O futebol, como tantas outras áreas da vida em comunidade, tem os seus altos e os seus baixos, os seus momentos de extraordinário entusiasmo mas também de enorme tristeza, os seus picos de exaltação mas também os seus espaços de serenidade.
Em suma tem em si o 8 e o 80 !
Com o início dos campeonatos nos diferentes países podemos ir constatando alguns oitos e alguns oitentas que de alguma forma caracterizarão as competições que terão o seu epílogo lá para a primavera do ano que vem.
Na minha modesta opinião o maior “oitenta” do futebol europeu é a Liga Inglesa que teve este fim de semana a sua primeira jornada.
E que jornada!
Num encontro entre campeões o Arsenal venceu o Leicester por 4-3 depois de um jogo magnifico, com constantes alterações no marcador e incerteza até ao fim numa daquelas partidas que justifica bem o entusiasmo que o futebol merece.
Outro campeão, dos maiores da História da “Premier League”, o Liverpool empatou a três com o Watford de Marco Silva num belo jogo de futebol.
Outros dois campeões, os grandes rivais de Manchester começaram a prova de forma categórica com o City indo vencer a Brighton enquanto o United, de José Mourinho, despachava o West Ham de forma categórica com quatro golos sem resposta.
O campeão em titulo, Chelsea, esse começou a prova perdendo em casa com o Burnley depois de um jogo muito disputado em que os visitantes conseguiram superiorizar-se vencendo pro três bolas a duas.
Quanto ao vice campeão Tottenham foi vencer a casa do histórico Newcastle, este ano regressado à principal divisão, demonstrando também ele estar na corrida para o titulo deste ano.
E são apenas alguns exemplos, versando as equipas mais conhecidas , do que foi o espectacular início da liga inglesa da temporada 2017/2018 prometendo ser, como sempre, a melhor liga europeia e portanto também a melhor liga do mundo.
Estádios cheios, futebol espectáculo, grandes equipas e grandes jogadores, treinadores de topo (Mourinho, Guardiola, Klopp,Wenger, Conte, etc), jogos de grande incerteza quanto ao resultado, erros dos árbitros que são...erros, terminologia dos comentadores despida de parolices como “os grandes”, sorteios iguais para todos, decisões céleres dos orgãos disciplinares.
E muito dinheiro para os clubes oriundo de contratos televisivos bem negociados, fruto de uma negociação centralizada dos direitos , que devia fazer corar de vergonha os dirigentes de clubes e ligas de outros pontos da Europa.
Mas para além de tudo isso a liga inglesa tem ainda o encanto quase único em termos europeus de ter vários candidatos ao título,meia dúzia no mínimo, que naturalmente dão a todos os jogos um interesse e uma incerteza que alimenta a paixão dos adeptos e o interesse das televisões e patrocinadores.
Este ano enquanto o Chelsea procurará renovar o titulo ganho na época passada de forma brilhante, tem em compita directa consigo um grupo significativo de grandes equipas pertencentes a clubes históricos e que quererão recuperar um titulo que todos eles já venceram noutros tempos.
À cabeça o Manchester City de Pep Guardiola e o Manchester United de José Mourinho que reforçaram a rivalidade típica de dois clubes da mesma cidade com a contratação, na época passada, de dois treinadores que muitos consideram os melhores do mundo e com um largo historial de rivalidade pessoal(não inimizade) construida essencialmente nos tempos em que treinavam Barcelona e Real Madrid
E que para esta época não foram nada parcos na forma como desembolsaram milhões e milhões para reforçarem as suas equipas.
Depois o Liverpool de Klopp.
O clube mais vezes campeão a seguir ao Manchester United mas que há mais de duas década que não vence o titulo e que na sua segunda época dirigido por Jurgen Klopp será certamente uma equipa a considerar nessa disputa.
Mas há também o Arsenal de Arsene Wenger e o Tottenham de Maurício Pochettino que há anos afastados do titulo (os “spurs” desde 1961 !) são competidores a ter em conta face à valia das equipas e ao que tem sido o seu historial nas ultimas épocas.
E depois , convém não esquecer, pode sempre surgir um outsider como o Leicester que duas épocas atrás ganhou o seu primeiro titulo de campeão, de forma categórica, perante a surpresa generalizada do mundo do futebol.
É assim o fantástico futebol inglês.
O verdadeiro “oitenta” do futebol europeu.
Depois há vários “oitos”.
Como naquele país dos campos inclinados, das arbitragens e vídeo arbitragens tendenciosas, dos sorteios que favorecem três “filhos” e discriminam quinze “enteados”, da quase totalidade da comunicação social a ser subserviente, bajuladora e parcial a favor de três clubes, da negociação individual dos direitos televisivos que contribui largamente para o fosso competitivo entre os “filhos “ e os “enteados”, dos insuportáveis programas televisivos em que só os “filhos” tem assento e que servem para pressionar os agentes do futebol em favorecimento dos tais clubes, dos regulamentos absurdos que permitem que o empréstimo de jogadores sirva como forma de condicionar votos na assembleia geral da liga , de uma liga que promove uma taça com um regulamento feito de forma descarada para beneficiar os três do costume, dos dirigentes de quinze clubes que tudo aceitam e tudo votam como os tais três querem por razões que os deviam envergonhar.
Entre muitas outras coisas que justificam que ainda haja “oitos” numa Europa onde há “oitentas”.
Viva a “Premier League”!
Porque naquilo que a sustenta em termos de filosofia desportiva e na concepção de negócio que lhe está subjacente reside muita da esperança de manter o futebol como a mais popular modalidade desportiva do mundo.
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