Não existem aparelhos que por si sós possam aferir da qualidade da
democracia que se pratica num país, numa região, num distrito ou num município
o que não deixa de ser pena porque certamente proporcionaria algumas surpresas
face aquilo que se vai vendo por aí e conformaria que nalguns lados é mais
fachada do que essência.
Mas seguramente um dos indicadores que melhor nos mostram essa tal qualidade(
ou falta dela) da democracia é a existência de imprensa livre, independente dos poderes políticos e que
pratique uma informação isenta onde todas as correntes de opinião possam ter
expressão adequada.
Portugal viveu muitos anos, os da ditadura, sem que existisse
liberdade de expressão e com a comunicação social que não era estatizada ( RTP
, a então chamada Emissora Nacional hoje RDP e alguns jornais) a ter como
condição da sua sobrevivência o não criticar o regime para lá do que a censura
lhe permitia e que era...nada!
Mas havia sempre umas frases de duplo sentido, umas afirmações nas
entrelinhas, umas referências que pareciam ser a uma coisa mas eram a outra que
escapavam ao lápis azul dos censores mas que uma vez “identificadas” como
gestos oposicionistas valiam aos seus autores e aos jornais que as publicavam
sérios aborrecimentos.
Foi assim durante 48 anos embora os últimos quatro ou cinco, equivalentes
ao governo de Marcelo Caetano tivessem sido de algum afrouxar da censura e
consequente possibilidade de se começarem a ler algumas coisas que nas quatro décadas
anteriores não se liam.
Foi, por exemplo, o caso do semanário Expresso que fundado em 1973
teve um primeiro ano de vida de constantes enfrentamentos com a censura muito
por força da sua irreverência em abordar temas até então proibidos e também da
coluna “Visto” assinada por Francisco Sá Carneiro e que muito irritava o
regime.
O 25 de Abril , com a conquista da Liberdade, teve entre outros o
efeito de abrir o mundo da comunicação social surgindo então muitos e muitos
jornais que da direita à esquerda proporcionaram uma cobertura extremamente
abrangente do fenómeno político e que conheceram êxitos de vendas num tempo em
que os portugueses estavam ávidos de acederem ao máximo de informação possível.
Com a curiosidade de se terem vindo juntar a muitos que já existiam
durante a ditadura porque a democracia encerrou muito poucos .
E Portugal teve então dezenas de jornais diários, matutinos e
vespertinos (hoje não existe um único), semanários de grande informação e
revistas naquilo que foi um verdadeiro maná para quem gosta de ler e de andar
informado.
Depois com o passar dos anos muitos desses projectos foram
desaparecendo porque o mercado publicitário se revelou incapaz de sustentar
tantos títulos e as vendas não chegavam por si só para fazerem frente a todas
as contas que havia para pagar no final de cada mês.
E assim fecharam diários históricos como os portuenses “ O Primeiro de
Janeiro”e “Comércio do Porto”, o também portuense tri semanário “Norte
Desportivo” enquanto em Lisboa títulos históricos como os diários “Diário
Popular”, “Século”, “Diário de Lisboa”, “República” acompanhados pelos semanários
“O Jornal”, “Tempo”, “independente”, ”Se7e”, pelos desportivos “Gazeta dos
Desportos” e “Mundo Desportivo” e por revistas como a “Flama”, “Vida Mundial”, “Século
Ilustrado”, “Grande Reportagem” ou “Kapa” conheciam igual sorte.
Eles e outros que também poderiam ser citados.
É do meu ponto de vista inquestionável que estes encerramentos, na sua
esmagadora maioria provocados pelos tais constrangimentos económicos, prejudicaram
gravemente a pluralidade informativa e reduziram drasticamente o espaço de
opinião que todos esses títulos abundantemente garantiam.
O que tem óbvio reflexo na informação que temos hoje concentrada em
poucos diários, poucos semanários, pouca irreverência, pouca investigação, pouca
independência do poder económico e por tabela do poder político.
E se é assim a nível nacional, se são esses os problemas e respectivos
reflexos, a nivel regional e local são naturalmente agravados.
Assunto que abordarei na próxima semana!
2 comentários:
Fico a aguardar com expetativa o artigo da próxima semana.
Porque sobre a comunicação social local e os fretes que fazem à Câmara e ao Vitória há mesmo muito a dizer
Caro Carlos Ferreira:
Esperemos que goste
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