quinta-feira, maio 23, 2019

Finalmente

O meu artigo desta semana no zerozero.

Gostando muito de futebol e seguindo as diferentes provas nacionais e internacionais desde a mais tenra juventude, ou seja há mais de cinquenta anos, devo dizer que não me lembro de estar tão ansioso pelo fim de um campeonato nacional como este ano.
Sendo-me completamente indiferente quem o ia vencer e pese embora o “meu” Vitória só na última jornada ter conseguido o quinto lugar que lhe assegurava o apuramento europeu por mérito próprio e não pela falta de inscrição na Liga Europa do Moreirense (se é que não estava mesmo inscrito...) não foram esses ,noutras circunstâncias, inegáveis motivos de interesse que cercearam a vontade de ver o campeonato acabado.
Porque o futebol em Portugal está a tornar-se insuportável.
Quer o futebol jogado, que com raras excepções não é de qualidade que entusiasme, quer o futebol  falado,escrito e comentado nos canais de televisão e na generalidade dos jornais que mais não é do que um quase constante apelo a sentimentos primários e quase tribalistas (se calhar o quase está a mais) quer a forma como alguns clubes encaram e tratam a “indústria” futebol contribuindo diariamente para o seu descrédito e desvalorização.
Não me interessa minimamente, a não ser no plano da Justiça que para aqui não é chamado, quem tem mais ou menos razão nas constantes criticas e acusações que os dois clubes de topo trocam diariamente entre eles.
Estou é farto, literalmente farto, de cinquenta e duas semana por ano e vários dias em cada uma dessas semanas ver esses dois clubes a trocarem acusações, a lançarem suspeições, a insultarem-se a um nível absolutamente deplorável alimentando querelas e polémicas que depois passam para os próprios adeptos e vão fazendo aumentar o nível da tensão entre eles até a um ponto que um dia todos lamentaremos.
O de Lisboa acusa o do Porto, o do Porto acusa o de Lisboa e independentemente de tudo que se soube sobre um no passado e tudo que se vai descobrindo sobre outro no presente há a realidade de um futebol onde os dois são claramente favorecidos em relação a todos os outros de uma forma inadmíssivel em qualquer lado e menos ainda num país de futebol de primeiro mundo cuja selecção até é campeã da Europa.
Não sei se quem tem mais razão é o Benfica ou o Porto.
Nem me interessa.
Sei, isso sim, que os outros dezasseis clubes que disputaram o campeonato tem todos eles (mesmo o Sporting) muitíssimas razoes de queixa das arbitragens, dos VAR, da disciplina ou seja de todos aqueles factores que não jogando à bola influenciam, e de que maneira, os resultados.
Foi um campeonato muito mau nessa matéria.
Na sequência de outros anteriores mas deixando a clara sensação de que o problema se está a agravar  o fosso entre o favorecimento a uns e o desfavorecimento a outros está cada vez mais largo e mais difícil de transpor.
E se a isso somarmos outros tradicionais factores de diferenciação artificial entre os clubes, que vão desde os contratos televisivos em que Portugal caminha para ser o único país da Europa que interessa a não ter a respectiva negociação centralizada até à disparidade de tratamento da comunicação social em termos da enormidade de tempo de antena que dão a três clubes em desfavorecimento de todos os restantes que são tratados como “filhos de um Deus menor”, percebe-se que o futebol português caminha para um fim triste em termos de competitividade externa e verdade desportiva interna.
E, já agora, também de audiências televisivas e espectadores nos estádios.
Porque um dos factores de atracção para um desporto é a imprevisibilidade no resultado, a eterna incerteza no confronto do mais forte com o mais fraco, a certeza de que triunfos e derrotas são consequência apenas da verdade desportiva de cada jogo resultante da performance de cada equipa.
Em Portugal é cada vez menos assim.
Porque há equipas que ganham quase sempre( tantas vezes sabe Deus como...) ficando cada vez mais a incerteza reservada para os jogos em que se defrontam entre si porque nos outros há sempre um “factor externo” que as ajuda a ganhar quando por si sós não são capazes de o fazer.
O que afasta espectadores dos estádios porque ninguém gosta de pagar bilhetes, cotas, lugares anuais para ser enganado.
E por isso o alívio por este campeonato ter acabado.
Na certeza,porém, de que o próximo não será muito diferente, pese embora discursos sensatos (como o de Bruno Lage) que se vão ouvindo no sentido de Portugal arrepiar caminho e as competições seguirem um caminho de verdade desportiva e de sensatez na relação entre alguns clubes, por que o “vale tudo” para ganhar de qualquer maneira está demasiado enraizado na classe dirigente que os clubes do nosso futebol vão tendo.
Melhores dias virão.
Não se sabe é quando...

2 comentários:

Anónimo disse...

Excelente texto. Absolutamente de acordo com a necessidade de mudança. Mas parece que ninguém está preocupado. O atual presidente da liga deveria ter vergonha mas vai apresentar a recandidatura...

Miguel Leite

luis cirilo disse...

Caro Miguel Leite:
Pois vai. E desconfio que vão existir mais candidatos. Ai desconfio,desconfio...