quinta-feira, setembro 07, 2023

Rivalidades

 O meu artigo desta semana no zerozero.pt

Costuma dizer-se, e acho que com absoluta razão, que as rivalidades entre clubes são o sal e a pimenta do futebol e ajudam a contribuir para que este seja o desporto mais praticado e visto em todo o planeta.

Em bom rigor até há rivalidades noutras modalidades que são também famosas e contribuem para o seu prestígio e bastará lembrar os exemplos de Chcago Bulls e Los Angeles Lakers no basquetebol da NBA, de Bjorn Borg e John Mc Enroe nos tempos gloriosos do ténis, de Carl Lewis e Ben Johnson no atletismo ou de Ayrton Senna e Alain Prost na Fórmula 1, entre tantas outras passíveis de serem citadas, para se constatar que assim é.
Mas futebol é futebol.
E as rivalidade no futebol atingem uma dimensão, uma paixão e quantas vezes um exagero que é único e inimitável como todos bem sabemos.
E bastará pensarmos nalguns casos, de clubes bem conhecidos, para sustentarmos isto.
Liverpool e Manchester United, Sevilha e Bétis, Roma e Lázio, Inter e Milan, PSG e Marselha, Barcelona e Real Madrid, Flamengo e Fluminense, River Plate e Boca Juniors, Juventus e Torino,  Celtic e Rangers , para citar apenas dez de muitos exemplos possíveis em que as rivalidades assumem picos de intensidade.
Portugal não foge à regra.
E também no nosso país existem rivalidades intensas, por vezes com uma intensidade dispensável, que se manifestam periodicamente nos encontros entre clubes rivais e todos os dias nas discussões entre adeptos.
A mais clássica, e mais antiga em termos puramente desportivos, é a que existe entre Benfica e Sporting.
Começou pela rivalidade natural entre clubes de dois bairros tradicionais de Lisboa, ganhou dimensão através do ciclismo com as disputas entre Alfredo Trindade e José Maria Nicolau que levaram as camisolas dos dois clubes a todo o país num tempo em que ainda não havia televisões nem jornais desportivos e depois com o advento das rádios, das televisões e dos referidos jornais tornou-se uma rivalidade nacional com adeptos de ambos os clubes espalhados por todo o país.
Atrás delas vieram outras , de norte a sul, algumas de âmbito local , outras de âmbito regional e outras ainda de âmbito nacional (por exemplo entre Porto e Benfica) que deram cor aos campeonatos e se mantiveram (e incrementaram) ao longo dos tempos e continuam nos dias de hoje.
Há contudo uma rivalidade que considero a mais antiga, mais especial e mais intensa de todas.
Entre Vitória Sport Clube e Sporting Clube de Braga.
Uma rivalidade milenar entre duas comunidades vizinhas que nos últimos cem anos tem conhecido a sua expressão maior através do futebol e recheada de episódios interessantes e merecedores de recordação e outros que mais vale esquecer.
Uma rivalidade feita de grandes jogos, de grandes triunfos e grande derrotas, de grandes momentos de fervor associativo e outros bem dispensáveis, de momentos alternados de euforia ( e algum gozo à mistura) entre as respectivas massas associativas.
As rivalidades são assim.
E tal como a rivalidade mais intensa em Espanha é entre Sevilha e Bétis, dois clubes da mesma cidade, também em Portugal considero ser entre Vitória e Braga dois clubes vizinhos e separados por pouco quilómetros.
Devo dizer que gosto desta rivalidade. E que a vivo desde sempre com especial interesse porque ganhar ao Braga tem um gostinho especial mas perder com ele é azia pela certa!
Já não tenho é idade nem paciência para rivalidades estúpidas, agressivas, cegas perante a realidade preferindo , isso sim, uma rivalidade esclarecida e tão inteligente quanto possível.
E é com base nisso que não posso deixar de reconhecer que a obra inaugurada esta semana pelo Sporting de Braga, da segunda fase da sua cidade desportiva, é face ás imagens que vi e ao que li sobre o assunto uma obra notável que coloca o clube na primeira linha nacional e até internacional no que concerne a infraestruturas e espaços de competição.
Que obviamente potenciarão a capacidade competitiva das equipas do clube no futebol e nas modalidades.
E que premeia a coragem de a sua SAD ter levado a cabo esse enorme investimento mesmo em tempos de dificuldade como o foram os da pandemia época em que a obra foi iniciada e em que as receita dos clubes /SAD foram severamente afectadas.
Sobre a cerimónia de inauguração propriamente dita houve dois aspectos que também me impressionaram positivamente.
Não o desfile de membros do governo, presidentes da Liga e da FPF, autarcas, deputados e demais convidados porque isso já era expectável mas sim por um lado a mensagem enviada em video por Aleksander Ceferin mostrando que o Braga já se mexe bem nos meandros da UEFA (desconfio que o meu amigo Tiago Craveiro deve ter tido alguma coisa a ver com isso) mas essencialmente a presença na cerimónia do presidente do PSG Nasser Al-Khelaifi.
Porque o PSG pertence ao QSI, do qual Khelaifi é figura prominente, e porque o QSI é investidor da SAD do Braga na qual detém uma pecentagem entre so 20% e os 30 % .
E a presença do presidente do PSG significa não só o dar a cara por essa parceria como um sinal mais do compromisso de no âmbito dela o QSI ajudar ao crescimento desportivo e patrimonial do parceiro.
Boas notícias, pois, para o Sporting de Braga.
Que com a sua nova cidade desportiva, a que se juntará brevemente um mini estádio, e este parceiro presente e activo pode reforçar de forma significativa o que vem sendo uma tendência dos últimos anos, e confirmada ainda na última época uma vez mais, que é de deixar de ser o principal candidato ao quarto lugar para passar a ser um continuo candidato a um dos primeiros quatro lugares.
E essa é uma diferença que faz toda a diferenças como é bom de ver.
Quanto a mim, vitoriano de gema, devo dizer que fico satisfeito com esta evolução qualitativa e quantitativa do Sporting de Braga.
Não só por essa questão da rivalidade inteligente mas também porque conhecendo muito bem o Vitória Sport Clube sei bem que se o Sporting de  Braga conseguiu nós também podemos conseguir.
Basta fazermos as coisas bem feitas, termos uma estratégia e uma linha de rumo.
E esse é o grande desafio que se põe ao clube e aos seus associados.
Sermos capazes de fazer tão bem, e necessariamente mais depressa, como o fez o velho rival.

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