segunda-feira, dezembro 09, 2024

Limites

Não sou socialista, nunca votei PS, nunca votei em Mário Soares.
Bem pelo contrário a única vez em que me abstive desde que tenho idade para votar foi nas eleições presidenciais de 1991 entre Mário Soares e Basílio Horta porque era absolutamente incapaz de votar em qualquer um dos dois.
E nesse tempo Basílio Horta era do CDS sendo posterior a sua conversão ao socialismo.
Não gostei da descolonização, da qual Mário Soares foi um dos responsáveis e durante a qual proferiu afirmações lamentáveis, por todas as imensas desgraças que ela acarretou para milhares e milhares de pessoas que tiveram, de fugir de Angola, Moçambique e Guiné mas também para quem lá ficou sujeito a ditaduras marxistas e a guerras civis intermináveis.
Aceito que se diga que no contexto de então seria difícil fazer muito melhor mas era perfeitamente evitável que se tivesse feito tão mal!
Não gostei da sua acção como líder partidário em que bastas vezes passou e ultrapassou os limites da tolerância como o fez repetidamente em relação a Francico Sá Carneiro alimentando a calúnia da dívida ao BESCL e pronunciando-se d eforma abjecta sobre a sua situação matrimonial.
Não gostei da sua actuação nas várias vezes em que foi primeiro ministro e nas quais nunca demonstrou a competência que é necessária ao cargo e a capacidade de fazer frente aos graves problemas do país razão pela qual dois dos seus governos acabaram com a necessidade de recorrer ao FMI.
Não gostei da sua presidência em que se revelou um presidente de facção, um quase comissário político do PS, um lider da oposição a governos democraticamente eleitos que procurou fragilizar e desacreditar tanto quanto lhe foi possível.
E também não gostei, já agora, dos estranhos negócios com Macau feitos por gente que lhe era muito próxima.
Em Mário Soares apreciei , isso sim, o homem de cultura, o escritor de livros, o resistente corajoso à ditadura e o democrata que foi o líder civil do 25 de Novembro impedindo que Portugal caisse numa ditadura marxista.
A História o julgará com o distanciamento temporal que se impõe como o faz em relação a qualquer político.
E por isso nesta altura em que se celebram os cem anos do seu nascimento, gostando-se mais ou menos da sua actuação, ou não se gostando mesmo, impõe-se respeito por quem serviu o país dentro daquilo que consideraria ser o melhor, quem deu um contributo importante para hoje vivermos em Democracia e Liberdade e evitando, acima de tudo, juízos e considerações que amarrem ao contexto político do momento uma figura que está necessariamente acima dele.
E, é claro, evitando o insulto, a calúnia, a repetição de mentiras estafadas.
Porque se hoje há a liberdade de se poder dizer o que se quer e apetece, mesmo ultrapassando todos os limites da ética política e da boa educação cidadã, isso também se deve em boa parte a Mário Soares.
E aqueles que optam por esse caminho deviam levar isso em consideração.
Depois Falamos.

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