Durante os 48 anos de ditadura o seu inspirador e dirigente máximo durante décadas, António de Oliveira Salazar, sempre utilizou a trilogia "Fátima-Futebol-Fado" para iludir o povo fanatizando-o em volta da religião, dos êxito internacionais de uma modalidade (do mundial de 1966 aos títulos europeus do Benfica) e de uma expressão musical para esconder a ditadura, a falta de liberdade e democracia,a censura, a polícia política, a pobreza, o atraso cultural e o problemas das guerras de África.
Um dia Salazar caiu da cadeira.
E poucos anos depois o regime também caiu de podre num tempo em que perdera todas as possibilidades de uma transição para a democracia e de uma paz honrosa nos teatros de guerra.
Caiu o ditador, caiu a ditadura mas ficou o salazarismo.
Não como ideologia mas como mentalidade.
E hoje, quarenta e três anos depois da queda da ditadura constata-se que foi mais fácil tirar os portugueses do salazarismo do que o salazarismo (bafiento) de alguns portugueses, face ao que se vai vendo por aí.
Fátima continua na moda.
Menos alienante do que no Estado Novo mas sempre como forma de a política e os políticos tirarem partido do fenómeno religioso para se aproximarem dos seus eleitores e aparecerem até como beneméritos promotores de passeios ao santuário.
Basta atentar nas centenas de passeios anuais que centenas de municípios e freguesias, de todas as cores políticas, organizam para os seus cidadãos mais idosos poderem deslocar-se a Fátima para se perceber o jeito que Fátima continua a dar.
Em boa verdade, e sendo fora de períodos eleitorais, acaba por se aceitar a prática dado que para muitos idosos é a única forma de lá se poderem deslocar muitas vezes cumprindo um sonho de vida que de outra forma não teriam possibilidades de ver realizado.
O futebol esse ainda está pior em termos de ópio do povo.
Basta ler os jornais e ver as televisões.
Mas a Câmara socialista de Guimarães resolveu ir até onde nunca nenhuma congénere tinha ido, em termos de utilização do futebol para fins eleitoralistas, e decidiu promover uma excursão de idosos à final da supertaça.
Comprou umas largas centenas de bilhetes gastando cerca de 15.000 euros, fretou autocarros e no próximo sábado mais de 500 idosos de Guimarães vão de abalada até Aveiro ver o Vitória-Benfica à custa da Câmara e dos interesses eleitorais do PS.
É precisa muita falta de vergonha, mas também muito desespero pré eleitoral, para levar a cabo semelhante manobra a menos de dois meses das eleições autárquicas.
Acredito que os contemplados perceberão a grosseira tentativa de manipulação e nas urnas não se deixarão influenciar pela passeata socialista.
Mas lá onde estiver António de Oliveira Salazar deve estar de boca aberta perante isto.
Nem a ele, em ditadura, tinha ocorrido semelhante "habilidade".
Depois Falamos.
P.S. Quando meses atrás o Moreirense disputou a final da taça da liga a "benemérita" câmara não promoveu nenhuma excursão de idosos para assistirem à final.
Que certamente bem gostariam de terem ido até ao Algarve.
Mas, azar o deles, as eleições ainda vinham longe, as verdadeiras sondagens não davam os resultados que agora dão e o Moreirense não tem a dimensão associativa do Vitória.
P.S. 2 : Espero que quem não teve vergonha de organizar esta manobra eleitoralista tenha, ao menos, o bom senso e a prudência de avisar os idosos que um um jogo de futebol (ainda por cima entre Vitória e Benfica...) nada tem a ver com uma tranquila peregrinação a Fátima e de tomar as medidas necessárias a que possam chegar, verem o jogo e saírem sem qualquer transtorno.
2 comentários:
Caro Cirilo:
Pois é: e depois o meu 'primo' Antº de Stª Comba é que era 'fâxista'.
A 'carneirização' do povo é sempre um objetivo dos dirigentes, mas haja um pouco de pudor. Só que o Portugal republicano, socialista e laico, é republicano, socialista e laico...
Se houver um bilhetito para mim, eu aceito :))) mas na bancada do Benfica. Cirilo, calma, não é o que pensa, é que eu não quero levar com um tiro, um foguete, ou outra coisa :(
O parágrafo anterior não é a sério, claro, até porque o Cirilo já avisou que o jogo não é "passeio".
A sério: Que ganhe o Vitória, porque nunca gostei de vermelho e como nunca tive 'colinho' os outros também não têm de ter...
Cara il:
Sempre irónica e sempre com razão. Infelizmente o Vitória não ganhou por erros próprios mas essencialmente porque não o deixaram. Se há área deste país que passou ao lado do 25 de Abril foi o futebol
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