois ou três jogadores ,para aumentarem o leque de opções do treinador, isso permitirá evitar que as próximas semanas sejam de permanente aflição face ás convocatórias para a equipa A.
A equipa B, esta e as dos próximos anos, são decisivas para o sucesso do projecto desportivo do Vitória assente na formação, no jogador português e no principio de formar/mostrar/vender.
Mas para isso é muito mais importante a equipa B manter-se na II Liga do que , por exemplo,a equipa A apurar-se para uma liga Europa que nesta fase complicada de relançamento do clube será sempre ilusória porque necessariamente breve.
Este é dos tais casos em que o futuro se ganha no presente.
E essa deve ser a grande prioridade do Vitória.
Depois Falamos.

P.S. Claro que nós, adeptos, também podemos dar uma boa ajuda. Comparecendo cada vez mais aos jogos da equipa B e apoiando-a com aquele entusiasmo que quando queremos...sabemos!