Por um lado idolatra-se, cria verdadeiros mitos, mas por outro não lhes dá em quantidade e qualidade verdadeiras oportunidades de afirmação politica.
Não é um problema exclusivo do partido, em boa verdade, já que no nosso sistema politico se encontra disseminado por todas as forças partidárias..
Mas é o problema do PSD que me importa, é o problema do PSD que gostaria de ver resolvido,é o problema do PSD que deve merecer o empenho e a determinação de todos que não se reveêm neste absurdo estado de coisas.
Desde os primórdios do partido que as mulheres ocuparam sempre um espaço muito próprio no imaginário e na adoração dos militantes.
Helena Roseta e Amélia Azevedo logo nos primeiros anos,na implantação do partido e consolidação da democracia.
Depois Conceição Monteiro, a fiel secretária de Francisco Sá Carneiro, que especialmente depois da morte do “Pai fundador” adquiriu um estatuto de quase veneração oriundo dessa lealdade e dedicação por todos reconhecida.
Depois as “irmas gémeas” do cavaquismo, Leonor Beleza e Manuela Ferreira Leite, que no governo e no PSD ocuparam sempre cargos de grande relevância e mereceram total apoio das bases mesmo quando, por força dessas funções governamentais, eram extremamente impopulares fora do mundo laranja.
E outras poderiam ser citadas, como Virgínia Estorninho, pela forma vibrante e genuína como nos órgãos do partido representavam o sentir das bases.
Não será grande risco afirmar que em nenhum partido como no PSD foi dado tal estatuto de previlégio ás suas mais notáveis militantes.
O problema vem a seguir.
E é grave !
Nas dezanove distritais não há uma única mulher a ocupar a presidência.
Em cerca de 300 concelhias existem apenas 21 mulheres como presidente.
Em 158 Câmaras de presidência laranja apenas 9 são dirigidas no feminino.
No grupo parlamentar na Assembleia da República são apenas 5 as deputadas.
È um cenário desolador que envergonha qualquer social democrata e nos remete para rácios do século 19 !
O congresso de Torres Vedras apenas confirmou o panorama.
Em 89 dirigentes nacionais eleitos apenas 7 são mulheres.
E nos distrito de Braga, aquele que particularmente mais me interessa, o cenário não é diferente.
Na distrital,nas concelhias , nas câmaras não há mulheres a presidir.
Deputadas…também não há.
Nos órgãos nacionais nem uma para amostra.
E nos órgãos concelhios e distrital apenas participações residuais.
Todos sabemos, com maior ou menor esforço, como chegamos aqui.
Já todos ouvimos falar de choques culturais, de mentalidades, de disponibilidades, da questão maternal, do maior ou menor interesse pela causa politica.
Todos conhecemos as barreiras e inibições que em muitos pontos do país ainda impedem a livre participação das mulheres na politica.
Mas o sabermos como chegamos aqui apenas é importante na óptica de sabermos como vamos sair daqui.
E depressa.
Em 2009, por força das quotas, as mulheres tem de ocupar pelo menos um terço das listas (autárquicas, parlamentares e europeias) em lugares naturalmente elegíveis.
E embora pessoalmente considere que as quotas são uma forma de discriminação, também considero que os partidos em geral e o PSD em particular bem as merecem !
Porque tiveram 30 anos para evoluírem, para se modernizarem, para alinharem com a Europa nesta matéria.
Deixaram andar.
Continuaram a olhar para as mulheres como votantes, trabalhadoras nas campanhas, a quem de vez em quando dava jeito colocar nas mesas e nos órgãos para enfeitarem por um lado e para a apagarem a má consciência por outro.
Agora o “mundo” vai-lhes cair em cima.
Só no distrito de Braga, para as próximas autárquicas, o PSD vai ter de colocar nas listas mais de duas mil mulheres sendo que 600 ou 700 virão a ser eleitas.
Para Câmaras, Assembleias Municipais e Freguesias.
Quem conhecer minimamente o partido no distrito, as suas secções e essencialmente as suas bases, saberá que é um desafio tremendo e extremamente difícil de ultrapassar.
Não porque não haja mulheres e bem capazes de desempenharem os cargos para que vierem a ser chamadas.
O partido no distrito sempre teve uma grande implantação nas mulheres, sempre contou com elas,com a sua dedicação e militância para muitas das vitórias que alcançou.
O problema é que não lhes criou hábitos de participação, não as incentivou, não lhes deu estímulos para se dedicarem em continuo á causa politica.
Vai ter que fazer tudo de uma vez, em pouco tempo, e ultrapassando as naturais desconfianças de quem achará que vai ser chamada só porque a Lei obriga.
È uma tarefa ciclópica.
Que do meu ponto de vista deve ser levada a cabo com a máxima participação de quem acredita na intervenção das mulheres na vida politica e com a mínima visibilidade para quem nada fez para evitar que se chegasse a este estado de coisas.
Acredito que o novo líder do partido estará atento a este problema e decidido a contribuir para a sua solução.
Mas também creio que esta é uma causa a que nenhum de nós pode virar as costas e para a qual ninguém está dispensado de contribuir activamente.
Porque é justa.