O meu artigo desta semana no jornal digital "Duas Caras".
Semanas atrás escrevi neste espaço um texto sobre os problemas que a
informação livre encontra em democracia, com o mesmo titulo deste, e que
versava a temática de as dificuldades económicas que o país viveu nalguns
ciclos influenciarem de forma profundamente negativa o pluralismo informativo e
portanto a própria qualidade da informação.
Naturalmente que se a nível nacional isso levou à extinção de muitos
orgãos de comunicação social, e a que outros funcionem no “vermelho” em termos
económicos e também na qualidade (ou falta dela) da informação prestada, também
a nível local isso teria de se fazer sentir e de forma ainda mais evidente.
Não conheço em pormenor a realidade informativa do distrito de Braga mas
sei o suficiente para constatar que os efeitos das tais crises económicas
também tiveram repercussões muito negativas nos orgãos de comunicação social do
distrito com o fecho de vários títulos e o funcionamento nos limites de vários
outros, nomeadamente rádios locais, não sendo para admirar que em termos
futuros o panorama se venha a agravar.
Guimarães não foge à regra.
Quando se deu o 25 de Abril a comunicação social no concelho consistia
essencialmente em três semanários com
realidade bem diferentes.
O “Notícias de Guimarães” de longe o mais lido, mais vendido e com
mais assinantes no país e no estrangeiro e que dirigido desde o seu início por
Antonino Dias Pinto de Castro tinha uma certa abrangência política nele
colaborando defensores do antigo regime a par de democratas que posteriormente
viriam a assumir algum protagonismo em termos locais e não só.
Existia o “Comércio de Guimarães”, que ainda hoje se publica e é o
mais antigo título do concelho em termos de publicação ininterrupta, que vivia
com grandes dificuldades e com muito
poucos leitores ao que se sabia então.
E existia o “Notícias de Vizela” com informação essencialmente
centrada naquela zona do concelho e muito pouco lido na cidade e noutras zonas
concelhias.
Em termos de informação as diferenças não eram grandes porque todos
eles vivam debaixo dos ditames da censura que não permitia qualquer tipo de
pluralismo em termos de informação e opinião.
O pouco que existia era muito disfarçado nas entrelinhas, nas frases
de duplo sentido, naquilo que não era escrito mas era intuído.
Com o 25 de Abril em Guimarães, como no país, tudo mudou.
A começar pelos jornais.
Porque aos que existiam rapidamente se vieram juntar outros aumentando
o leque informativo, a pluralidade de opiniões e naturalmente as opções dos
leitores que eram então muito mais ávidos de informação do que me parecem ser
hoje.
Aquele que merece uma primeira referência é o “Povo de Guimarães”.
Surgido nos primeiros anos pós 25 de Abril assumiu desde logo, até
pela orientação dos seus fundadores, um posicionamento claramente de esquerda
com colaboradores da área do PS , do PCP e da extrema esquerda sendo agente
activo na defesa das posições dos partidos de esquerda “empurrando” o “Notícias
de Guimaraes” para uma área mais conservadora e de alguma identificação com o
CDS.
O “Povo de Guimarães” teria um papel importante, embora mal
reconhecido por quem de direito, na conquista da Câmara ao PSD em 1989 porque no
segundo e último mandato de António Xavier fez uma oposição mais visível e
eficaz do que o próprio PS.
Com um jornal claramente de esquerda, um “Comércio de Guimarães”
também encostado à esquerda e um mais à direita o leque estava algo “incompleto”
e a lacuna seria suprida com o aparecimento já nos anos oitenta do “Toural” que
surgindo como um jornal independente e pluralista (e sempre o foi) tinha na sua
génese a defesa de posições na área do PSD até por força do posicionamento de
alguns dos seus fundadores entre os quais me incluía.
Estava assim coberto o leque partidário por quatro semanários , todos
muito diferentes uns dos outros, que asseguravam uma larga pluralidade
informativa e permitiam que todas as áreas políticas tivessem canais de
expressão através dos colunistas e colaboradores desses jornais.
Com a característica comum a
todos de independentemente do seu posicionamento ideológico manterem uma
razoável independência dos poderes políticos, financeiros e até desportivos.
Os anos oitenta e noventa do século passado foram, do meu ponto de
vista, os melhores tempos da imprensa vimaranense!
Em independência dos poderes, em pluralidade de opiniões, na qualidade
da informação que veiculavam.
(Continua)
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