Riopele

A propósito desta evocação do zerozero sobre os 65 anos decorridos desde a fundação do já extinto Grupo Desportivo Riopele vieram-me à memória algumas recordações sobre o mesmo.

Desde logo porque tendo jogado apenas um ano na primeira divisão era bem conhecido pela qualidade do seu futebol já na segunda que o tornava num adversário difícil para qualquer equipa mesmo de escalão superior.

E isso devia-se a um grande treinador que lá esteve durante muitos anos chamado Ferreirinha e que merecia ter feito uma carreira bem superior no nosso futebol porque era de facto avançado para o seu tempo.

Muitos anos mais tarde, num feliz reencontro em Santo Tirso num particular entre Tirsense e Vitória, Ferreirinha dir-me -ia que o seu Riopele foi a primeira equipa do mundo a jogar no "tiki taka" que Guardiola celebrizaria no Barcelona o que não deixava de ter alguma correspondência com a realidade ressalvadas as diferenças.

Aliás o Riopele era cliente habitual dos primeiros lugares da segunda divisão fraquejando habitualmente nos últimos jogos  por razões, diz a lenda, que se prendiam com a vontade da administração da empresa que entendia que a primeira divisão era muito dispendiosa.

Era também o tempo, fim dos anos sessenta e década de 70, em que o Riopele era parceiro habitual dos treinos de conjunto do Vitória nas tardes de quinta feira pelo que tive oportunidade de os ver jogar muitas vezes e aquilatar da sua qualidade.

Quis o destino, em boa hora, que durante alguns anos nas férias de Verão na Póvoa de Varzim (onde passava o mês de Julho ) tenha conhecido Ferreirinha através dos filhos que eram mais ou menos da minha idade e com quem jogava grandes futeboladas acompanhados por outros miúdos da nossa idade.

No intervalo desses jogos por vezes íamos para a barraca do Ferreirinha para jogarmos as cartas com ele ou assistirmos a jogos dele com outros colegas de profissão e jogadores que por lá apareciam e faziam da sua barraca uma verdadeira tertúlia futebolística.

Pelo que tive nesse tempo, entre 1970 e 1976 tanto quanto me lembro, algumas horas de boa conversa com ele sobre futebol.

Depois as épocas futebolísticas passaram a ter início mais cedo e em vez de Julho os jogadores e treinadores faziam férias em Junho e o Ferreirinha deixou de alugar barraca na praia no mês de Julho e só o voltei a reencontrar muitos anos mais tarde no referido jogo em Santo Tirso.

Era um notável conversador.

E numa das conversas que tivemos, em Julho de 1975, lembro-me de falarmos sobre dois excelentes jogadores que ele tinha no Riopele chamados Vital e João, que depois fariam carreiras muito interessantes , com o primeiro a jogar no Porto, Benfica e Bétis de Sevilha e o segundo a jogar durante vários anos no Varzim na primeira divisão. O primeiro era ponta de lança e o segundo um talentoso médio de ataque.

E lembro-me dessa conversa e da data em que foi porquê?

Porque tendo eu dito que eram bons para o Vitória o Ferreirinha, com aquela sabedoria de "velho" caminhante do nosso futebol, respondeu-me que o Vitória os podia levar se em troca cedesse ao Riopele o Jeremias e o Abreu!

Passados dois ou três dias soube-se que o Jeremias tinha sido transferido para o Espanhol de Barcelona pelo que quando cheguei à barraca do Ferreirinha ele mostrou-me o jornal com a notícia e rematou sorrindo:

"Oh Luís lá se foi o nosso negócio".

Memória de um clube simpático e de um senhor do nosso futebol à boleia deste artigo do zerozero.

Depois Falamos.

https://www.zerozero.pt/text.php?id=11384&fbpic=664435&fbclid=IwAR3LW0gDgYvjIRpmlSFAKaq3VODJle2ioID_wXfREx0BjAAgsLGl70-JfF8