terça-feira, maio 30, 2023

Final

No próximo domingo Sporting de Braga e Futebol Clube do Porto jogam a final da Taça de Portugal.
Confesso que em ano de Centenário cheguei a acalentar a esperança, e a expectativa fundada, de que o finalista minhoto fosse outro (e bem podia ter acontecido) mas meia dúzia de minutos de desvario no jogo em Braga  arrumaram com essa hipótese.
São, pois Braga e Porto os clubes presente no Jamor.
E é precisamente esse o motivo para retomar um assunto já antigo.
Porquê no Jamor?
O estádio é velho, com falta de condições adequadas e sem o conforto que hoje se exige para um jogo desta importância.
Se estiver calor é um forno e se chover expõe os adeptos à intempérie como aconteceu no Vitória-Benfica de 2017.
Casas de banho, bares, bancadas é tudo muito do século passado.
E por isso de há muito que nem as selecções lá jogam pese embora o pomposo titulo de estádio nacional.
Depois em tempos de crise económica e de poupança energética porque carga de água dois clubes separados por 50 klm vão disputar uma final a mais de 300 klm das suas cidades quando o podiam fazer com muito mais conforto, a todos os níveis, em estádo muito melhores e muito mais próximos como o D. Afonso Henriques, o Bessa ou o Cidade de Aveiro?
Apenas porque dá jeito manter a fábula do "mítico" Jamor ou porque a maioria dos engravatados que ocupa a tribuna presidencial não está para se maçar com uma deslocação ao norte do país?
Finalmente, mas não questão menor, porque razão a final é num domingo ao fim da tarde em vez de ser no sábado?
Já se sabe que para os tais engravatados da tribuna presidencial tanto faz porque acabado o jogo e passada meia hora estão em casa a jantar.
E os adeptos?
Esses tem mais de 300 klm para andar e se o jogo tiver prolongamento e penaltis correm o risco de chegarem a casa bem perto da meia noite sendo que o dia seguinte é dia de trabalho ou de aulas para a esmagadora maioria deles.
Se fosse no sábado tinham ao menos o dia seguinte para descansar.
Hoje o assunto toca a  Braga e Porto.
Mas já tocou ao Vitória, ao Boavista, ao Rio Ave, ao Leixões, ao Desportivo das Aves, ao Farense, ao Beira Mar, ao Paços de Ferreira, ao Desportivo de Chaves, para citar apenas os clubes mais distantes de Lisboa que estiveram em finais.
E posso testemunhar, tendo já marcado presença em quatro finais do Vitória no Jamor, que as coisas são mesmo assim em termos de desconforto do estádio e de desconforto para os adeptos que tem de andar centenas de quilómetros para lá estarem.
Dou apenas dois exemplos.
Em 1987-1988 assisti à final entre Vitória e Porto.
Debaixo de um sol inclemente que fazia daquelas bancadas, então ainda sem cadeiras, uma verdadeira sauna sendo que o calor era tanto e a pedra estava tão quente que quase dava para estrelar um ovo!
Em 2016-2017 assisti à final entre Vitória e Benfica.
Que foi o oposto.
Chuva torrencial desde o início do jogo e uma molhadela histórica para os adeptos dos dois clubes dado não existir qualquer abrigo e o velho estádio nem coberto ser.
A que acresceu o facto de a chuva ter sido surpresa porque nem estava prevista nem até ao início do jogo se verificou o que impediu os adeptos de se prevenirem com impermeáveis ou qualquer outro tipo de vestimenta que contrariasse os seus efeitos 
Na viagem de regresso a casa em áreas de serviço onde parei, e na Mealhada (isso sim uma tradição a preservar) onde jantei, vi centenas de adeptos do Vitória completamente encharcados porque não tinham roupas de reserva e nesse estado tiveram de fazer as tais centenas de quilómetros.
E histórias como estas não faltam.
Com o Vitória e com outros clubes, incluindo os dois da final deste ano, cujos adeptos tem sido vítimas desse forma de centralismo bafiento que obriga a que se jogue no Jamor o jogo decisivo da segunda prova do calendário nacional.
Quando o adequado, o sensato, o que defendia o futebol era a final ser disputada num estádio escolhido depois de se saber quem eram os finalistas e por acordo entre ambos.
Faz algum sentido um Vitória-Porto, um Porto-Braga, um Porto- Chaves (então este...) serem disputados em Oeiras como já aconteceu e vai voltar a acontecer?
Fará algum sentido um dia um Farense-Portimonense ser no Jamor? Ou um Marítimo-Nacional?
Ou um Boavista-Braga? Um Vitória-Boavista? 
Ou a final das finais um Vitória vs Braga?
Portugal tem hoje dez estádios, os do Euro 2004, em condições de receberem condignamente uma final da Taça de Portugal.
Qualquer um deles muito melhor que o Jamor.
Continuar a jogar a final naquele vestigío arqueológico, com todo o respeito por aqueles que põe a final de uma competição profissional no mesmo plano de uns piqueniques nas matas circundantes, apenas serve o centralismo, os engravatados da tribuna presidencial e os clubes de Lisboa.
O resto são tretas para consumo dos ingénuos.

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