O mundo vive tempos difíceis.
Tempos de angústia, tempos de incerteza, tempos de medo perante uma pandemia que a OMS já reconheceu e que neste momento tem expressão mundial com incidência em todos os continentes e uma taxa de mortalidade que não cessa de aumentar.
Portugal resistiu durante algum tempo, criou-se até uma leviana
curiosidade de saber quando apareceria o primeiro caso de covid-19, mas
obviamente que o vírus chegou cá e está agora em fase de expansão com o número
de infectados a subir todos os dias.
Embora a incidência no futebol seja muito menos importante que noutras
áreas da vida social, também porque o futebol tem apenas a importância que tem
e não a que alguns gostam de lhe dar, ela existe e obriga à tomada de medidas
que ajudem à contenção do problema.
Medidas que foram tomadas, inacreditavelmente (mas aí a culpa não é do
futebol) antes das referentes a universidades, escolas, discotecas, centros
comerciais e outras áreas onde sucedem grandes aglomerações de pessoas e que
merececeram o relativo consenso de FPF, LPFP, clubes desportivos e comunicação
social face ao estipulado.
Já os adeptos, nuns casos por pura paixão clubística e noutros por
verem o problema de um ângulo diferente, não foram tão consensuais quanto às
decisões tomadas e prefeririam que
tivessem sido outras e não estas.
Que grosso modo passam por realizar jornadas (para já uma mas serão
inevitavelmente mais) das duas divisões profissionais à porta fechada enquanto
nos outros escalões as medidas se dividem pela suspensão de provas na formação,
pela sua realização à porta fechada ou à porta aberta para menos de 5000
espectadores noutros casos.
Devo dizer desde já que considero uma tremenda irresponsabilidade a
autorização da realização à porta aberta de qualquer competição de qualquer
escalão seja qual for o número de espectadores e é completamente
incompreensível que isso tenha sido feito.
Ou será que avisaram o corona vírus que não pode ir a esses jogos?
Quanto aos jogos das competições profissionais, aqueles que tem um
maior impacto na opinião pública e portanto geram grandes movimentações de
pessoas, a decisão de os realizar à porta fechada era o mínimo dos mínimos que
se podia exigir mas gerou em Portugal, como noutros países em que ela está a
ser adoptada, alguma contestação que passa essencialmente pela preferência pela
alternativa de suspender as competições e portanto adiar os jogos.
E esta contestação abrangeu edeptos, jogadores e treinadores (os mais
visíveis terão sido Pep Guardiola e Jurgen Klopp) por todos eles considerarem,
e bem do meu ponto de vista, que o espectáculo existe em função dos
espectadores e que portantos sem espectadores não há razão para haver
espectáculo!
Creio que em Portugal , que são as competições que mais directamente
nos interessam, teria sido preferível suspender os campeonatos durante duas ou
três semanas (como se está a fazer noutros países) e depois analisar o processo
de contenção da pandemia para decidir se havia condições para o normal retomar
das competições ou, em alternativa, se se devia recorrer a jogos à porta
fechada para acertar os calendários.
Creio que com as equipas portuguesas fora das competições europeias,
com a consequente disponibilidade de dias a meio da semana para realizar
jornadas , teria sido possível um reacerto do calendário sem transtornos de
maior e sem a deprimente visão de jogos em estádios vazios que desagradam a
todos os intervenientes.
Não foi essa a decisão, foi outra por razões que os responsáveis terão
entendido como pertinentes, e há que a respeitar de forma total deixando
durante a realização dos jogos à porta fechada as imediações dos estádios sem
pessoas para que os objectivos da contenção do vírus possam ser prosseguidos
com sucesso.
Mas isto implica outra realidade.
Vivemos tempos de excepção, por graves razões de saúde pública, que
exigem medidas de excepção.
E não adianta realizar jogos à porta fechada, para impedir grandes
concentrações de pessoas, se depois essas pessoas se forem agrupar em cafés,
restaurantes, associações recreativas e afins para assistirem à transmissão
televisivas dos jogos das suas equipas.
O que se previne por um lado acaba por se facilitar por outro.
Sabendo que a esmagadora maioria dos portugueses não é assinante da
sport-tv, e sabendo-se que esta operadora tem o monopólio da transmissão
televisiva paga dos jogos da liga NOS, creio que será essencial que se encontre
uma forma de a título excepcional os jogos serem transmitidos em sinal aberto
,quer pela sport-tv quer pelos outros canais (rtp,sic,tvi), para que as pessoas
possam ficar em casa a verem nas suas televisões os jogos das suas equipas.
Não sei quem posssa patrocinar esse acordo, provavelmente deveria ser
o governo, mas ele parece-me absolutamente necessário para ajudar a fazer
frente com eficácia a estes tempos excepcionais que vivemos.
Haja bom senso.
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