Devo dizer, à laia de intróito,que pensei muito antes de escrever este texto sobre a saída de Pedro Santana Lopes do PSD.
Há toda uma amizade, uma consideração, uma admiração e um respeito pessoal que se mantém evidentemente intactos mas não conseguem esconder uma profunda tristeza por uma decisão que não consigo entender por mais que me esforce ou nela tente encontrar um sentido.
Percebo a sua desilusão com o PSD actual.
É a de muitos de nós, incluindo alguns (muitos?) que votaram Rui Rio, que não se reveêm nesta forma de fazer política, nesta incapacidade de fazerem uma oposição " a sério",nestas cumplicidades cada vez mais evidentes com o PS e António Costa, neste desrespeito por acordos internos resultantes do congresso, nesta obsessão de destruírem em várias áreas o legado e a imagem de Pedro Passos Coelho.
Mas acredito que o combate para mudar este estado de coisas deve ser feito dentro do partido.
Como o próprio Pedro Santana Lopes tantas vezes fez, ao lado de Francisco Sá Carneiro e de outros lideres, de forma frontal, corajosa, sem temer nem medir os riscos.
Defendendo sempre o que entendia ser melhor para o partido, mesmo quando isso o punha em rota de colisão com as lideranças, nunca recusou os combates externos que lhe eram pedidos.
Da Figueira da Foz a Lisboa.
Entre outros relevantes serviços prestados ao PSD.
Como o de substituir um primeiro ministro de partida para a Europa sem poder recolher a legitimidade do voto popular como tanto gostaria de ter feito mas não lhe permitiram por razões que depois se viriam a entender.
Pedro Santana Lopes teve 46% nas ultimas directas recolhendo o voto de quase 20.000 militantes o que significa que quase metade do partido seguiu as suas ideias, acreditou no seu programa e se revia na sua liderança.
Respeitando-a lamento profundamente a sua decisão.
Por várias razões.
Porque os tais 46% lhe davam uma sólida base eleitoral para continuar a lutar pelas suas ideias.
Porque se Rio fracassar, o que infelizmente tem boa dose de probabilidade de acontecer, depois do ciclo eleitoral do próximo ano o partido cair-lhe -ia naturalmente nas mãos.
Porque os partidos precisam de referências e PSL era uma das ultimas grandes referências do PSD.
Porque não se deve confundir nunca o destino das instituições com o destino de quem momentaneamente as dirige.
Porque com a sua saída, e na tal hipótese de fracasso/substituição de Rio, o PSD fica com um caminho demasiadamente estreito pese embora as várias manifestações de disponibilidade que se vão conhecendo.
Porque, finalmente, nas directas de Janeiro deste ano Pedro Santana Lopes recolheu inúmeros apoios nos concelhos, distritos,regiões autónomas, estruturas do partido, de gente que deu a cara por ele, pôs a cabeça no cepo pela sustentabilidade e credibilidade da sua candidatura, de gente que nele se revia e nele acreditava como melhor líder para o partido, de gente que garantiu aos militantes o que afinal não podia garantir e toda essa gente,apenas seis meses depois, ficou de boca aberta, perplexa, incrédula sem perceber o abandono e sujeita a "cobranças" diversas por parte dos que estiveram do outro lado.
E essa gente não merecia isso!
Nem merecia esta quase "orfandade" em que se viu repentinamente mergulhada.
Pedro Santana Lopes é um político de excepcional talento mas também um homem normal sujeito a erros e acertos em cada momento em que tem de decidir.
Creio que desta vez decidiu mal.
O que não significa que deixe de ser um político talentoso e um homem Bom, merecedor de respeito e consideração, a quem desejo com toda a sinceridade que seja feliz neste caminho que decidiu corajosamente encetar.
E oxalá a sua felicidade nesse caminho possa ser compatível com a felicidade do próprio PSD.
Depois Falamos.
P.S. Nas directas de 2008 e 2018 integrei a direcção nacional de campanha de Pedro Santana Lopes.
Se a questão,por hipótese, me voltasse a ser posta hoje voltaria a fazê-lo sem qualquer hesitação.
4 comentários:
Sr. Luis Cirilo, eu votei em Pedro S. Lopes por não acreditar em Rui Rio e o tempo veio dar-me razão. Portanto estamos de acordo e o que me custa é ver que as lutas em que lutamos (algumas que o sr. se lembrará) juntos, FORAM EM VÃO! É triste ver o PPD de Sá Carneiro ser desfeito por dirigentes sem categoria moral/política social-democrata e eu pergunto-me o que ando a fazer neste partido ! Sinto-me desanimado e impotente para lutar e desde a malfadada eleição nunca mais entrei na sede actual PSD e não só por desânimo mas também por não ser informado/convidado para actividades !!! Sinceramente não sei qual será o futuro do PSD mas não lhe auguro nada de bom !!! Como eu gostaria e adoraria não ter razão mas penso que o funeral está para breve !!!!!!
Caro Fernão Leal:
Recordo-me bem de muitas dessas lutas que travamos em conjunto e acredito,ainda hoje, que a razão estava do nosso lado. E a prova disso não é difícil. Quanto ao presente partilho de todas as suas preocupações porque este PSD tem cada vez menos a ver com o PSD em que militamos há tantos anos a esta parte. Com todas as fragilidades da actual liderança, com todos os erros e omissões que a tem caracterizado, com o receio cada vez maior de que a estratégia seja de subalternização ao PS e nada mais e com um receio adicional, ainda, que é o de haver tentações geracionais sectárias para o futuro. Não falo por mim nem por si quanto a esse receio futuro mas sim pelo próprio partido. Creio que atravessamos os tempos mais perigosos da História do PSD
Caro Cirilo:
Também estou em choque, mas entendo e por vezes pergunto porque não faço o mesmo. Leia o último parágrafo da crónica de AG no «Observador» -é assim que os Homens/Mulheres Bons se sentem.
Quanto ao PSD está capturado por criaturas viscosas, idênticas ao Kosta, amaldiçoado seja. Não creio que haja volta, a corja vive do Nome PSD e quando o esgotar -como aconteceu em Lisboa- começam a morder-se -não há tachos para tantos polidores de esquina, como acontece em Lisboa.
Entretanto o caso não é só em Portugal: há realinhamento, mas também há terror, como arma política (leia o que aconteceu com a vereadora de Haia)
Cara il:
Os tempos são de reflexão para todos nós.
Percebo cada vez melhor as razões para PSL mas ainda não perdi,de todo, a esperança de o PSD ser regenerável por dentro.
Embora essa esperança diminua todos os dias.
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