Formalmente o grupo chamado de G-15 não existe nem consta que alguma vez tenha existido.
Mas periodicamente, ao sabor dos “roubos de igreja “ do nosso futebol e de outras questões em que há três sempre favorecidos e muitos continuamente desfavorecidos, vai-se falando desse mitológico G-15 que qual D. Sebastião um dia sairá do nevoeiro para devolver ao futebol aquela verdade desportiva a todos os níveis que em boa verdade ele nunca teve.
Entende-se assim o G-15 como um movimento reivindicativo de todos os
clubes da primeira liga , ao qual desejavelmente se poderiam juntar clubes da
segunda liga com frequência regular da primeira, para imporem no futebol uma
nova ordem e romperem de vez com o “status quo” que favorece desde sempre
Benfica, Porto e Sporting.
A verdade é que nunca foi feito nada de concreto para esse movimento
se institucionalizar, organizar e ganhar a força necessária a influenciar
decisões estruturais do nosso futebol e mudar o actual paradigma de completa
falta de verdade desportiva.
De vez em quando, ao sabor desta ou daquela arbitragem que lese este
ou aquele clube, lá aparece o presidente do clube lesado a falar na importância
do G-15, na necessidade de o tornar actuante, mas rapidamente se esquece do
assunto ao sabor de mais um jogador emprestado, mais uma transferência
ligeiramente acima do valor do transferido, mais uma palavrinha dado pelo
poderoso de serviço que desbloqueie este ou aquele problema.
E o G-15 volta a cair no esquecimento.
E é pena.
Porque face à forma como Benfica, Porto e Sporting se posicionam
perante os outros clubes, quase como senhores feudais perante os seus vassalos,
bem preciso é que haja a coragem de os pôr no seu lugar e fazê-los perceber que
pese embora a sua dimensão associativa ser maior que a dos outros os seus
deveres e direitos são exactamente os mesmos.
E aí seria o terreno em que o G-15 poderia ter o seu papel.
Desde que os clubes integrantes, os tais 15 da primeira liga mais os
da segunda que se quiserem associar, sejam dirigidos por presidentes capazes de
assumirem compromissos até ao fim, não caiam na tentação de por baixo da mesa
negarem o que por cima assumem, não cedam ao negócio “espertalhão” com este ou
aquele dos três habituais e essencialmente por baixo da camisola do seu clube
não vistam uma camisola “interior” vermelha, azul e branca ou verde e branca!
E quais são as áreas em que o G-15 deveria intervir de imediato?
Desde logo na fundamental questão da negociação centralizada dos
direitos televisivos que é absolutamente decisiva para um maior equilíbrio
competitivo do nosso futebol .
E que por isso tem merecido a resistência de SLB, FCP e SCP que não só
não querem (mal, mas isso será assunto para outro artigo) um futebol mais
competitivo como sabem que receberão mais com a negociação individual do que
com a colectiva.
Porque ninguém negando que esses três clubes pela sua dimensão
associativa e mediática devem receber mais que os outros é absolutamente óbvio
que no actual cenário recebem demais enquanto os outros recebem de menos e isso
tem de ser alterado rapidamente em prol de um campeonato muito mais competitivo.
E por isso uma distribuição mais justa das verbas televisivas,
observando critérios que respeitem a dimensão, palmarés e classsifcações nos últimos campeonatos é um passo indispensável
para que cada clube possa ter acesso a mais dinheiro, e consequentemente a possibilidade
de construir equipas mais competitivas, melhorando o nível das competições.
Outra questão que me parece para actuação do G-15 é a que se prende
com as mentalidades que levam a práticas inaceitáveis.
Nomeadamente as mentalidades que consideram que existem três clubes
num patamar e os restantes num patamar inferior com tudo que isso significa em
termos de violação da verdade desportiva das competições, do tratamento de
favor que esses clubes recebem, da vergonhosa discriminação com que quase toda
a comunicação social trata os restantes.
E isso começa dentro da própria Liga perante o gáudio dos favorecidos
e o silêncio envergonhado e complacente dos restantes.
Como é que alguém se pode admirar com aquela triste romaria a S.Bento
em que ao lado dos presidentes da FPF e da LPFP marcharam os presidentes dos
três clubes habituais (perante, uma vez mais, o silêncio de quase todos os
outros com as honrosas excepções de Vitória Sport Clube e Marítimo se bem me
lembro) consagrando uma discriminação que devia envergonhar em vez de ser regra
se nos próprios actos da Liga isso é comum?
Quando os clubes aceitam, a título de exemplo, que no próprio sorteio
dos campeonatos existam regras especiais para Benfica, Porto e Sporting (não
podem jogar entre si nas primeiras jornadas, não podem defrontar-se em duas
jornadas consecutivas, etc) como podem admirar- se depois que nas arbitragens,
nos VAR, na disciplina isso seja levado à letra e também esses clubes tenham
tratamentos “especiais”?
E por isso o G-15 devia, se existisse é claro, exigir um sorteio
absolutamente livre e sem condições tratando todos os clubes por igual porque é
profundamente injusto que para uma mesma competições existam competidores com
tratamentos diferentes.
Finalmente o “fair play” financeiro.
Que a UEFA impõe aos clubes que participam nas competições europeias
mas em termos nacionais é assunto que nem falado é.
É profundamente injusto que joguem na mesma competição clubes com
passivos brutais na ordem dos 200, 300, 400 ou mais milhões de euros, que
ninguém os obriga a pagar, a par de outros com pequenos passivos (mas que tem
de pagar ao cêntimo sem qualquer contemplação ou condescendência) ou até sem
passivo.
Com a agravante de esses clubes com grandes passivos, oriundos de má
gestão, ainda poderem contrair empréstimos obrigacionistas ao mesmo tempo que
adiam o pagamento dos anteriores, terem
recurso a crédito bancário para pagamento de salários e perdões de passivo em
montante escandalosamente grandes e bem maiores que qualquer passivo de
qualquer outro dos clubes “filhos de um Deus menor”.
E por isso a esses clubes, crónicos devedores, deviam ser impostas
limitações sérias nomeadamente nas verbas que dispendem com a contratação de
jogadores e na obrigatoriedade de tectos salariais em função das dívidas.
Só para combater por estas três causas já vale bem a pena a existência
de um G-15.
Sob pena de continuarmos a ter um futebol cada vez menos competitivo,
cada vez com maiores atropelos à verdade desportiva, de dia para dia mais
fraudulento para quem paga bilhetes, paga cotas, compra lugares anuais, investe
promocionalmente em clubes e tem como retorno as mentiras que de jornada a jornada
acontecem nos estádios deste país.
Tem a palavra os clubes.
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