E a longa “noite” do futebol prossegue.
Do futebol e do desporto em geral (já se sabe que também dos países
mas estes textos são sobre matéria desportiva) sabendo-se já que o Europeu fica
para o ano enquanto as competições nacionais e europeias de clubes estão
suspensas por tempo indefenido mas dificlmente serão reatadas ainda no decorrer
da presente época.
Em simultâneo, e perante a inexplicável teimosia do Japão em realizar
os Jogos Olimpicos a qualquer preço, foi hoje conhecida a posição de Canadá e
Austrália que anunciaram que não estarão presentes aguardando-se que a
manter-se a teimosia nipónica outros países o venham a fazer dados os
condicionalismos provocados pela pandemia.
Em Portugal, pese embora algumas vozes avisadas que chamam a atenção
para o que será o futuro (Pedro Proença, Jorge Castelo, Luís Campos) , vejo muito mais energias
concentradas na por agora inútil discussão de quem será o campeão do que na
preparação do pós covid-19 que será dífícil e até traumático para muito clubes
e para muitas modalidades.
Na sequência da pandemia, cujo fim ainda não está no horizonte,
prevê-se uma crise económica imensa que será transversal a todos os sectores da
sociedade e terá uma dimensão mundial cujas consequências não é possível neste
momento prever.
Isso significa, que ninguém tenha dúvidas, uma retracção significativa
nos investimentos publicitários das empresas que terão de orientar as suas
tesourarias para áreas bem mais importantes do que aqueles que se prendem com a
publicidade aos seus produtos.
Ou seja, terão muito menos disponibilidade para investir no desporto
em geral e no futebol em particular.
O resultado disso, quer da diminuição dos investimentos directos no
patrocíno de competições quer na publicidade televisiva, serão verbas muito
menores a distribuir pelos clubes e selecções que participam nessas provas
prevendo-se essencialmente a nível de Liga dos Campeões, mas também de Liga
Europa, o fim da autêntica”árvore das patacas” que elas tem sido com os clubes
a receberem muito menos dinheiro.
Por outro lado, mas igualmente muito importante, com a quebra das
receitas publicitárias também as televisões terão menos dinheiro para o futebol
o que significará, com boa dose de probabilidade, a impossibilidade de
cumprirem os actuais contratos em vigor ou sequer de os renovarem por verbas
semelhantes às actuais o que afectará todos os clubes e não apenas aqueles que
participam em competições da UEFA.
E como uma má notícia nunca vem só é igualmente evidente que as verbas
para patrocínio de camisolas e para publicidade estática nos estádios serão
também reduzidas o que terá igualmente forte repercussão no orçamento dos
clubes já severamente afectados pelos cortes anteriormente referidos.
Em suma no pós pandemia os clubes terão muito menos receitas ( e já
nem falo na quebra de rendimentos das famílias que provocará, outra má notícia,
uma baixa nas receitas associativas oriundas de quotas , venda de lugares
anuais e merchandising, etc) o que os obrigará a enfrentar uma realidade de grande
dureza e de necessária adaptação aos novos tempos.
Que terá de passar inevitavelmente pela redução de orçamentos, pela
diminuição da folha salarial para valores muito inferiores aos da actualidade,
por gestões de grande rigor, pelo fim de transferências milionárias, por uma
aposta redobrada na formação e por uma necessidade de captação de receitas fora
dos mercados tradicionais.
E, é claro, por uma conscencialização de que as receitas televisivas
já não serão o “abono de família” dos respectivos orçamentos.
Tempos difíceis aí vem e para os quais é necessário os clubes
portugueses irem-se preparando de forma prudente, organizada e profundamente
realista.
No que terão de ser acompanhados por FPF e LPFP ( e pela UEFA em termos europeus) na exigência
de orçamentos realistas, na fiscalização do seu cumprimento, num rigoroso “fair
play” financeiro para as provas nacionais e pela detecção atempada das
movimentações de dinheiros suspeitos.
Então a nível de UEFA há que olhar com grande rigor os dinheiros vindos dos xeques arabes e
dos oligarcas russos que se não forem devidamente controlados matarão a
competitividade das competições.
No caso português a crise financeira terá ainda outra vertente
desportiva.
Se o futebol, modalidade raínha, será severamente afectado que dizer
então das restanres modalidades?
Modalidades onde com base num ecletismo pouco comum noutros países
(Espanha será o mais parecido connosco) os principais clubes portugueses que tem
no futebol a primeira vertente desportiva estão igualmente presentes no
andebol, no basquetebol, no voleibol, no futsal , no pólo aquático e no hóquei
em patins que serão as principais modalidades de equipa a seguir ao desporto
rei.
Não estão todos em todas mas estão todos em parte significativa delas
e nalguns casos com orçamentos absolutamente irrealistas pagando a praticantes
dessas modalidades salários que muito clubes da primeira liga de futebol não
pagam aos seus futebolistas.
Também aí a vida terá de ser outra.
Adequando os orçamentos às receitas (que são quase nenhumas) e
percebendo que se calhar terão de deixar de ter tantas modalidades,que em boa
verdade são sustentadas em grande parte pelo tal futebol que também terá de
apertar o cinto, para passarem a ter apenas aquelas que de facto for viável
terem.
Não faltam, neste tempo tão estranho sem competições desportivas,
assuntos para uma reflexão tão séria quanto profunda por parte dos dirigentes
desportivos dos clubes, das Ligas profissionais e das Federações.
Enquanto é tempo.
Porque a própria pandemia já se encarregou de demonstrar que não
reagir a tempo apenas complica, e muito, o problema.
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