No complexo mundo do futebol são mais que muitos os interesses que
movem os seus intervenientes, que vão do sucesso desportivo aos proveitos
financeiros passando por outros ganhos mais ou menos quantificáveis.
Isto quando se fala de jogadores, de treinadores, de administrações de
sociedades anónimas desportivas ou de outros intervenientes que fazem do
futebol profissão.
Não é contudo o caso dos adeptos.
Porque esses apenas buscam no futebol algo de tão simples como poderem
ser felizes.
Felizes com os sucessos e triunfos das suas equipas, felizes com o
destaque individual dos seus atletas e treinadores favoritos, felizes quando no
“confronto” com os seus amigos, familiares, colegas e conhecidos podem dizer que o seu clube é
melhor que o deles.
É da natureza humana e ninguém pode levar a mal.
E há que reconhecer que o futebol, que agita e provoca paixões como
mais nenhum desporto e poucas mais situações da vida de cada um , proporciona a
c«quem dele gosta momentos de intensa felicidade.
Quando o nosso clube ganha títulos e taças, quando o nosso ídolo ganha
troféus individuais de relevo, quando os nossos adeptos enchem bancadas e fazem
do seu apoio à nossa equipa um espectáculo dentro do espectáculo que nos torna
motivo de admiração e reconhecimento um pouco por todo o lado.
É essa a grande magia do futebol.
O fazer as pessoas felizes ao sabor dos caprichos de uma bola, do
talento dos jogadores, da liderança dos treinadores.
Obviamente que quando um ganha outro tem de perder, que a felicidade
de uns é a tristeza de outros, mas o futebol tem tantas reviravoltas, tanta
magia, tão grande sortilégio que quando atinge a sua expressão mais pura as
vitorias e derrotas vão-se alternando e todos tem sempre o seu motivo de
felicidade embora uns mais vezes que outros.
Mas para lá da simpatia e do fervor clubístico, que todos temos, há um
espaço que tem de ficar reservado para a admiração do próprio futebol e para
nos maravilharmos com o quão sublime ele por vezes consegue ser.
Não falo das espantosas jogadas de Pelé ou Eusébio, da magia de
Maradona , Messi ou Ronaldinho, da eficácia extraordinária de Cristiano Ronaldo,
Romário ou Van Basten, da dimensão de Cruyff e Beckenbauer, do potencial sem
paralelo de Ronaldo , das defesas mágicas de Yashin, Buffon ou Preud’homme que tudo isso representa
o melhor que o futebol tem em termos de paixão e de espectáculo.
Não.
Falo do futebol no seu estado mais puro, das equipas que fazem do golo
a prioridade absoluta do seu jogo, daqueles desafios que ficam para a História
pela espectacularidade das exibições, pela alternância nos resultados, pelos
golos que selam o resultado final.
Todos aqueles que gostam do futebol dessa forma, que o sabem ver para
lá das simpatias clubísticas, que o reconhecem como um espectáculo incomparável
tiveram esta semana um momento sublime que devia ser de visualização
obrigatória para todos aqueles que querem aprender a gostar de futebol.
Refiro-me , como está bom de ver, a esse espantoso jogo entre
Liverpool e Arsenal a contar para a taça da liga inglesa, que teve em Anfield
Road um palco bem adequado , e terminou com um empate a cinco golos e que
depois os actuais campeões europeus venceram no desempate por grande
penalidades por 5-4.
Dez golos em noventa minutos de jogo é simplesmente fabuloso.
E para quem teve a oportunidade de ver o jogo, de assistir à
intensidade com que o mesmo se desenrolou, às constantes alternâncias no
marcador, aos golos espectaculares que se verificaram apenas se pode sentir
maravilhado com aquilo que o futebol às vezes nos proporciona e que de quando
em vez desperdiçamos ao sabor de clubites exacerbadas que cada vez devem ter
menos lugar.
Confesso que vitoriano que sou me sinto feliz, enquanto apreciador de
futebol, ao ver um jogo daqueles entre
duas equipas de que não sou adepto embora não negue uma velha e pequena
simpatia pelo Liverpool.
E ao contrário daquela frase, tão feita quanto oca, de chamar a um
jogo com vários golos um “jogo de loucos” como fazem alguns que preferem
repetir frases sem sentido ao invés de pensarem em produzir comentários
inteligentes a este jogo entre Liverpool e Arsenal apenas se pode e deve
chamar...Futebol!
Porque foi isso que ele foi!
E agradecer a Liverpool e Arsenal esse momento extraordinário que nos
proporcionaram.
P.S Se aos dez golos do jogo jogado acrescentarmos os nove das grandes
penalidades ainda mais razão termos para nos sentirmos felizes.
Porque as grandes penalidades nem são golos certos, mas sim e “apenas”
claras oportunidades de golo, nem são “lotaria” (como os adeptos das frases
feitas tanto gostam de dizer) mas sim exercício de competência.
E por isso também elas foram parte integrante desse grande
espectáculo.
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