Costuma dizer-se, e acho que com absoluta razão, que as rivalidades entre clubes são o sal e a pimenta do futebol e ajudam a contribuir para que este seja o desporto mais praticado e visto em todo o planeta.
Em bom rigor até há rivalidades noutras modalidades que são também
famosas e contribuem para o seu prestígio e bastará lembrar os exemplos de
Chcago Bulls e Los Angeles Lakers no basquetebol da NBA, de Bjorn Borg e John
Mc Enroe nos tempos gloriosos do ténis, de Carl Lewis e Ben Johnson no
atletismo ou de Ayrton Senna e Alain Prost na Fórmula 1, entre tantas outras
passíveis de serem citadas, para se constatar que assim é.
Mas futebol é futebol.
E as rivalidade no futebol atingem uma dimensão, uma paixão e quantas
vezes um exagero que é único e inimitável como todos bem sabemos.
E bastará pensarmos nalguns casos, de clubes bem conhecidos, para
sustentarmos isto.
Liverpool e Manchester United, Sevilha e Bétis, Roma e Lázio, Inter e
Milan, PSG e Marselha, Barcelona e Real Madrid, Flamengo e Fluminense, River
Plate e Boca Juniors, Juventus e Torino,
Celtic e Rangers , para citar apenas dez de muitos exemplos possíveis em
que as rivalidades assumem picos de intensidade.
Portugal não foge à regra.
E também no nosso país existem rivalidades intensas, por vezes com uma
intensidade dispensável, que se manifestam periodicamente nos encontros entre
clubes rivais e todos os dias nas discussões entre adeptos.
A mais clássica, e mais antiga em termos puramente desportivos, é a
que existe entre Benfica e Sporting.
Começou pela rivalidade natural entre clubes de dois bairros
tradicionais de Lisboa, ganhou dimensão através do ciclismo com as disputas
entre Alfredo Trindade e José Maria Nicolau que levaram as camisolas dos dois
clubes a todo o país num tempo em que ainda não havia televisões nem jornais
desportivos e depois com o advento das rádios, das televisões e dos referidos
jornais tornou-se uma rivalidade nacional com adeptos de ambos os clubes
espalhados por todo o país.
Atrás delas vieram outras , de norte a sul, algumas de âmbito local ,
outras de âmbito regional e outras ainda de âmbito nacional (por exemplo entre
Porto e Benfica) que deram cor aos campeonatos e se mantiveram (e
incrementaram) ao longo dos tempos e continuam nos dias de hoje.
Há contudo uma rivalidade que considero a mais antiga, mais especial e
mais intensa de todas.
Entre Vitória Sport Clube e Sporting Clube de Braga.
Uma rivalidade milenar entre duas comunidades vizinhas que nos últimos
cem anos tem conhecido a sua expressão maior através do futebol e recheada de
episódios interessantes e merecedores de recordação e outros que mais vale
esquecer.
Uma rivalidade feita de grandes jogos, de grandes triunfos e grande
derrotas, de grandes momentos de fervor associativo e outros bem dispensáveis,
de momentos alternados de euforia ( e algum gozo à mistura) entre as
respectivas massas associativas.
As rivalidades são assim.
E tal como a rivalidade mais intensa em Espanha é entre Sevilha e
Bétis, dois clubes da mesma cidade, também em Portugal considero ser entre
Vitória e Braga dois clubes vizinhos e separados por pouco quilómetros.
Devo dizer que gosto desta rivalidade. E que a vivo desde sempre com
especial interesse porque ganhar ao Braga tem um gostinho especial mas perder
com ele é azia pela certa!
Já não tenho é idade nem paciência para rivalidades estúpidas,
agressivas, cegas perante a realidade preferindo , isso sim, uma rivalidade
esclarecida e tão inteligente quanto possível.
E é com base nisso que não posso deixar de reconhecer que a obra
inaugurada esta semana pelo Sporting de Braga, da segunda fase da sua cidade
desportiva, é face ás imagens que vi e ao que li sobre o assunto uma obra
notável que coloca o clube na primeira linha nacional e até internacional no
que concerne a infraestruturas e espaços de competição.
Que obviamente potenciarão a capacidade competitiva das equipas do
clube no futebol e nas modalidades.
E que premeia a coragem de a sua SAD ter levado a cabo esse enorme
investimento mesmo em tempos de dificuldade como o foram os da pandemia época
em que a obra foi iniciada e em que as receita dos clubes /SAD foram
severamente afectadas.
Sobre a cerimónia de inauguração propriamente dita houve dois aspectos
que também me impressionaram positivamente.
Não o desfile de membros do governo, presidentes da Liga e da FPF,
autarcas, deputados e demais convidados porque isso já era expectável mas sim
por um lado a mensagem enviada em video por Aleksander Ceferin mostrando que o
Braga já se mexe bem nos meandros da UEFA (desconfio que o meu amigo Tiago
Craveiro deve ter tido alguma coisa a ver com isso) mas essencialmente a
presença na cerimónia do presidente do PSG Nasser Al-Khelaifi.
Porque o PSG pertence ao QSI, do qual Khelaifi é figura prominente, e
porque o QSI é investidor da SAD do Braga na qual detém uma pecentagem entre so
20% e os 30 % .
E a presença do presidente do PSG significa não só o dar a cara por
essa parceria como um sinal mais do compromisso de no âmbito dela o QSI ajudar
ao crescimento desportivo e patrimonial do parceiro.
Boas notícias, pois, para o Sporting de Braga.
Que com a sua nova cidade desportiva, a que se juntará brevemente um
mini estádio, e este parceiro presente e activo pode reforçar de forma
significativa o que vem sendo uma tendência dos últimos anos, e confirmada
ainda na última época uma vez mais, que é de deixar de ser o principal
candidato ao quarto lugar para passar a ser um continuo candidato a um dos
primeiros quatro lugares.
E essa é uma diferença que faz toda a diferenças como é bom de ver.
Quanto a mim, vitoriano de gema, devo dizer que fico satisfeito com
esta evolução qualitativa e quantitativa do Sporting de Braga.
Não só por essa questão da rivalidade inteligente mas também porque
conhecendo muito bem o Vitória Sport Clube sei bem que se o Sporting de Braga conseguiu nós também podemos conseguir.
Basta fazermos as coisas bem feitas, termos uma estratégia e uma linha
de rumo.
E esse é o grande desafio que se põe ao clube e aos seus associados.
Sermos capazes de fazer tão bem, e necessariamente mais depressa, como
o fez o velho rival.
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