Como tenho por hábito dizer aos amigos mais próximos,a unica vantagem que a idade traz é a experiência.
Não tem mais nenhuma.
E a experiência,por seu turno,traz-nos alguma bonomia,calma e tolerância perante os factos que a vida nos vai pondo pela frente.
Uns justos,outro injustos,muitos profundamente irónicos ,enfim a vida é o que é.
Vem isto a propósito da frequência,nos ultimos tempos intensificada,com que nos jornais ditos de referência (Expresso,Público,DN entre outros) vão aparecendo comentários,recados e insinuações acerca da vida interna do PSD oriundos de sectores pomposamente chamdos de "barrosistas" !
Normalmente na área do politicamente correcto,da manutenção do status quo,da estabilização do poder valha ele o que valer !
E como de barrosismo tenho a imodéstia, e a veleidade ,de perceber alguma coisa,ou não tivesse por lá andado sete anos ,de 1995 a 2002,nao resisto a deixar aqui duas ou três notas.
Em primeiro lugar para dizer que hoje não faz nenhum sentido falar de barrosismo.
Porque ele pura e simplesmente já não existe.
Existiu como movimento á volta de Durão Barroso,desde os meses anteriores ao célebre congresso do Coliseu,na sucessão de Cavaco Silva,e reunia sectores do partido que entendiam ser Barroso a melhor solução para o PSD.
Depois da derrota perante Fernando Nogueira,e alguns barrosistas de hoje podem bem explicar as circunstancias em que essa derrota aconteceu,o movimento "adormeceu" durante três anos vindo a ressurgir com o naufragio da AD de Marcelo.
Visava essencialmente,em duas etapas,levar Barroso a lider do PSD e a primeiro ministro de Portugal.
O primeiro objectivo foi fácil de atingir,enquanto o segundo foi alcançado a duras penas.
Em que,curiosamente,nunca vi alguns dos "barrosistas" de hoje,então como agora tranquilamente refugiados no politicamente correcto.
E essas duras penas,estenderam-se de 1999 a 2001,porque depois da vitória das autárquicas e da fuga de Guterres,percebendo-se que Barroso ia "chegar lá",por puro passe de mágica transformou-se num lider de grande abrangência.
Que aliás foi a sua perdição,mas isso são outros contos.
Como ás vezes comentava como meu amigo José Correia,ele sim um barrosista puro e duro desde a primeira hora,a abrangência era a "doença infantil" do barrosismo.
Mas de 1999 a 2001 foi duro.
Atacado por santanistas e mendistas,com uma violência e uma constância quase asfixiantes,Barroso e os que o rodeavam tiveram,de facto,de ser senhores de uma resistência e de uma persistência (e Barroso nessa matéria foi exemplar)extraordinárias para levar a nau a bom porto.
Por isso me rio,com um misto de ironia e de desprezo,quando vejo algumas das "virgens púdicas" que constituem o nucleo duro de Marques Mendes tão afrontadas com algumas criticas,alias justissimas,de que o actual lider é alvo.
É gente de fraca memória,que já nem se lembra dos tempos em que nas reuniões do grupo parlamentar tinham os telemóveis ligados para os jornalistas amigos poderem,nos corredores,ouvir o teor das intervençoes criticas contra Barroso.
Claro que os desligavam durante as intervenções dos apiantes de Barroso que eram,aliás,em bem maior número.
Adiante.
O "Barrosismo" enquanto tal terminou em 2002,exterminado pelo próprio Barroso,que decidiu depois de ganhar as eleições misturar amigos com inimigos,gente leal com gente que tudo tinha feito para o impedir de ter sucesso,barrosistas da primeira hora com "cristãos novos" ainda ofegantes pelo esforço feito a executarem as necessárias piruetas.
Foi uma opção legitima,abrangente como ele tanto gostava,mas que tirou todo o sentido ao barrosismo e aos barrosistas.
Alias importará aqui recordar,apenas por uma questão de memoria histórica,que se alguns dos que agora falam em nome do barrosismo,o tivessem apoiado desde a primeira hora,tudo teria sido diferente no PSD e em Portugal desde 1995 !
Não o fizeram,foi uma opção tão legitima como outra qualquer.
Por isso,quando hoje se fala em opiniões barrosistas,não deixa de ser sintomático que se fale apenas de alguns barrosistas.
Aqueles ,quase todos embora admito que com excepções,que defendem as politicas do status quo,do imobilismo,do apoio a quem está no poder.
Sim,porque há outros.
Que apoiaram Barroso desde a primeira hora,que coabitaram com Marcelo mas sem perderem a identidade própria,que estiveram na primeira linha de combate de 1999 a 2001,que foram com Barroso para o governo(ou não),que por solidariedade com ele ficaram ao lado de Santana Lopes mas que nunca se renderam a Marques Mendes.
Precisamente por terem memória !
Mas esses,curiosamente,nunca são citados .
Por isso com a tolerância propria do avançar dos anos,até compreendo que á falta de exército e de votos,alguns gostem de passar a ideia de pertencerem a uma familia poderosa,influente e com uma palavra a dizer.
Desiludam-se.
O barrosismo é hoje como aqueles fidalgos arruinados,que tem pergaminhos,memórias e nostalgia de um poder ido.
Mas não tem mais nada !
Abandonados pelo patriarca que emigrou,não para o Brasil como no século XIX mas para Bruxelas,sem hostes para negociarem ou com o soberano ou com o pretendente ao trono,os auto denominados barrosistas socorrem-se apenas de uma comunicaçaõ social pouco exigente e avessa á investigação para fazerem prova de vida.
No fundo,com respeito e amizade por alguns,acho que vivem no mundo cada vez mais virtual da politica lisboeta.
Onde o parecer quase equivale ao ser.
O problema é que nas directas ou se tem votos ou... não se tem votos.
O parecer ter não serve para nada.
É a vida...
Depois Falamos