Nota prévia: Embora goste e cultive a ironia fica desde já claro que neste texto não há nenhum tipo de ironia subjacente ao que está escrito.
É mesmo para ser lido como está sem busca de segundas intenções ou significados nas linhas ou entrelinhas.
Vai para quarenta anos que iniciei a publicação de opiniões e comentários acerca do Vitória Sport Clube.
Foi no jornal "Comércio de Guimarães", a convite do seu então director o dr. João Barroso da Fonte, que me iniciei nas lides jornalísticas publicando uma crónica semanal sobre assuntos vitorianos.
Depois um longuíssimo percurso nos quase quarenta anos referidos.
Rádio Guimarães, Rádio Fundação, Rádio Santiago, Toural/Expresso do Ave, Povo de Guimarães, Diário do Minho, Correio do Minho, Porto Canal, Zero Zero, "Duas Caras" e site da AVS com dezenas de artigos escritos para esse espaço vitoriano.
Entrevistas e debates pontuais na RTP, SIC, Antena 1, Rádio Renascença,TSF, etc.
Com o advento das redes sociais essa participação intensificou-se e diversificou-se também.
Blogue "Depois Falamos" desde 2006, Twitter desde 2008, Facebook desde 2009.
Toda esta participação não foi apenas em função do Vitória, como está bom de ver, mas o Vitória foi sempre o tema central de tudo.
Ao longo de todo este tempo, reconhecendo erros, omissões e falhas, sempre procurei participar , escrever, falar, o melhor que podia e sabia para defender aquilo que em minha opinião eram os interesses do Vitória.
Nunca procurei guerras mas também nunca fugi delas.
O famigerado "Caso Marega" é um bom exemplo disso.
E nessa matéria de procurar defender sempre o "meu" clube não tenho pesos na consciência.
De nenhuma espécie.
Mesmo quando fazê-lo arrostava incompreensões, críticas, ataques pessoais, insultos.
Não apoiei a candidatura de Vitór Magalhães e critiquei muitas vezes a sua gestão perante a indignação de muitos dogmáticos que viam nele a última Coca Cola antes de um tenebroso deserto.
Bem sei o que aturei vindo de alguns fanáticos que convivem mal com as divergências de opinião.
Sabe-se como as coisas acabaram.
Hoje é difícil encontrar quem nele tenha votado e muitos que na defesa dele ultrapassaram as marcas da decência e da boa educação.
Em relação a mim e a em relação a outras pessoas que discordavam da gestão feita.
Há gente a negá-lo mais depressa do que Pedro negou Cristo.
Não apoiei nenhuma das candidaturas de Emílio Macedo da Silva embora fose e continue a ser seu amigo.
Integrei até com outros conhecidos vitorianos uma candidatura alternativa em 2010 que percorreu o concelho a explicar aos associados o que estava mal e os perigos que o Vitória corria se continuasse por aquele caminho.
Tivemos 30% dos votos mas menos de dois anos depois sabe-se o que aconteceu.
Dos 70 % que o reelegeram rumo ao descalabro financeiro não há vestigios. Evaporaram-se.
Integrei a primeira candidatura de Júlio Mendes.
Ao fim de apenas oito meses apresentei a minha demissão movido por imperativos de consciência que o passar dos tempos viria a confirmar estarem correctos.
Também aí se sabe como as coisas acabaram.
Não apoiei a primeira candidatura de Miguel Pinto Lisboa (nem nenhuma outra porque estava então a residir em Lisboa e ausente do dia a dia da realidade vitoriana) mas apoiei a segunda por estar convicto de que MPL é um homem inteligente, com um projecto claro e definido para o clube e que tendo aprendido com os erros seria certamente um presidente muito melhor nos mandatos seguintes.
Não foi essa a vontade dos associados e foi eleita a lista chefiada por António Miguel Cardoso.
Do que se passou nessa campanha eleitoral e nos meses em que coordenei a comissão do centenário ainda não é tempo de falar porque as comemorações foram prolongadas até Setembro deste ano (e sempre disse que só falaria depois do Centenário terminar) mas lá virá o dia em que responderei cabalmente a mentiras, calúnias, insultos bem como a alguns que as propagaram e dos quais andei anos convencido de serem meus amigos.
Muitos anos num ou noutro caso.
E se recordo tudo isto agora é apenas para atestar que nestes quase quarenta anos de intervenção pública sobre o Vitória, em que incluo com muito orgulho as quatro vezes em que estive nos orgãos sociais com António Pimenta Machado (três das quais na direcção), nunca me escondi atrás do politicamente correcto, nunca me privei de ter e exprimir opinião, nunca fugi de polémicas e disputas quando entendia que a defesa da Causa o merecia.
O meu muito saudoso amigo Francisco Martinho, provavelmente a pessoa com quem mais terei conversado sobre o Vitória nestes quarenta anos, dizia-me de vez em quando, especialmente em períodos em que as coisas não corriam bem, que defender o Vitória é uma Causa que vale a pena mas que às vezes cansa.
É esse o ponto a que cheguei agora.
Cansaço.
Foram quarenta anos de participação activa, intensa, que valeu a pena mas desgastou.
E quando na passada sexta feira percebi , sem falsas modéstias mas com grande tristeza, que mais uma vez tinha razão antes do tempo (como com Vitor Magalhães, como com Emílio Macedo...) que bem podia ser uma razão a tempo se fosse essa a opinião da maioria dos associados mas não foi porque na AG votaram um caminho com o qual não me identifico.
E nem trago à colação o facto indesmentível de que o que foi negado na AG de Março tornou-se realidade na AG de sexta feira dentro da adaptação de uma velha máxima segundo a qual o que em Março era verdade em Maio tornou-se mentira.
Isso ficará para a consciência de cada um resolver consoante o sentido de voto pelo qual tenha optado.
A questão para mim é outra.
A mente vulgar de que sou possuidor, pese embora ter feito um grande esforço nesse sentido (imaginem que até li e reli o documento que foi votado) não conseguiu vislumbrar o interesse, o ganho, a vantagem de o Vitória abdicar de prerrogativas que eram suas como detentor da maioria da SAD a favor de um parceiro minoritário a quem ainda concedeu direitos de veto (e sabe-se lá que mais...) em matérias importantes a troco de uns meros 5,5 milhões de euros mais 2 milhões de mal explicado donativo.
Como nem explicadas foram as razões pelas quais os Vitória assinou um acordo parassocial por 30 anos (!!!) com a Vsports (via SAD) sem se conhecer nenhum compromisso concreto desta e amarrando a esse acordo as próximas dez direcções do clube.
Vale que 258 mentes brilhantes, seguramente vendo para lá das evidências a que as mentes vulgares conseguem chegar, terão descortinado nas alterações ao pacto social as bases dos amanhãs que cantam e projectarão o Vitória para patamares nunca dantes atingidos.
E quando refiro mentes brilhantes repito o que escrevi no início deste texto. Não há ironia nenhuma nestas palavras. Rigorosamente nenhuma.
É preciso um raro brilhantismo para num negócio do qual apenas se conhecem obrigações e deveres do Vitória, parte deles já plasmados nas alterações que o parceiro impôs ao pacto social, mas não se conhece nada de concreto no que toca a deveres e obrigações do parceiro ( em bom rigor nem o contrato com a Vsports é conhecido dos associados mas isso imagino que seja mais um não assunto) descortinar os pressupostos que nos garantirão o sucesso.
E não só não se conhece como há uma permanente recusa em dar explicações por parte da direcção do clube e do conselho de administração da SAD que são, do meu ponto de vista, uma enorme falta de respeito por associados e accionistas.
O que sa sabe, isso sim, de forma indesmentível é que o parceiro ainda antes de entrar na SAD já chantageou o Vitória na base de que ou era como eles queriam ou não havia negócio.
Muito mau início de parceria convenhamos.
Que faz temer pelo que poderá acontecer agora que são accionistas da SAD, tem administradores nomeados e um poder de decisão que ultrapassa largamente o que a sua percentagem accionista lhe devia proporcionar.
Mas a AG de sexta feira teve em mim um outro efeito colateral que acentuou o cansaço.
Esperando e desejando que as tais 258 mentes brilhantes tenham tomado a decisão correcta com base na tal percepção superior já referida, e partilhando da satisfação generalizada se assim for, não deixo de talvez por velhos hábitos recear que assim não seja e que mais uma vez tenha tido razão antes do tempo.
E mesmo sabendo que se assim for a maioria desses 258 (menos de 2% dos associados mas aí a responsabilidade não é deles) e muitos outros que não votaram mas se revêm na votação provavelmente desaparecerão por artes mágicas como desapareceram os apoiantes/eleitores de Vitor Magalhães e Emilio Macedo (e muitos de Júlio Mendes que agora o negam com vigor idêntico ao que o apoiaram em três eleições que venceu) também sei que até lá muitos deles continuarão a defender de forma assanhada a votação que protagonizaram e o caminho que escolheram.
Bem como alguns deles irão pelo mau caminho de ostracizarem, atacarem, segregarem aqueles que não pensam como eles. Provocarem polémicas escusadas e debates estéreis. Enveredarem pelo ataque pessoal ao invés de discutirem as ideias.
E para esse peditório não darei mais.
Não por receio, como é bem evidente, mas pelo tal cansaço atrás mencionado.
E nesta fase nem no amor de toda a vida pelo Vitória encontro a motivação e a energia necessárias para continuar a intervir publicamente como o fiz nos últimos quase quarenta anos.
Intervir sobre o clube e na defesa do que considero ser o melhor para o clube.
É tempo de parar.
Não sei se definitivamente ou apenas por algum tempo.
O futuro o dirá.
Até lá resta-me agradecer a todos ( e muitos foram) que com os seus conselhos, sugestões, critícas, elogios e opiniões ajudaram a que a minha intervenção pública fosse melhor.
Estou-lhes imensamente grato.
Viva o Vitória.
Sempre!
2 comentários:
Dou um exemplo de uma 'mente brilhante' presente na última AG, e que foi um dos que interveio elogiando a atual direção. Ouvi-lo a gritar a plenos pulmões - perante a intervenção de um sócio que se insurgia contra o secretismo do acordo com o nosso novo benfeitor – de como é que ele poderia afirmar tal coisa quando o “acordo” tinha sido explicado e esmiuçado ponto por ponto minutos antes no início da AG.
E são 'mentes brilhantes' como esta, que confundem estatutos com acordos secretos, que votaram!
Na minha opinião, o grande problema das democracias não é uma alta taxa de abstenção. É sim permitir a participação cega de votantes sem qualquer noção do que estão a escolher com o seu voto!
Caro MF:
É como diz e nada tenho a acrescentar à sua análise que me parece perfeita. Apenas diria que tenho a enorme curiosidade, que nunca será satisfeita, de saber quantos dos 258 leram o documento que votaram.
Sinceramente acredito que muito poucos.
E, sim, o problema das democracias é exactamente esse.
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