O mais fácil no futebol é culpar os treinadores pelos maus resultados.
São o bode expiatório mais à mão de semear.
Podem as direcções dirigir mal, os jogadores jogarem pouco, os departamentos médicos serem ineficientes mas o primeiro a ser responsabilizado é sempre o treinador e a primeira panaceia para resolver os problemas é despedi-lo.
Despedindo um (mais a sua equipa técnica) aliviam-se as responsabilidades e culpas de muitos.
Estou naturalmente desiludido com a segunda volta do Vitória.
Com os resultados, com algumas exibições, com a falta de golos e de pontos que vem caracterizando as ultimas semanas da nossa equipa A.
E não estou de acordo com todas as opções de Rui Vitória.
Desde tácticas de jogo a opções que faz nas convocatórias, no onze inicial e nas substituições durante as partidas.
Mas estou de acordo com muitas outras.
E como eu qualquer vitoriano que goste de futebol e veja os jogos do Vitória.
Mas é assim com Rui Vitória como seria com Mourinho ou Guardiola ou qualquer outro treinador do mundo do futebol.
Porque um dos grandes atractivos desta maravilhosa modalidade é o permitir que cada um de nós seja treinador de bancada, alinhave as suas tácticas, faça as suas convocatórias , escale a sua equipa e faça as suas substituições durante o jogo.
Quero com isto tudo dizer que estando o Vitória numa crise de exibições e resultados, que nos acabrunha a todos depois do que a primeira volta nos permitiu sonhar, continuo a acreditar firmemente que Rui Vitória faz parte da solução e não do problema como outros responsáveis do clube.
E é com ele ao leme que vamos sair da crise!
Porque ao avaliarmos o actual momento da equipa temos de ter memória.
Não a memória que interessa a alguns, e que é falar de uma Taça ganha em futebol e que parece ser desculpa e justificação para tudo (ponham os olhos no basquetebol que já ganhou duas e este fim de semana vai tentar ganhar a terceira sem se ouvirem os seus responsáveis a falarem repetitivamente do passado), mas sim a memória do que tem sido o percurso de RV e da sua excelente equipa técnica nestes quatro anos de clube.
Quatro anos em que teve de reconstruir a equipa todos os anos e ás vezes mais que uma vez por ano.
Quatro anos em que teve de conviver regularmente com um balneário com salários em atraso.
Quatro anos em que viu partir os seus melhores jogadores.
Quatro anos em que lançou jovens talentosos mas pouco pôde desfrutar do seu talento.
Quatro anos em que teve muitas vezes, na defesa do supremo interesse da sua entidade patronal, de fazer cara alegre a coisas feias.
Quatro anos em que teve de assistir a invasões de treinos e intromissões nos balneários sem uma palavra de repúdio por parte de quem a devia ter tido.
Pior. Propiciadas por quem devia impedi-las.
Quatro anos em que decisões "comerciais" se sobrepuseram a opções desportivas.
E nestes quatro anos, mesmo com os seus erros próprios que são tão inegáveis quanto humanos, Rui Vitória foi o grande(quantas vezes único) factor de estabilidade da equipa de futebol A.
E por tabela do próprio clube.
Resistindo a vicissitudes diversas.
Que foram de ele próprio (para além dos jogadores como é sabido) ser "oferecido" ao mercado a ter sido nomeado no inicio desta temporada como manager com poderes absolutos na gestão do plantel (foi o que se anunciou)para depois cair na realidade de ser apenas ouvido, e nem sempre, nos vários negócios que foram feitos.
Situação que teve o seu triste corolário na transferência de Traoré para o Basileia!
Rui Vitória tem, como qualquer ser humano, as suas qualidades e defeitos.
Tem,contudo, uma qualidade extraordinária que é a de ser extremamente leal ao clube para o qual trabalha, colaborante com a sua direcção, sempre preocupado em contribuir para a resolução dos problemas e em não fazer o que quer que seja que os possa criar.
E essa qualidade que é extremamente louvável tem,porém, o condão de em certas situações acabar por se transformar num defeito.
Que é o de fazer dele o bode expiatório de situações e desencantos pelos quais não é responsável.
Aqui chegados é pois tempo de perguntar e agora Rui?
Agora o que fazer para devolver à equipa a sua aura conquistadora e a sua apetência por ganhar.
Sabemos que jogadores decisivos (Hernâni e Traoré) ou que podiam ser opções importantes (Defendi, Barrientos, Crivellaro, Amorim) já cá não moram.
E que dos chamados reforços de Janeiro apenas Valente o é de facto porque os outros não vieram acrescentar nada ao que já cá havia.
Oferecem mais diversidade mas não mais qualidade.
Mas é o que temos.
E se com o que tínhamos nos podíamos bater com Sporting e Braga com o que temos a nossa obrigação continua a ser sermos superiores a Paços de Ferreira e Belenenses.
E isso tem de começar sábado em Alvalade.
Talvez apostando nos jogadores que vão estar cá para o ano e para os quais não é indiferente ir ou não ir à Europa com a camisola do Vitória.
Talvez convocando e alinhando uma equipa, e montando a respectiva estratégia, com base na sua mais profunda convicção de que é a melhor equipa naquele momento e para aquela circunstância.
Talvez, sem abdicar da lealdade que é uma sua boa imagem de marca, compenetrando-se de que tem um nome a defender e a ambição de uma carreira a fazer e estas segundas voltas em nada contribuem para que essa ambição se revista de caracteristicas motivadoras para futuras entidades patronais.
Não sou ninguém para dar conselhos a Rui Vitória.
A não ser um adepto que quer o melhor para o clube e acredita convictamente que Rui Vitória ,tendo as suas responsabilidades no "problema", faz parte da solução necessária a devolver o Vitória ao caminho dos triunfos.
Depois Falamos.