A União Europeia debate-se hoje com dois sérios problemas que dele
exigirão respostas conclusivas sob pena de todo o projecto europeu poder ser
posto em causa.
Uma interna e outra externa.
A primeira delas chama-se Grécia, e pese embora os bons sinais que vão
chegando sobre a aceitação do “choque da
realidade” por parte do novo governo grego, continuará a ser uma preocupação
permanente dada a fragilidade dos acordos com um governo que vai ter de negar
em termos internos quase tudo que prometeu em campanha eleitoral.
Para além de se detectar, desde já, uma preocupante distorção da
realidade entre aquilo que acordam com o Eurogrupo e o que depois transmitem
aos gregos.
Estratégias de comunicação dirão os mais optimistas.
Semear ventos para colher tempestades dirão os mais realistas, entre
eles os portugueses que bem recordam um governo que entre 2005 e 2011 também
comunicava dessa forma.
O outro problema, quiçá mais sério, e para o qual a solução se afigura
bastante mais difícil é o da situação na Ucrânia com a permanente ameaça (pese
embora os cessar fogo) de uma guerra em larga escala que ultrapasse as
fronteiras do país e se estenda para oeste e para sul.
Para muitos a questão entre Ucrânia e Rússia é apenas uma questão de
disputa de territórios que teve o seu primeiro episódio com a anexação da
Crimeia, no pior estilo soviético, e prossegue agora no leste do território
ucraniano com a tentativa de separação de uma parte do país e integração do
mesmo na Rússia.
Será essa a questão?
É parte da questão mas não é a “questão”.
Porque embora a Ucrânia possua quase um terço dos territórios
agrícolas da Europa, e isso gere naturais “apetites”, a verdadeira razão da
ofensiva russa não é apenas essa e muito menos se cinge a isso.
Será a NATO?
E a ameaça de estender as
fronteiras da Aliança Atlântica até ás fronteiras russas?
É esse o pretexto usado por quem do lado russo pretende justificar
movimentações de tropas e avanço de fronteiras de molde a garantirem que essa
abrangência territorial da NATO não se venha a consolidar.
E nessa matéria é bem verdade que os estrategas da Aliança, e os
governos que na matéria tem opinião decisiva, não foram tão cuidadosos e
previdentes quanto deviam na análise da reacção russa que seria e será sempre
baseada na memória histórica de duas invasões (Napoleão e Hitler) que lhes
deixaram trágicas marcas em perdas de vidas e bens.
Mas do meu ponto de vista a principal razão do que se passa na Ucrânia
é o receio russo de ver a Ucrânia, mais dia menos dia, aderir à União Europeia
e construir um desenvolvimento económico e um bem estar social completamente
inaceitáveis para uma Rússia que pouco evoluiu nessas áreas desde os tempos da
União Soviética.
Hoje a União Europeia represente tudo que Putin receia.
Democracias estáveis, respeito pelos direitos humanos, economias de
mercado, progresso social, relações cordiais entre países, liberdade de
expressão, respeito pelas minorias, solidariedade entre estados.
Ver tudo isso à “porta” de uma Rússia que nada disso tem, é
inaceitável para um regimes que embora travestido de democracia na realidade
não passa do “velho” regime soviético assente numa oligarquia que se perpetua
no poder e que não está disposta a abdicar dele seja de que forma for.
Para “maus” exemplos, na óptica russa, já bastam a Polónia, os Estados
Bálticos, a Roménia que já aderiram ao projecto europeu libertando-se dos
preconceitos ideológicos e dos constrangimentos políticos que a presença no
“falecido” pacto de Varsóvia significavam.
Por isso para Putin, e para a sua oligarquia, a Ucrânia é a ultima
fronteira!
Aquela para lá da qual nunca a UE se poderá estender trazendo até
debaixo dos olhos do povo russo um modo de vida, em liberdade e desenvolvimento,
que seria absolutamente devastador para os actuais senhores do Kremlin face ás
suas fracassadas politicas económicas e sociais.
Não foi certamente por acaso (na geopolitica acasos não existem) que o
inicio do conflito na Ucrânia coincidiu com o acordo económico e comercial
entre Bruxelas e Kiev naquilo que foi um forte sinal do incómodo de Moscovo com
a aproximação entre U.E e Ucrânia.
E por isso bem andará a U.E se souber interpretar bens os sinais que
vem de Moscovo.
Desde a intervenção na Ucrânia à simpatia pelo Syriza e pela Frente
Nacional de Marine Le Pen passando pelas fortíssimas pressões económicas que
desenvolve sobre a Hungria e a Bulgária tendo como arma o gás natural, Moscovo
aposta fortemente na fragilização politica e económica da União Europeia como
forma de perpetuação do poder da
oligarquia liderada por Putin.
Essa é a “verdadeira” guerra que se trava hoje na Europa.
A guerra entre o modelo de desenvolvimento económico e social , de
liberdade politica e de democracia protagonizados pelo projecto europeu e o
regresso aos tempos da “guerra fria” e da divisão da Europa em blocos
antagónicos desejada pela Rússia.
Uma guerra que a Europa não pode perder.
Depois Falamos.
11 comentários:
Boas Luís,
Voltando à vaca fria...
A Europa tem de entender que os seus interesses e os interesses dos E.U.A. não são os mesmos.
A Rússia tem direito a uma zona de influencia junto ao seu território para se sentir segura.
É da maior importância para a Europa proporcionar os meios para que a Rússia se sinta segura nas suas fronteiras.
Qualquer tentativa contrária terá resposta severa.
A Europa e os E.U.A. explicaram na antiga Jugoslávia como funcionava a democracia.
Quebrando todas as regras do direito internacional nasceu um nado-vivo/morto chamado Kosovo.
A Rússia apreendeu a democracia Kosovar e aplico-a na Abcásia e na Ossétia do Sul, deu Russo.
Em equipa que ganha não se mexe, vamos até à Ucrânia aplicar a democracia Kosovar...
Olha, na Crimeia e no Leste Ucraniano deu Russo novamente.
É assim a democracia, ou existe moralidade ou mamam todos.
Já agora, embora tenha escrito sobre isso, deixo 1 link de quem entende da coisa...
http://www.odiario.info/?p=3598
Best Regards
Jony
O seu ódio de estimação pela ("má da fita") Rússia, é que também não se perdeu.
Embora já vá reconhecendo que a Rússia tem boas razões para se sentir ameaçada pelos movimentos, nunca inocenteces, da Nato (subentenda-se EUA e os seus cãezinhos amestrados)...
O que já não é mau, porque denota alguma evolução no seu pensamento... :)
E vem a propósito, que há uma coisa de que não podem acusar a Rússia: que é o facto de não ser um fantoche dos EUA.
Como é o caso evidente do estado português e muitos outros.
Algo que a mim, enquanto português, me envergonha.
A Rússia tem orgulho na sua história, na sua cultura, nas suas tradições, na sua língua, no seu povo!
Como já aqui referi e faço questão de escrever novamente, o povo da Crimeia nunca se sentiu ucraniano. Assim como sempre houve uma grande divisão entre a Ucrânia do leste e a Ucrânia ocidental.
De modo que estes conflitos eram expectáveis desde há muito tempo e por isso mesmo não se pode atribuir à Russia a responsabilidade da situação actual.
É também por isso que discordo em absoluto com as sanções impostas à Russia, por parte dos estados europeus, a mando dos EUA.
Até porque vão contra os interesses dos próprios estados europeus, com graves implicações na já muito debilitada economia europeia.
E vários foram os países a denotarem esse impacto negativo nas suas economias, passando desde a poderosa Alemanha, até a países mais frágeis, como são os estados do Báltico, como a Letónia e a Lituânia.
E quem é que fica a rir-se no meio disto tudo?
Pois é... São os suspeitos do costume, os seus amigos americanos!
Ah, Caro Amigo, sei que não espera da minha parte um comentário compreensivo da sua tese que respeito mas me parece longe da realidade dos factos.
Ao ler, escutar todos os médias e políticos, que são aqueles que influenciam a sua opinião, Putin seria um monstro. Não respeitando nenhuma das liberdades públicas elementares, praticando o assassinato político, desprezando as regras de ouro duma economia liberal que é devida servir de trama às relações internacionais, etc.
Breve, é justo como se Putin não substituiu Estaline na representação dos estereótipos veiculado pelos média ocidentais. Melodia da cumplicidade política e mediática, nesta relação ficcional da manipulação da informação, ao serviço dos interesses económicos dos seus comanditários.
De facto, o furor desta campanha de desinformação é fundado sobre a frustração ocidental contra um homem, que apoiando-se sobre uma nova geração de responsáveis russos, decidiu tirar a Rússia da profunda crise do fim do XX° século.
A consequência imediata é que os imensos projectos de predaçao, planificados pelo Big Business ocidental após a derrocada do regime comunista se encontraram (apesar dum bom começo graças a Eltsine), rapidamente bloqueados por um homem: Putin. Daí as campanhas histéricas nos media ocidentais.
Todo oponente à hegemonia ocidental tem direito automaticamente ao qualificativo de "terrorista" ou "ditador", a partir do momento em que possui um poder potencial de resistência.
Difícil de pôr Putin nestas listas. Então o mais simples é de fazê-lo passar por criminoso e autocrata. Só que é um homem que foi regularmente eleito à cabeça do seu pais, com um nível de satisfação dos seus concidadãos de 70%, em média. Desculpe Amigo, não há muitos neste planeta...e horror: Ele tem uma alta ideia da independência e do futuro do seu país Os nossos "Al Capone" dirigindo a "Comunidade Internacional", e protegendo as piores ditaduras na África, na América do Sul ou no Médio Oriente, não o podem suportar. Putin ? Um pesadelo!
A estratégia do Ocidente, (EUA) aquando da queda do comunismo, era de explodir a ex-URSS numa série de Estados, de manter conflitos nas suas fronteiras para a paralisar, e de saquear os imensos recursos do seu subsolo instalando e protegendo governos corruptos. Como se fez noutras latitudes.
Quase que o conseguiram! A instabilidade económica associada a uma corrupção organizada e a criação duma máfia servindo de intermediário aos interesses ocidentais, provocou uma violenta regressão da Rússia. Este grande país estava ao bordo da anarquia... Com Eltsine, os Russos conheceram uma descida vertiginosa aos infernos.
Eram tempos em que o "LOS ANGELES TIMES" comparava a Rússia a um ratinho que queria rugir!
De facto, as privatizações aceleradas, impostas pelo Ocidente via o FMI e o Banco Mundial, não tinham como objectivo de criar ou desenvolver uma classe média, mas de fazer comprar, pelas multinacionais, por uma côdea, o essencial da riqueza do país: petróleo, gás, minas (ferro, carvão, ouro, diamantes, etc.).
Foi assim que Eltsine cedeu sectores inteiros dos recursos russos por um preço derisório, a mafiosos, que meteram no bolso comissões faraónicas e preparando-se a ceder depois estas compras miraculosas, com margens que o deixo imaginar, às multinacionais ocidentais.
A Rússia veria assim o essencial das suas riquezas adquiridas a preço vil e possuídas por capitais estrangeiros. Esquema clássico das privatizações na maioria dos países em desenvolvimento que não têm a dimensão critica para resistir.
Mas a Rússia não é a Nigéria, a Arábia Saudita ou o Gabão!
Alguns destes mafiosos foram presos, julgados e as transacções em curso bloqueadas. Putin foi o homem que pôs cobro aos hold-ups americanos sobre o petróleo. Em 25 de Outubro de 2003, Mikhaïl Khodorkovski, foi preso num aeroporto da Sibéria, no momento em que se preparava a vender a "sua" sociedade Youkos à Exxon !
Claro que os Anglo-saxões amigos gritaram em nome do "liberalismo" económico", dos direitos do homem e outras indignações "democráticas".
Putin ousa opor-se aos EUA e a guerra por procuração que ele dirige na Ucrânia tem por fim de contrariar o plano de Washington de partir em pedaços a federação da Rússia, cercar a China, controlar o fluxo dos recursos da Ásia para a Europa e de governar o mundo.
A Rússia de Putin, não é comunista nem socialista, é um país de direita nacionalista que sonha dum capitalismo, capaz de dirigir uma politica estrangeira independente, com a sua própria moeda, recusando obedecer às directivas de Washington. Voilà o crime de Putin.
PS) Se um dia nos encontrarmos em Guimarães, vou procurar não esquecer uma carta que recebi dum amigo engenheiro da grande fábrica russa VAZ onde estive várias vezes e vendi uns robots há anos e que seria interessante para o meu Amigo ler.
Um abraço.
Freitas Pereira
Conto com a sua benevolência para aceitar mais este comentário. Acha que a política estrangeira Russa é mais perigosa para a paz do mundo que aquela que Obama pratica ?
Sei que lê o Francês, por isso não traduzo.
« Moi, Barack Obama (...) je considère que la situation au Venezuela (...) constitue une menace extraordinaire et inhabituelle pour la sécurité nationale et la politique extérieure des États-Unis (...) c’est pourquoi je déclare l’urgence nationale pour faire face à cette menace ». OBAMA, prix Nobel de la paix et spécialiste de la guerre.
Caro Portugal Bipolar:
A tese da "soberania limitada" aplicada por Brejnev nos tempos da guerra fria não faz hoje sentido.
E cada Estado deve ter a liberdade absoluta de seguir o caminho que entender. Se amanhã a Ucrânia quiser aderir à União Europeia e à Nato é uma decisão que lhe cabe a ela e a mais ninguém.
O que não significa que Europa e EUA deixem de considerar as especificidades da Rússia e não alinhem em estratégias que podem ser entendidas como de provocação.
Caro Mr Karvalhovsky:
Tem razão.
prefiro mil vezes os Estados Unidos à Rússia/União Soviética.
Por muitas razões mas cito-lhe apenas uma.
Os Estados Unidos desde a sua fundação como Nação não viveram um unico dia em ditadura. Enquanto a Rússia/URSS duvido que alguma vez tenha vivido um único dia em democracia plena.
É a diferença que faz toda a diferença.
Isso não invalida que não tenha respeito e admiração pelo povo russo que tem dado á humanidade grandes escritores, grandes músicos, grandes artistas, grandes cientistas.
Detesto é, visceralmente, os regimes ditatoriais que dirigem o país desde há centenas de anos.
O que não invalida que reconheça que a Euroa e os EUA devem gerir cuidadosamente,o que nem sempre tem acontecido, a sua relação geoestratégica com o maior país do planeta.
Quanto ao não atribuir á Rússia a responsabilidade na situação actual na Ucrânia o meu amigo é livre de acreditar no Pai Natal durante todo o ano.
Caro Joaquim de Freitas:
Fico sempre muito contente com os comentários que aqui traz (e quanto maiores melhores)acerca da politica internacional porque embora tendo pontos de vista diferentes dos meus,nalgumas questões, eles enriquecem substancialmente os temas que aqui procuro tratar.
Reconhecendo eu que eles resultam de uma reflexão profunda e rigorosa sobre os assuntos e de um conhecimento prático do mundo que eu bem gostava de ter mas infelizmente não tenho.
E por isso cada vez que o meu Amigo aqui traz as suas reflexões elas são motivo para eu próprio aprofundar as minhas e ver os assuntos sobre perspectivas que inicialmente não tinha.
Na questão especifica da Rússia não me custa nada concordar consigo sobre algumas das malfeitorias praticadas pelo Ocidente desde o fim da URSS até ao advento de Putin.
Nem que este tenha uma visão"moderada" chamemos-lhe assim sobre o que devem ser as relações da Rússia no contexto europeu e mundial.
Percebo até o incómodo, num país profundamente nacionalista, de ver a NATO chegar ás suas fronteiras via Ucrânia.
Mas tal como Europa e EUA tem o dever de perceberem e respeitarem as especificidades da Rússia esta também tem de aceitar que a URSS acabou e que as ditaduras que Moscovo impôs aos paises do ex Pacto de Varsóvia deixaram marcas profundas e antagonismos que vão levar gerações a passar.
E a ocupação da Crimeia e a presença de milhares de soldados russos no conflito ucraniano em nada ajudam a sarar essas feridas e a estabelecer dissuasoras relações de confiança.
Quanto a Obama e à Venezuela: é evidente que a posição americana é, no mínimo, muito exagerada quanto ao regime de Maduro nesse país sul americano. Nisso estamos de acordo.
Mas a verdade é que nem os EUA invadiram a Venezuela nem tão pouco andaram a fomentar guerrilhas de supostos separatistas/opositores.
De resto o meu Amigo sabe,até por trocas de opiniões que aqui fomos mantendo ao longo dos anos, que tenho uma admiração bem maior pela América do que pelos politicos americanos ou até sobre o discernimento do povo americano na eleição de alguns deles.
De que Geroge W. Bush é o pior dos exemplos.
Caro Amigo
Já discutimos varias vezes este tema e é verdade que as nossas posições não coincidem. Mas, rapidamente, sempre pensei que não é possível comparar a história dos EUA, da sua fundação até hoje, e a da URSS ou mesmo da única Rússia.
Se os EUA beneficiaram desde a sua fundação das forças vivas de povos europeus que emigraram, levando a raiva da miséria europeia, e a obrigação consequente de sucesso, a pesquisa da liberdade religiosa e o sonho da criação dum Novo Mundo, que efectivamente criaram em três séculos apenas, a Rússia, em 1917, tinha vinte séculos de feudalismo e opressão burguesa a apurar, o poder duma igreja conservadora que se confundia com o Estado dos Tsars, e um povo 95% analfabeto.
Os colonizadores americanos começaram por destruir toda e qualquer resistência dos povos que habitavam o imenso continente. Reduzidos à indigência e colocados em reservas, os Ameríndios desapareceram do património da humanidade.
Depois, foi aquilo que se viu. Uma sociedade violenta, durante anos sem lei, senão a do mais forte e mais rápido, lançou as bases daquilo que ainda é hoje uma característica do povo americano: Iniciativa para criar riqueza por todos os meios, nacionalismo exacerbado fundado no poder do mais forte, expansão todos azimutes onde as fronteiras foram abolidas por uma politica dita de Monroe: " A América para os Americanos". Justificando assim a interferência violenta ou subterrânea nos outros países sul-americanos, através de golpes de Estado, quase sempre violentos, e na criação de classes médias, autênticas quintas colunas do império, visando a hegemonia mundial. Aquilo que o meu Amigo critica precisamente na politica da URSS do passado e da Rússia hoje.
A Rússia vem de longe. Em 1917 não foi possível terraplenar o país pela exterminação, como na América, com um mosaico de povos por vezes muito diferentes e várias religiões. A solução aplicada aos índios da América não era possível aqui, mesmo se , na minha opinião, os "mujiks" russos viviam em piores condições que os ameríndios.
A solução de desenvolvimento escolhida: o comunismo, mais utópica que realista, porque esquecia a natureza profunda do homem, deu o resultado que se sabe : O resto do mundo caiu-lhe em cima ! A guerra civil e a guerra nas fronteiras , pelo menos até 1927, deu cabo do país.
A segunda guerra mundial acabou com o comunismo. A nomenclatura vai dirigir uma economia planificada, que resolveu os problemas essenciais do povo, mas lhe retirou aquela gana que caracteriza a iniciativa privada. O capitalismo é a melhor solução para enriquecer depressa, com a condição de aceitar as desigualdades inerentes. O homem não é fundamentalmente generoso.
Entretanto, a América construía-se, graças a uma mão de obra gratuita, a dos escravos, e o espírito de iniciativa conhecido. A liberdade, quando permite de explorar uma parte da humanidade, pode "render" muito. A América , a partir do momento em que se libertou dessa nódoa indelével da escravatura, graças a Lincoln, que a guerra civil sancionou, soube depois aproveitar das fraquezas da Europa para se içar ao comando do Ocidente , comando que ela nunca mais largou. As duas guerras fratricidas entre europeus "rendeu" largamente aos Americanos. O Grande Mercado ainda hoje não consegue desprender-se da teia de aranha imperial !
Tenho pena que o grande projecto de De Gaulle do Atlântico a Vladivostock não tenha sido escolhido pelos Europeus, que preferem continuar a reboque da América. Os Russos são europeus e cristãos ! Connosco até seria possível melhorá-los em certos aspectos! A Europa já depende deles em muitos recursos energéticos. A Sibéria é o cofre forte do Ocidente.
Sabe que é sempre um prazer escrever no seu "blogue". Espero não abusar.
J. de Freitas Pereira
Caro Joaquim de Freitas.
Começando pelo fim espero que o meu Amigo "abuse" quando e quanto quiser porque é um privilégio que faz a este blogue.
Quanto ao América vs Rússia naturalmente que no plano dos princípios estou de acordo consigo e que bom seria se a Europa fosse um espaço comum desde a costa atlântica de Portugal e Espanha até aos confins da Rússia já em plena Ásia.
Equilibraria o poder hegemónico da América e seria seguramente um enorme espaço de criação de riqueza e convivência pacífica e civilizada entre os povos.
Infelizmente parece-me que tal não será possível nas próximas gerações e por razões bem evidentes.
Ao ponto de ter já algumas dificuldades em acreditar na continuidade da própria União Europeia que me parece cada vez mais enredada nas suas contradições,nalgumas mesquinhices nacionalistas e numa tremenda falta de estadistas com a dimensão dos "pais" fundadores.
Duas notas quanto à America e à Russia:
Conheço razoavelmente bem a história da América e o papel triste que nela teve a escravatura. Que aliás foi para lá levada pelos europeus que a praticavam em larga escala nos respectivos países. Foi um problema que os americanos resolveram a duras penas com a guerra civil mas que deixou sequelas que ainda hoje vigoram na sociedade onde o racismo continua a estar presente. Como aliás se tem constatado com episódios recentes. Ainda assim conseguiram eleger um presidente negro o que deixa alguma esperança na resolução desse problema dentro de algumas gerações.
Quanto ao caminho escolhido pela Rússia depois de 1917 ele assentou numa das mais brutais ditaduras que o mundo conheceu e que custou a vida a muitos milhões de russos ao longo de décadas. Inclusive através da fome.
E passou por um acordo militar com o III Reich espartilhando entre eles a Europa de leste nomeadamente a sempre sacrificada Polónia.
Não fora Hitler ter rasgado o pacto germano-soviético e atacado a URSS e
provavelmente toda a Europa teria sido subjugada ao nazismo e ao comunismo através de um moderno "Tratado de Tordesilhas". E se é inegável o enorme contributo da URSS para a derrota da Alemanha nazi é igualmente inegável que isso só ocorreu porque o "negócio" correu mal.
Não sei se as duas guerras mundiais "renderam"largamente ao americanos.
Sei,isso sim, que se não fora o seu contributo (especialmente na II)provavelmente a História da Europa seria bem diferente. E para pior.
E uma coisa é certa: Os americanos na sua participação nos cenários de guerra europeus tiveram centenas de milhares de baixas mas terminadas as guerras não ficaram com um palmo de terreno para si que não fosse o dos cemitérios onde os seus soldados ficaram sepultados. Enquanto a Rússia deitou literalmente a mão a vários países que só décadas depois conseguiram, e nem todos, reaver a sua independência.
Enfim,caro Amigo, não estamos de acordo em algumas coisas mas essa é a grande vantagem da democracia. Podermos debater opiniões. Seguramente voltaremos ao assunto.
Onde é que se faz Like aos comentários do senhor Joaquim de Freitas?
Caro Mr Karvalhoivsky:
A sua pergunta já é um "like".
E eu,nem sempre estando de acordo com o meu Amigo Joaquim de Freitas,poria um like em todos os comentários que ao longo dos anos tem deixado neste blogue.
Porque são ricos em conteúdo, em visão do mundo e em sinceridade.
Já agora, faltava acabar "RÚSSIA – Contaminada no Ocidente com verborreias e Ramboiadas."
http://oportugalbipolar.blogspot.pt/2015/04/russia-contaminada-no-ocidente-com.html
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