quinta-feira, setembro 24, 2020

Excepção

 Há cerca de duas semanas tinha aqui escrito um texto sobre a pouca vergonha constituída pelo simulacro de democratização das CCDR com eleição dos presidentes e de um vice presidente em cada (o outro vice é nomeado pelo governo...) por parte dos autarcas das regiões e não por todos os eleitores dessas mesmas regiões como faria sentido sendo o processo assim.
E pouca vergonha porque o que se devia estar a eleger eram os executivos regionais, no âmbito de uma regionalização que está na Constituição desde 1976 mas que os grandes partidos que tem alternado no poder tem evitado quanto podem, e não presidentes e vice presidentes de CCDR´s para fazer de conta que se está a democratizar alguma coisa.
Mas não está.
E não está porque num vergonhoso processo de partilha o dr. Costa e o Dr. Rio sentaram-se à mesa e fizeram um "tratado de Tordesilhas", com o primeiro a escolher os presidentes de três regiões e o segundo os dois restantes, dando depois ordens (sem aspas) aos respectivos autarcas para votarem conforme as instruções dos seus líderes arvorados em patrões.
O dr. António de Oliveira Salazar não faria melhor.
Ou se calhar até fazia porque sendo um ditador assumido (há quem o seja mas não o assuma) era também um homem extremamente inteligente e um político tão arguto quanto astucioso.
Costa e Rio não possuindo essas qualidades de Salazar (também não possuirão, admito, alguns dos defeitos) limitaram-se a decidir como lhes apteceu convictos de que os autarcas são uns paus mandados que que atentos, veneradores e obrigados farão o que lhes mandarem no âmbito desse oficioso, mas existente, Bloco Central de interesses.
Pode ser que se enganem porque em quatro das cinco regiões há candidato único, sendo os de Norte e Centro indicados pelo PSD (embora no caso do do Norte me apeteça sorrir...) enquanto os de Lisboa e Vale do Tejo e o do Algarve são indicados pelo PS, mas no Alentejo verifica-se uma honrosa excepção à regra com a candidatura independente, hoje conhecida, do actual presidente da CCDR Roberto Grilo em compita com o candidato escolhido pelo PS.
E pode ser que se enganem, Costa e Rio, porque se em quatro regiões o descontentamento dos autarcas apenas poderá ser manifestado através da abstenção ou do voto branco ou nulo já no Alentejo os autarcas poderão dar uma bofetada de luva branca nos dois compinchas centralizadores e autoritários elegendo Roberto Grilo e provando que são gente com opinião própria e autonomia decisória e não uns meros serventes dos seus chefes partidários.
Tenho sincera pena que noutras regiões do país não tenham surgido mais candidatos independentes, com a coragem de Roberto Grilo, para porem em causa os vergonhosos acordos celebrados nas costas dos autarcas por António Costa e Rui Rio.
Mas as coisas são o que são.
E sendo o que são há que olhar esta eleição (a única porque no resto são nomeações dos chefes) como uma extraordiária possibilidade de valorizar a democracia contra o autoritarismo, a independência dos autarcas contrs os que os veem como meras correias de transmissão, a existência de vida para lá dos partidos contra aqueles que acham que tudo se resume à partidocracia.
Talvez por isso, seguramente por isso a candidatura independente de Roberto Grilo é subscrita, a fazer fé na comunicação social, por autarcas do PS, PCP, PSD, CDS, BE e Independentes.
Do Alentejo vem a esperança para uma democracia melhor!
Depois Falamos

P.S. Convém recordar que enquanto os candidatos dos partidos tem que formalizar as candidaturas apenas com uma cartinha do respectivo partido a indicá-lo como candidato os candidatos independentes tem de ter a candidatura subscrita por 15% do colégio eleitoral.
Mais uma forma que o Bloco Central encontrou para "estimular" a participação dos cidadãos na vida política.

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