Soube da triste notícia quando, em viagem, recebi via WhatsApp a mensagem de um amigo a comunicar-me que tinha falecido o nosso comum amigo Francisco Martinho.
Embora não totalmente surpreendido, porque sabedor dos problemas de saúde que o apoquentavam, foi um choque brutal o desaparecimento de um amigo de mais de quatro décadas e com quem mantive inúmeras horas de conversa, quer pessoais quer telefónicas, ao longo de todo esse tempo.
Conheci Francisco Martinho em 1975.
Era ele, como foi durante mais de trinta anos, o responsável pela sede e secretaria do PSD de Guimarães onde ao longo dessas décadas passava as noites de segunda a sexta feira terminado o seu dia de trabalho como chefe de secretaria do Lar de Santa Estefânia.
E desde logo, desde esse tempo tão remoto, identificamos pontos de interesse comuns e que ambos partilhavamos com fervor.
O andebol, modalidade a que ele dedicou boa parte da vida associativa( tendo sido o fundador da secção de andebol do Vitória) e eu fui praticante da mesma, Guimarães a nossa Terra e o PSD partido em que estive desde 1975 até 2018 e ele serviu durante grande parte da sua vida sem nunca ter sido militante.
Mas acima disso, bem acima de tudo isso, o Vitória Sport Clube!
Uma paixão que o acompanhou toda a vida, uma causa pela qua muito lutou e muito escreveu na imprensa local, um clube que conhecia e de que falava com uma sabedoria de que muito pouco se poderão orgulhar.
Com ele aprendi muito sobre o nosso clube.
Recordarei sempre muitas dessas conversas tidas nas duas sedes do PSD na praça do Toural.
Onde ele passava, como já atrás disse parte da noite, tratando do expediente do partido num tempo em que sem internet (à qual nunca se converteu), sem computadores nem impressoras, sem telemóveis, todo o trabalho dava mais trabalho ainda porque tudo era feito à mão e a simples comvocatória de um plenário demorava semanas a preparar porque eram feitas por carta individualizada, as cartas tinham de ser metidas em envelopes, nos envelopes era preciso colar as etiquetas e por aí fora numa "mão de obra" que as novas gerações nem imaginam.
E em muitas dessas noites enquanto alguns voluntários ajudavam a tratar do expediente formavam-se animadas tertúlias onde o assunto não era a política (embora estivessemos na sede de um partido) mas sim o Vitória e os seus assuntos mais mediáticos com debates bem animados e bastas vezes...acalorados.
Noutras noites, quando a disponibilidade mo permitia, passava pela sede apenas e só para conversar com ele, no sossego de uma conversa a dois, e "bebia" muitos dos seus ensinamentos, memórias e perspectivas de futuro quanto ao clube que era , a seguir à família, aquilo a que ele seguramente dedicava mais atenção e mais carinho.
Durante mais de quarenta anos foi assim.
Na sede do PSD, quando nos encontrávamos na rua ou no estabelecimento comercial do meu Pai onde ele passava quase todos os dias, na rua da Raínha perto do "Chico das Novidades" onde ele gostava de estar ao final da tarde a falar com amigos...sobre o Vitória , em todo o lado onde nos encontrássemos o assunto era sempre esse. Vitória!
Depois por razões da vida de cada um, especialmente da minha, fomos-nos encontrando menos vezes mas havia sempre um telemóvel (a que ele se converteu tarde) para ir actualizando a conversa e as novidades sobre o nosso clube.
Nos últimos anos, já ele reformado da sua actividade profissional no Lar de Santa Estefânia e da secretaria do PSD (onde continuava a ir, agora de manhã, para dar apoio às pessoas que lhe sucederam na secretaria mas também porque havia um vinculo afectivo que quis manter) criamos um hábito regular que era o da conversa das segundas feiras de manhã para falarmos do jogo do Vitória no fim de semana anterior e escalpelizarmos o resultado, a táctica, as substituições e tudo o mais que envolve um jogo de futebol.
E todas as segundas feiras, por volta das onze horas, telefonávamos um ao outro para uma meia hora de conversa (às vezes bem mais se o jogo tinha corrido mal...) que nos dava um enorme prazer e era o renovar semanal de uma velha e consistente amizade.
São muitas as memórias dessas conversas. Muitas e inesquecíveis.
A pandemia veio de alguma forma suspender isso.
Não havia jogos e por isso falamos menos vezes.
Das últimas vezes que tentei contactá-lo já não foi possível e amigos comuns deram-me conhecimento do agravamento do seu estado de saúde.
Hoje foi o desfecho que se temia mas também se adivinhava.
Francisco Martinho foi um grande vimaranense e um grande vitoriano que deixou uma marca profunda na sua terra, no seu clube , na imprensa local onde colaborou durante muitos anos, nas instituições que serviu e em todos quandos tiveram a sorte de serem seus amigos.
Pessoalmente recordá-lo -ei sempre como um amigo que me transmitiu valores, ensinamentos, paixão pelas causas, que nunca esquecerei.
Foi ele que me incentivou, há mais de trinta anos, para começar a escrever para a imprensa regional sendo um leitor atento desses textos como mais tarde se tornou também um leitor do meu blogue "Depois Falamos" através dos prints que lhe faziam chegar porque internet não era de facto com ele.
Quantas vezes me telefonava para falar sobre este ou aquele texto, elogiando ou fazendo reparos, mas sempre com uma amizade e uma postura construtiva que me deixavam sensibilizado.
Não me esquecerei nunca do que me ensinou sobre o Vitória como não esquecerei os sonhos que partilhavamos para o nosso clube (que ele infelizmente já não verá cumpridos na sua vida terrena)
e que acredito um dia serão realidade.
Se há texto que me custou a escrever e que não gostaria de escrever nunca foi este.
Ainda por cima já não está cá, para entre duas baforadas do seu inseparável cigarro me dar a sua opinião, o meu amigo Francisco Martinho.
Depois Falamos.
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