segunda-feira, janeiro 20, 2020

Presidenciais

Daqui por um ano, mais dia menos dia mas em Janeiro de 2021, teremos as eleições presidenciais que ditarão a escolha do Presidente da República para o mandato a exercer entre 2021 e o agora ainda longínquo 2026.
Grosso modo dar-se-á a continuidade de Marcelo Rebelo de Sousa ou a eleição de um novo presidente.
Neste momento, e a um ano de distância, que dizer sobre candidatos e sobre a posição dos partidos quanto a  candidaturas não ignorando que um ano em política, e na vida, é muito tempo e pode haver desenvolvimentos imprevistos?
Comecemos pelo mais fácil e que quase anula o resto da análise.
Marcelo Rebelo de Sousa será recandidato e em condições normais vencerá com facilidade a eleição presidencial.
Sabe-se que o presidente tem vindo a dizer há muito tempo que só para o fim do verão decidirá mas não tenho nenhuma duvida que já decidiu ser recandidato desde  o primeiro dia do mandato e por isso tem passado estes quatro anos em permanente campanha eleitoral!
E tanto quanto é possível prever vencerá sem grande dificuldade à primeira volta.
Mais candidatos? 
Creio que André Ventura dificilmente resistirá ao apelo de ser candidato porque com o Chega em fase de crescimento, e não ignorando que à direita há largas franjas de eleitores descontentes com Marcelo, verá nestas presidenciais uma bela oportunidade de continuar a fazer crescer o partido.
Para lá de Marcelo e Ventura, e não perdendo tempo com os inevitáveis Tino de Rans e quejandos que sempre aparecem nestas alturas, ainda não se vislumbra mais nenhum nome que possa entrar na corrida pese embora de quando em vez alguém relembrar o mumificado nome de Sampaio da Nóvoa ou do guru da extrema esquerda Francisco Louçã.
Vamos então aos partidos com representação parlamentar.
O PSD apoiará Marcelo.
Mesmo que o seu líder se "torça" todo por ter de dar esse apoio a verdade é que o partido vindo de duas pesadas derrotas e a caminho de mais uma (nas autárquicas) não se pode dar ao perigosíssimo luxo de também nas presidenciais sair derrotado.
O CDS, que está em fase de escolha de novo líder cargo a que concorrem cinco candidatos com posições diferentes sobre as presidenciais, também apoiará Marcelo mais por falta de alternativa do que por convicção.
A apresentação de uma candidatura própria seria um duplo suicídio político porque para lá de não ter actualmente nenhuma figura minimamente presidenciável, o que pressuporia um resultado humilhante, ainda corria o sério risco de esse resultado ser inferior ao de André Ventura o que colocaria o partido com um pé para a cova e o outro já lá dentro.
O PCP (com o apoio dos Verdes) terá como sempre um candidato próprio.
Provavelmente aproveitará, como já fez no passado com Carlos Carvalhas e Jerónimo de Sousa, a oportunidade para apresentar ao país a pessoa que mais dia menos dia sucederá ao actual líder seja no Congresso do final deste ano seja em data posterior.
Depois se esse candidato vai a votos ou não logo se vê.
Nesse aspecto o PCP é o mais previsível de todos os partidos.
Neste momento não é possível prever o que fará a Iniciativa Liberal.
Não tem figuras conhecidas (mesmo o seu deputado é desconhecido da esmagadora maioria dos portugueses) , não tem uma estrutura nacional capaz de sustentar uma candidatura e não me parece que numa fase de implantação e crescimento queiram arriscar um resultado eleitoral completamente irrelevante que seria sempre um passo atrás.
Acabarão por apoiar Marcelo por falta de alternativa.
O Chega, como atrás foi dito, apoiará a candidatura de André Ventura.
Restam, nos partidos parlamentares, o Bloco de Esquerda, o Livre, o PAN e o PS que deixo para o fim desta análise propositadamente.
BE e Livre não apoiarão Marcelo como é bom de ver.
Mas também dificilmente apresentarão candidato próprio embora o BE provavelmente bem gostasse de apoiar e promover uma candidatura de Francisco Louça que é a sua única figura capaz de conseguir um resultado que ultrapasse as fronteiras do partido.
Acontece que Louçã nesta fase "senatorial" da sua vida política gostaria de ser o candidato da esquerda (incluindo o PS) contra Marcelo mas não aceitará ser o candidato da extrema esquerda (sem o PS) contra Marcelo e por isso não me parece que se meta nessa aventura.
O BE ficará assim à espera que surja uma figura de esquerda, independente ou não, a que possa dar o seu apoio sem perder a face e de cuja candidatura possa retirar alguns dividendos se tal for minimamente possível.
O seu "irmão gémeo", o Livre, ridicularizado perante o país pela deputada Joacine Moreira não terá ânimo, estrutura, meios de promover uma candidatura própria pelo que também ele ficará na expectativa que apareça a tal figura de esquerda que possa apoiar.
O PAN possivelmente apresentará uma candidatura própria, que fará uma campanha sujeita às causas do partido e cujo resultado será irrelevante ou pouco mais do que isso.
No limite ajudará, embora não por vontade própria, à tranquila reeleição de Marcelo.
Resta o PS.
Que tem afirmado repetidas vezes que não apresenta candidatos mas apoia candidaturas.
Uma posição confortável, tranquila, que lhe permite adiar a questão o mais possível e com um bocado de sorte passar entre os pingos da chuva.
Não sei se apoiarão Marcelo.
Nem sei se dentro do PS há uma posição comum entre o PS mais ao centro e o PS mais encostado à esquerda.
Provavelmente o PS mais ao centro até preferirá apoiar Marcelo, mesmo sabendo que o segundo mandato não será igual ao primeiro (mas Cavaco Silva já provou desse veneno quando apoiou a recandidatura de Mário Soares), porque depois do perfeito entendimento entre governo e presidente o decisivo eleitorado do centro não perceberia que o PS não apoiasse a recandidatura enquanto o PS encostado à esquerda preferiria apoiar a candidatura da tal figura de esquerda (que podia ser independente ou militante do partido) que também recolhesse o o apoio do Bloco e do Livre (e até do PCP se conseguisse ir à segunda volta) e assim constituísse mais um passo na criação da tal "grande" esquerda com que sonham os Pedro Nuno Santos e os Galambas desta vida.
E é aí que poderia surgir o tal mumificado nome de Sampaio da Nóvoa (não me parece...) ou de outra personalidade reconhecidamente de esquerda que se disponha a esse combate e cuja aparição condicione quem no PS prefere Marcelo.
Neste momento obviamente não se sabe quem poderá ser e se alguma vez será.
Mas para quem segue a política com interesse não lhe escaparão as doses monumentais de protagonismo que tem sido dadas à ex deputada Ana Gomes pelo grupo Impresa (Expresso, SIC, Visão, etc) a propósito das suas cruzadas "justiçeiras" contra Isabel dos Santos, contra o Banco de Portugal, contra os governos do passado (que no actual não toca nem com uma pena...) e não só e que levam muitos portugueses a apreciarem a sua actuação contra o que entendem ser os "poderosos".
E o grupo Impresa, liderado pelo dr. Balsemão que tão idolatrado é nalguns sectores de pasmosa inocência, não dá ponto sem nó nem faz o que quer que seja que não mereça o aceno tolerante do governo e de António Costa.
Sendo Ana Gomes militante do PS, mas não alinhada com a direcção do partido, e personalidade reconhecidamente de esquerda e da ala esquerda do PS o que a posiciona muito bem para fazer pontes com BE , Livre e até PCP...não sei não.
Nem sei (será que o próprio PS sabe?) qual das tendências internas vencerá, se a que quer apoiar Marcelo se a que quer unir-se à outra esquerda no apoio a uma candidatura.
Por tudo o atrás exposto as presidenciais de 2021, sem prejuízo dos congressos partidários anunciados e a anunciar, serão o grande tema político de 2020 que valerá seguramente a pena acompanhar de perto pese embora o desfecho das mesmas dificilmente tenha outro resultado que não a mais ou menos tranquila reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa.
Depois Falamos.

P.S. Nesta análise não inclui a Aliança porque a quis restringir aos partidos parlamentares.
Mas naturalmente que a Aliança ou apoia Marcelo ou promove uma candidatura própria.
Mas sobre isso nada mais direi aqui.

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