Neste quadro, a que faltam partidos mas que em nada prejudica a análise que a seguir se fará, está grosso modo o cenário da nossa política e aqueles que são os seus principais protagonistas.
Creio que do centro para a esquerda se pode falar de um quadro perfeitamente estabilizado com o PS, cada vez mais a inclinar-se para a esquerda e a afastar-se do centro, com o PCP e o BE como as três grandes forças partidárias que, desde 2015, quando necessário se entendem em defesa do "status quo" e que no resto do tempo fingem ser poder e oposição.
Também já só enganam quem quer ser enganado.
Temos depois o "Livre", nascido de uma fractura no BE, que com o disparate Joacine Katar Moreira se arrisca a ser varrido do mapa e o MRPP que é uma espécie de curiosidade arqueológica condenado a uma extinção praticamente certa num tempo não muito distante.
Há também o PAN, que ideologicamente ninguém sabe muito bem o que é (desconfio que nem eles próprios...) mas que como costuma alinhar à esquerda, dando a mão ao governo sempre que é preciso, consideremos para efeito de análise como de esquerda.
Em suma a esquerda tem a "casa" definida e arrumada pelo menos até ao dia em que o BE e o PCP/CDU, sabendo que o PS lhes está a dar o abraço que os sufocará, decidam cortar radicalmente com os socialistas.
Em bom rigor já ambos perceberam, com o BE a tentar distanciar-se e o PCP a tentar fazer de conta que é oposição, mas tem o rabo preso como se costuma dizer e ambos vão sair da geringonça mais pequenos do que lá entraram.
Do centro para a direita é que as coisas não estão nada famosas.
O PSD está mais ou menos na sua posição de sempre mas mais fraco que nunca e ninguém, salvo o circulo muito próximo da actual liderança, o vê como alternativa ao PS.
Sozinho é impensável e acompanhado cada vez mais problemático.
Depois há o Chega, claramente da direita pura e dura, que é nesta área política o único a quem a vida corre bem e continua a crescer a bom ritmo (embora as autárquicas não vão corresponder ao que delas esperam) a caminho de uma dimensão à direita equiparável à do BE à esquerda tornamdo-o no actual quadro indispensável a qualquer acordo governativo à direita se a questão se puser o que já é em si bastante duvidoso para os anos mais próximos.
Depois há PPM e MPT, nascido de uma já longínqua cisão nos monárquicos, que são partidos que dão jeito para formar coligações face ao seu perfil ecologista embora não tragam para esses "casamentos" um dote de votos com significado.
E vamos ao cerne da questão á direita.
CDS, Iniciativa Liberal e Aliança.
CDS em esvaziamento acelerado, Iniciativa Liberal em crescimento muito moderado e Aliança a procurar um segundo folêgo depois de duas eleições que lhe correram mal e de um surto pandémico de abandonos que não matou o partido mas o deixou naturalmente debilitado.
Creio que por si só cada um deles tem poucas hipóteses de ser relevante no futuro.
O CDS porque já foi um grande partido mas depois foi diminuindo até à liderança de Paulo Portas que lhe deu uma nova vida e o transformou num partido de governo em duas ocasiõess (com Durão Barroso/Santana Lopes e depois com Passos Coelho) mas com o fim do governo Passos Coelho e o abandono da liderança do partido por Portas a queda tornou-se irreversível quer com Assunção Cristas quer com Francisco Rodrigues dos Santos que não é, manifestamente, um líder que convença quem quer que seja e contrasta com outras lideranças do passado exercidas por grandes figuras da nossa política como o citado Portas, Freitas do Amaral, Lucas Pires ou Adriano Moreira.
A Inicitiva Liberal, senhora talvez da melhor comunicação política de Portugal, tem um problema inultrapassável e que dificilmente lhe permitirá crescer para lá de um limite razoavelmente modesto que é o facto de ser um partido das élites urbanas de Lisboa , Porto e pouco mais sem qualquer expressão em grande parte do país.
E isso "condena-a" a nunca poder ser um grande partido capaz de disputar triunfos eleitorais mas apenas um partido que pode integrar coligações mas nunca as liderará.
Aliás basta ver a forma como abordaram as próximas autárquicas, de nariz empinado parecendo que não precisam de ninguém quando a realidade é a de não conseguirem ter listas em praticamente lado nenhum, para se perceber o que atrás foi dito relativamente a élites.
Quanto à Aliança foi fundada em 2018 e cresceu a bom ritmo até ao congresso de Évora (única altura em que foi um grande partido como costumo dizer) que foi um sucesso e acelerou o crescimento até às eleições europeias nas quais sofreu uma enorme desilusão com a não eleição de Paulo Sande.
A partir daí as coisas pioraram; Gente que era para entrar não deu o passo em frente e já não entrou e outra que tinha entrado começou a pensar se não seria melhor dar um passo ao lado a preparar o passo atrás e isso levou a que o partido chegasse às legislativas mais frágil do que seria suposto.
Correram mal, deu-se a tal pandemia de abandonos nos meses seguintes, e agora o partido procura uma segunda vida nas autárquicas participando em várias coligações de norte a sul e concorrendo em listas próprias nalguns concelhos (Torres Vedras, Amares, etc) em busca de uma representatividade autárquica que será pequena mas existirá.
Dito isto parece-me evidente que a direita tem de se reorganizar e essa reorganização deverá começar por estes três partidos - CDS, IL, Aliança- que do meu ponto de vista teriam tudo a ganhar se se fundissem num único partido, liberal e de direita, aproveitando aquilo com que cada um dos três pudesse contribuir para essa futura organização e superando as naturais , mas não inultrapassáveis, diferenças programáticas entre eles.
Dando de barato que o PSD um dia equilibrará forças com o PS (como ao longos de tantos anos aconteceu) e o Chega compensará à direita o peso do BE à esquerda este novo partido deveria ter como objectivo primeiro o atingir um peso eleitoral idêntico ao da CDU para que de facto o quadro político ficasse equilibrado e não a pender claramente para a esquerda como actualmente.
Sei que é um desafio difícil.
E que os pequenos egoismos, as pequenas vaidades, as pequenas presunções tornam muito difícil esse entendimento e essa fusão.
Mas estou certo que se isso não acontecer o futuro não será fácil para CDS, Iniciativa Liberal e Aliança.
E, pior ainda, nada trará de bom a Portugal.
Depois Falamos.
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