Há uma declaração de interesses a fazer, em nome da clareza, mas que
em nada interfere no conteúdo analítico das linhas que se seguem e que versam o
triste estado do Real Madrid no que está a ser um doloroso pós Ronaldo.
E essa declaração de interesses é muito simples e consta de reafirmar
que não gosto do Real Madrid !
Nunca gostei.
Porque em regra, e não apenas em Espanha, não gosto das principais equipas
sediadas na capital do respectivo país por entender que todas elas (muito mais
nuns casos que noutros) tem benesses, benefícios e prebendas que os outros
clubes que disputam os respectivos campeonatos não tem nem podem sonhar ter.
O Real Madrid, em Espanha, é um caso por de mais evidente de um clube
historicamente levado ao colo pelo poder independentemente desse poder ser
democrático, como agora, ou ditatorial como no tempo do general Franco em que a
protecção ao clube foi de tal ordem que o governo até interferia na contratação
de jogadores como aconteceu no caso de Di Stéfano que ia para o Barcelona e
acabou no Real Madrid com todos os efeitos que isso teve na conquista de
títulos e troféus pelos “blancos”.
Um pouco o que aconteceu em Portugal com a disputa por Eusébio entre
Benfica e Sporting.
Mas essa não simpatia, porque não é mais do que isso como é evidente,
estende-se a França onde nunca gostei do PSG, e menos ainda na actualidade
quando os milhões de proveniência duvidosa o puseram a jogar “sozinho” na Liga
e a ameaçarem a Champions, a Itália onde Roma e Lázio nunca foram clubes que
apreciasse, a Inglaterra relativamente a Arsenal e Chelsea (em Londres há
tantos clubes que era difícil não gostar de todos ...) e por aí fora em relação
a outros países em que regra é a mesma.
Voltemos a Madrid.
Onde tenho alguma simpatia pelo Atlético, que é um clube de grande
base popular e que tudo que vence é arrancado a ferros, mas não tenho de facto
nenhuma simpatia pelo Real nem pela forma como este clube se posiciona
especialmente desde que Florentino Perez chegou à sua liderança muitos anos
atrás na sua primeira fase como presidente.
E não aprecio porque a arrogância, a sobranceria, o “posso quero e
mando” , a convicção de que a força do dinheiro tudo resolve aliados a uma
inegável ignorância futebolística levaram a que o actual presidente madridista
se tenha posicionado no mundo do futebol como um autêntico “espalha brasas”
convicto de que a sua vontade é lei.
Tudo começou com Figo.
A primeira transferência galáctica do mundo do futebol que quebrou
barreiras em termos de dinheiro gasto e abriu uma espiral inflaccionária que nunca
mais parou até aos dias de hoje sempre com o contributo do presidente merengue.
A seguir a Figo foi Zidane, depois Beckam, Ronaldo (brasileiro) e por
aí fora construindo equipas que ganharam alguns troféus importantes (mal era
também se não ganhassem)mas que davam sempre a sensação de que os critérios
comerciais pesavam muito mais nas escolhas do que os critérios desportivos.
Para lá de uma falta de escrúpulos e ética desportiva que começaram
com a forma como foi buscar Figo ao Barcelona (muito por culpa do próprio
jogador também) e foram usados sempre que deu jeito para atingir determinados
objectivos.
Um dia chegou a Madrid Cristiano Ronaldo.
Curiosamente a mais importante transferência da História do clube,
face ao rendimento do jogador, atingiu os habituais valores galácticos mas não
foi feita por Florentino Perez mas sim pelo seu antecessor Ramón Calderón pouco
antes de sair da presidência e dar lugar
à segunda etapa de Florentino como presidente.
E pese embora o extraordinário rendimento do jogador durante os nove
anos em que vestiu de branco ficou sempre a sensação de que não era um jogador
do presidente que por ele nutria o respeito devido a quem tanto fez mas por ele
nunca teve o carinho que nutriu por outros como Bale por exemplo.
E em bom rigor de há dois ou três anos a esta parte que se percebia
que Florentino não se importaria de prescindir de Ronaldo, desde que bem pago
por quem o levasse, para promover a estrela maior do clube um dos “seus “jogadores
e preferencialmente Bale.
Foi este ano.
E perante a incredulidade dos adeptos, e do mundo do futebol em geral,
Ronaldo foi para a Juventus farto de Florentino Pérez e da falta de
reconhecimento do clube perante aquele que foi sem sombra de dúvida o maior
jogador do seu historial.
Os resultados estão à vista.
Mas não contente com finalmente se livrar de Ronaldo o presidente
madridista, que também se viu privado de um Zidane farto de o aturar, com a falta
de escrúpulos que o caracteriza não se importou nada de “rebentar” com a
própria selecção espanhola a dois dias de começar o Mundial indo buscar o
seleccionador Lopetegui para treinar o seu clube.
Os resultados estão igualmente à vista.
E com dez jornadas disputadas o Real Madrid arrasta-se no nono lugar a
sete pontos de um Barcelona que também não está a fazer grande campeonato (ai
se estivesse...) mas que mesmo assim chegou para aviar o eterno rival com uma
cabazada de 5 a 1 no jogo do passado fim de semana.
Por tudo isso considero que esta época cada derrota do “Real
Florentino Pérez Madrid” é uma saborosa vitória do futebol!
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