A taça de Portugal é, todos o sabemos, uma prova diferente que tendo um sortilégio muito próprio (o chamado “espírito” de Taça) a torna particularmente atraente para todos os clubes que nela participam.
Também porque permite, ao contrário de competições em que a regularidade é o factor predominante, que equipa mais fracas num dia de inspiração se imponham a equipas mais fortes e consigam ultrapassá-las tornando-se naquilo a que se convencionou chamar os “tomba gigantes”.
Aliás a isso se deve o facto de em Portugal apenas cinco equipas terem ganho o campeonato enquanto a Taça já teve doze vencedores diferentes a saber Benfica,Porto,Sporting,Boavista, Belenenses (os tais cinco campeões), Vitória, Académica, Vitória de Setúbal, Braga,Leixões ,Beira Mar e Estrela da Amadora.
É uma prova muito mais “democrática” e daí advém também boa parta da sua enorme popularidade.
Não sendo também despiciendo considerar que o facto de a Taça levar aos quatro cantos de Portugal as equipas da primeira liga, permitindo que nalguns pontos do país se vejam jogar emblemas e jogadores que em condições normais nunca lá jogam, se torna também uma atracção suplementar para os portugueses dedicaram tanto carinho e atenção a esta prova.
Reconhecendo isso, e muito bem, a FPF teve o cuidado de incluir no regulamento da prova uma alínea segundo a qual na terceira eliminatória (a primeira em que participam equipas do primeiro escalão) as referidas equipas da primeira liga jogam obrigatoriamente fora quando o adversário que lhe tocar em sorteio seja de um escalão inferior.
Com isto se pretende fomentar a tal “festa” da Taça e a promoção do futebol levando as equipas de maior valia a visitarem estádios onde de outra forma dificilmente ou nunca iriam e com isso fomentando também a aparição dos tais “tomba gigantes” que dão um sabor especial à prova.
Mas estamos em Portugal.
Onde há clubes que se acham os “donos disto tudo” e que com a ajuda das televisões e da subserviência da generalidade dos dirigentes dos clubes com quem jogam rapidamente transformaram a boa ideia da FPF numa perfeita inutilidade dando cabo do “espírito” de taça e fazendo do fair play existente na tal alínea uma palavra vã.
Com argumentos de maior receita, de falta de segurança nos estádios, ou de não terem estádios à altura de receberem jogos com equipas de escalões superiores convenientemente ajudados pelo factos de nalguns desses estádios não existirem realmente condições para as transmissões televisivas rapidamente os jogos de alguns clubes primodivisionários deixaram de ser onde deviam para passarem a ser onde lhes deu mais jeito.
E foi assim que o Porto em vez de jogar em Évora foi defrontar o Lusitano ao Restelo, foi assim que o Benfica em vez de jogar em Olhão (onde há apenas três anos se jogava para a primeira liga) jogou com o Olhanense no estádio Algarve, foi assim que o Braga em vez de ir a S. Martinho do Campo fez o jogo em Vila das Aves entre outros exemplos possíveis desta época e de épocas anteriores.
Ou seja em vez de eliminatórias da Taça tivemos treinos dos clubes mais fortes.
Honra seja feita, porque eles sim serviram o legítimo interesse do nosso futebol, aos dirigentes do Vasco da Gama da Vidigueira, do Oleiros, do Torcatense e do Vilaverdense ( e este clube, fruto da coragem da sua direcção, acabou por ser “tomba gigantes”) entre outros que souberam dizer não a pretextos mentirosos, souberam por a verdade desportiva acima do interesse financeiro, não”venderam” o resultado aceitando jogar onde dava jeito ao adversário e receberam Vitória, Sporting,Marítimo e Boavista nos seus recintos dando com isso também um enorme sinal de respeito pelos seus adeptos.
Vitória e Sporting passaram sem dificuldades, Marítimo sofreu mas passou e o Boavista caiu em Vila Verde, mas de uma coisa todos podem ficar certos; é que foram jogos em que a verdade desportiva prevaleceu e o respeito pelas regras do sorteio foi plenamente cumprido.
Noutros, com outros protagonistas, foi a habitual “xico espertice” que corrói o nosso futebol e que põe cada vez mais em causa a verdade desportiva das suas competições.
Uma nota final sobre o fair play da Taça e especificamente no jogo entre o Vasco da Gama da Vidigueira e o Vitória.
A partida disputou-se na Vidigueira, num estádio de pequena lotação (sabendo-se que o Vitória se faz sempre acompanhar de numerosos adeptos) e com piso sintéctico sem que da parte dos dirigentes locais tivesse sido manifestada qualquer intenção de jogarem noutro lado e sem que da parte dos dirigentes vitorianos existisse qualquer diligência nesse sentido.
Muito bem uns e outros porque Taça é Taça e quem acha que não tem recintos adequados a receber adversários de escalão superior então mais vale nem se inscrever na prova.
Fez-se o jogo, o Vitória ganhou naturalmente e com goleada à mistura, mas isso não obstou a que no final do jogo ambas as equipas se juntassem no centro do relvado para uma foto de família.
Isto sim é espírito de taça, isto sim é “fair play”, isto sim é defender o futebol.
P.S São conhecidas as imagens ,posteriores ao jogo, de um bem animado jantar entre os jogadores do Vasco da Gama da Vidigueira e adeptos do Vitória todos em alegre confraternização num restaurante local.
Fosse com outros clubes e seria notícia de telejornal.
Como não foi resta o consolo de sabermos que até um pequeno clube alentejano dos distritais de Beja pode, em termos de desportivismo, ser tão grande como os maiores.
Provavelmente maior até...
E que os adeptos do Vitória, tantas vezes tão mal tratados pela imprensa, se limitam em todo o lado a saberem retribuir na exacta proporção da forma como são tratados.
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