Já se sabe que não há boa forma de receber más notícias mas sabe-las pelo telejornal é seguramente das piores.
Foi assim que hoje soube que morreu o Dr. José Alberto Tavares Moreira.
Conheci-o vinte anos atrás quando ele era vice presidente do PSD, já com uma relevante carreira pública como economista, e eu exercia as funções de secretário geral adjunto do partido na direcção presidida por José Manuel Durão Barroso.
De quem foi um apoiante de primeira hora e por quem sempre deu a cara mesmo naqueles difíceis tempos entre 1999 e 2001 (vitória nas autárquicas) em que foram muito poucos aqueles que estiveram de forma consistente e leal ao lado do presidente do partido.
Tavares Moreira esteve!
Em 2002 , nas legislativas antecipadas pela fuga de Guterres ao pântano, a comissão política distrital de Braga de que era presidente Fernando Reis e tinha como vice presidentes o Virgílio Costa e eu próprio manifestou ao presidente do partido e ao próprio Tavares Moreira a vontade de o termos como cabeça de lista pelo distrito.
Ao que ele , após a surpresa inicial, acedeu de pronto dado que sendo natural da Póvoa de Varzin conhecia muito bem o distrito de Braga e estava à vontade para o representar e defender os seus interesses no Parlamento mas deixando desde logo bem claro que se o PSD ganhasse as eleições seria deputado e não aceitaria nenhum cargo governamental.
Tivemos então algumas conversas na sede nacional do PSD sobre a realidade do distrito que ele queria conhecer em todos os detalhes.
Em campanha foi uma agradável surpresa.
Porque sendo um homem de gabinete, um tecnocrata na melhor acepção do termo, soube vestir a pele de candidato e sem perder a sua compostura muito própria conseguia chegar às pessoas com a naturalidade própria de quem sabia do que falava e era ouvido com respeito e atenção.
Fui número dois dessa candidatura e com o cabeça de lista (e os outros candidatos como é óbvio) corremos todo o distrito, visitamos todos os concelhos, fizemos sessões de esclarecimento e um comício de encerramento de campanha em Braga.
Recordarei sempre os seus debates com a cabeça de lista do PS, Elisa Ferreira (actual comissária europeia), que Tavares Moreira venceu quase por esmagamento dando á sua opositora autênticas lições de economia, de finanças públicas e de politica.
Recordo o gosto com que o levei ao estádio D. Afonso Henriques para assistirmos a um Vitória-Sporting (clube de que era adepto) e na qual pude constatar como também acerca do futebol era pessoa muito bem informada.
Vencemos as eleições no distrito e o PSD elegeu nove deputados.
Ele, eu, o António Pinheiro Torres, Fernando Pereira, Virgilio Costa, Jorge Pereira, Goretti Machado, Rui Miguel Ribeiro e Eugénio Marinho.
Um grupo que do meu ponto de vista fez um bom trabalho mas o assunto hoje não é esse.
Depois dessas eleições fui perdendo de vista o Dr Tavares Moreira.
Ele ficou como deputado, eu fui nomeado governador civil de Braga e quando regressei ao Parlamento estava ele de saída tendo suspenso o mandato na sequência de uma autêntica cabala que contra ele foi montada e de que demorou anos a libertar-se provando a sua completa inocência.
Poucas vezes mais estive com ele nestes quinze anos que entretanto decorreram.
Num ou noutro almoço de antigos deputados do PSD da IX Legislatura, num encontro ocasional num restaurante de Lisboa anos atrás e nada mais.
Para lá das mensagens trocadas por altura do Natal e nos aniversários.
Hoje aos 75 anos partiu.
Dele recordarei sempre a simpatia pessoal, a lealdade nos comportamentos, a sabedoria de vida, a firmeza nas convicções, o sólido e prestigiado percurso profissional e político.
Um homem Bom, um verdadeiro Senador num país sem um Senado capaz de aproveitar os que como ele estavam dispostos a dar ao seu país o contributo oriundo de uma enorme, rica e profícua experiência de vida.
Que descanse em paz.
Depois Falamos.
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