segunda-feira, outubro 23, 2017

Cinco

O meu artigo desta semana no zerozero.

O futebol português vive, e dá-se bem, num “microclima” criado pelos seus adeptos, dirigentes e poderosamente estimulado pela comunicação social e por largas décadas de habituação segundo o qual o futebol é uma espécie de centro do mundo e três dos seus clubes mais a selecção e alguns jogadores excepcionais (Eusébio, Futre, Figo e Ronaldo os mais destacados de todos) são o que mais importa e tudo o resto é secundário e pouco ou nada importa.
E por isso televisões ,rádios e jornais dão o espaço que se sabe a essas realidades, fazem programas em que apenas tem assento adeptos desses três clubes, tem colaboradores na imprensa escrita que comentam esses clubes defendendo o seu e atacando os outros dois e vive-se no aparentemente melhor dos mundo com as nossas polemicazinhas semanais, as discussões em torno de árbitros e vídeo-árbitros (nunca com a preocupação da verdade desportiva mas sempre com a ansiedade de saber que os outros não são mais beneficiados que o “nosso”), as revelações de e-mails que mostram o estado a que isto chegou.
Claro que para amenizar as agruras desse “microclima” há sempre o recurso aos feitos da selecção (que felizmente para ela pouco tem a ver com a realidade do futebol que representa…), aos golos e recordes do Ronaldo, à carreira vitoriosa de José Mourinho, à ascensão de Marco Silva e Leonardo Jardim e às carreiras de Bernardo Silva, André Gomes, Nelson Semedo, João Moutinho e mais um ou outro jogador português que se destaque na sua carreira ao serviço de clubes da primeira divisão do futebol europeu.
E depois há a realidade.
A dura e crua realidade de que esta semana tivemos mais uma brutal evidência nos jogos europeus dos clubes portugueses.
Cinco jogos e cinco derrotas!
O Benfica, tetra campeão em título, recebeu um Manchester United que sendo uma equipa forte não é hoje tão poderosa como há meia dúzia de anos, e apenas o caricato golo sofrido por um jovem guarda redes talentoso lhe permitiu desviar as atenções de uma realidade que entra pelos olhos dentro.
A equipa de ano para ano está mais fraca graças à má gestão desportiva do seu presidente, que vende os melhores jogadores sem cuidar de contratar substitutos à altura, e neste jogo com os ingleses não só não fez um remate de jeito à baliza de De Gea como deu provas de uma fraqueza competitiva bem espelhada em três jogos e três derrotas na Liga dos Campeões.
O Sporting em Turim, face a uma Juventus que é vice campeã europeia mas está mais fraca que na época passada, conseguiu equilibrar o jogo em largos períodos (e na segunda parte até esteve por cima durante bastante tempo) mas tal como no ano passado em Madrid os últimos minutos foram-lhe fatais.
E desta vez Jorge Jesus estava no banco…
A verdade é que a tentação tão portuguesa de defender resultados nos últimos minutos saiu mais uma vez mal aos “leões” que agora andam de calculadora na mão a fazerem contas à passagem à fase seguinte.
Em Leipzig um Porto que tinha vencido em Mónaco na jornada anterior, de forma convincente, deu-se mal com uma típica equipa alemã de futebol atlético assente em forte compleição física e bons índices técnicos, recheada de bons jogadores, que venceu com mérito indiscutível.
A isso se juntou o “mistério” Casillas (cujos efeitos ainda estarão por conhecer na plenitude) e uma gestão do jogo e das substituições por Sérgio Conceição que foi francamente errada e em nada melhorou a equipa.
Com dois jogo em casa o Porto tem francas hipóteses de passar mas o aviso ficou dado.
Em Braga o Sporting local recebeu os búlgaros do Ludogorets e a expectativa, face à boa carreira na prova, ia no sentido de que com maior ou menor dificuldade os bracarenses acabassem por vencer o jogo e consolidarem a liderança do seu grupo.
Puro engano.
Os visitantes foram sempre superiores, venceram com mérito, e para o Braga nada estando perdido foi ,ainda assim, um duro encontro com a realidade.
Finalmente o “meu” Vitória.
Que jogando em Marselha, face a um Olímpico que não é nada do que foi no passado e num “Velódromo” longe de ser o inferno de outros tempos (apenas 14.000 espectadores num recinto com capacidade para 65.000 e com 2000 a serem apoiantes vitorianos), sabia que precisava de pontuar para continuar a depender de si próprio quanto ao apuramento.
A equipa até começou bem , jogando desinibida e procurando o golo, conseguiu adiantar-se no marcador na sua melhor jogada de todo o jogo e depois sofrendo o empate e assistindo a ligeira supremacia marselhesa conseguiu ir para intervalo com tudo em aberto.
Na segunda parte...desapareceu.
E por isso o segundo golo dos franceses não só sentenciou a partida como tornou a continuidade vitoriana na Liga Europa algo que apenas a Fé permite continuar a ter como possível.
Uma derrota evitável, face a um adversário ao alcance do Vitória, explicável em grande parte pelas lacunas do plantel vitoriano e em pequena parte pelas substituições desastradas feitas por Pedro Martins no decorrer do jogo.
Em suma cinco jogos e cinco derrotas!
Vitória e Benfica “arrumados” , Sporting com futuro muito incerto e Porto e Braga com boas hipóteses de continuarem em prova mas com avisos claros que tem de fazer mais e melhor.
Uma safra pouco animadora convenhamos para esta fase das competições europeias.
E é sobre esta realidade que dirigentes, comentadores, cronistas e adeptos devem meditar.

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