quinta-feira, dezembro 03, 2015

Sugestão de Leitura

Já noutras oportunidades aqui escrevi sobre o quanto me interesso pelo tema da II guerra mundial, pelos seus protagonistas, pela envolvente política que levou ao conflito, pelas suas grandes batalhas e os generais que as comandaram.
Eisenhower, Patton (o meu "preferido"), Mac Arthur, Manstein, Rommel, Montgomery, Alexander, Rundstedt, Marshall, etc.
E sobre a II guerra vi muitos filmes e li ainda mais livros.
Mas poucos (ou nenhum até) tão interessantes como esta história da II Guerra escrita por Antony Beevor.
Um livro verdadeiramente fascinante pela qualidade da escrita, pela documentação a que o autor teve acesso, pelo pormenor com que muitos dos episódios da guerra são narrados, pela forma como o autor consegue "meter" o leitor dentro da narrativa.
E depois porque é factual.
Rigoroso, desapaixonado, escrito com a isenção suficiente a poupar-nos ao discurso  moralista de tantas outras obras que passam o tempo a recordar-nos quem eram os "bons" e quem eram os "maus" no conflito.
Já todos sabemos isso há muito tempo.
E se os "maus" (alemães e japoneses essencialmente) eram realmente maus e cometeram inenarráveis atrocidades nos anos de conflito o tempo tem-nos ensinado que alguns dos "bons" não eram tão bons como se quer fazer crer.
A começar por Estaline e pela União Soviética.
Que tendo dado um contributo pesadíssimo em termos de vidas humanas para a derrota do nazismo também contribuiu de forma horrível para as atrocidades de guerra nomeadamente na Polónia, na Ucrânia, na Bielo Rússia e depois na própria Alemanha no ano final da guerra.
E muitas dessas atrocidades comandadas pelo ditador Estaline foram contra o seu próprio povo incluindo, imagine-se, os próprios prisioneiros de guerra russos libertados no fim do conflito e que ao invés de serem compensados pelos anos de terror nos campos de concentração alemães ainda foram perseguidos e mortos pela NKVD ao serviço do ditador.
Em suma um livro de excepcional qualidade com 1021 páginas que se leem com um prazer imenso.
Depois Falamos.

6 comentários:

Anónimo disse...

Um grande livro. Para mim o autor é quem melhor escreve sobre factos históricos sobre a época

ppf disse...

Do mesmo autor, sugiro-lhe a tradução portuguesa que saiu à pouco: ARDENAS 1944. Depois toca rever o BAND OF BROTHERS especialmente o Episódio 6: Bastogne, que retrata muito bem essa fase da guerra.

PPF

Joaquim de Freitas disse...

Grande livro, na verdade, e grande autor. Li-o ,assim como talvez o seu melhor livro - Stalingrad. Escrevo melhor livro, porque visitei esta cidade, durante três dias, com o livro de Beevor na mão, de rua em rua, até ao imponente monumento Kourgan Mamaï no topo da colina. Beevor tem uma arte única de descrição "do que ele não viu" mas pressente.

Stalingrad, pesadelo que me roubou o sono durante uma semana ; 9 milhões de soldados mortos, 18 milhões de feridos e 18 milhões de civis mortos , milhares de aldeias destruídas, incendiados corpos e almas, que os nazis consideravam como sob humanos. Sobre 4 milhões de prisioneiros dos alemães, só 1 milhão e meio regressaram.

Penso muitas vezes nos defensores desta cidade mártir, combatentes homens e mulheres, soldados , e civis vivendo enterrados nas caves, sobrevivendo ou antes morrendo. Morrendo queimados vivos recusando de deixar o seu posto, aos telefonistas correndo debaixo de fogo para reparar as linhas, às enfermeiras de 18 anos, saco a tiracolo e o coração aos pulos, rastejando junto dos feridos e caindo sob as balas alemãs. A estas aviadoras, que os alemães chamavam "bruxas da noite", voando ao rés do solo no seu avião de madeira e papel, largando as bombas sobre as linhas alemãs. Grande povo.

No monumento que visitei, destacado, o nome dum General : Konstantin Konstantinovitch Rokossovki, russo-polaco, talentoso, inteligente, vítima das purgas estúpidas de 1937, que sobreviveu às torturas do NKVD de Béria, libertado em 1940, por causa da falta de oficiais, vitimas expiatórias da paranóia estalinista.

Foi ele o obreiro da grande manobra do 10 de Janeiro . Por volta das 6 horas, abriram o fogo durante 55 minutos , 7 000 canhões, morteiros e "katiouchka" como numa trovoada apocalíptica. O 6° exército alemão de Von Paulus, recebeu o golpe fatal. Mas resistiu ainda, apesar de esfomeado, enfraquecido pelo frio. O que custou ainda a vida de 26 000 soldados russos. Um general disse: " daqui só há duas maneiras de sair :" ou morto ou enlouquecido".

O exército alemão em Stalingrad o que era?

- 600 divisões ( no oeste só havia 200 !)
- As melhores tropas do mundo da época : as Waffen SS e sobretudo um ódio absoluto do povo eslavo.

Na história da guerra, esta batalha teve uma importância capital : foi a partir de Stalingrad que os orgulhosos e poderosos alemães começaram a recuar. Até Berlim. Como Napoleão em frente a Moscovo.
Kourgan Mamaï, o monumento impressionante, presta homenagem a todos. A Mãe Pátria olha pelos seus filhos, caídos por ela, há mais de 70 anos.
Houve os "bons"? Houve os "maus"? nesta guerra? Talvez meu Amigo Cirilo, mas prefiro não entrar nesta qualificação. Como qualificar as duas bombas atómicas de Hiroshima e Nagasaki e o homem que as mandou lançar, Harry Truman? Como qualificar os bombardeamentos de Dresde, onde não havia militares, e os de Hamburgo ?

O nazismo trazia nele a negação da humanidade. Ele é a "coisa" imunda saída das entranhas do capitalismo.

Era precisamente o capitalismo que o comunismo queria derrubar afim de permitir a uma forma superior de humanidade ( não uma raça superior) de emergir segundo as vias que deve encontrar, na vida e não pela morte.

O episódio histórico designado pelo vocábulo "era estalinista", foi por certos aspectos um drama para a humanidade ainda mais doloroso e mais grave que o do "hitlerismo", porque ele derrubou um corpo jovem, talvez prematuro, portador de futuro, no qual eu cri, ao passo que o segundo não foi mais que uma peripécia do velho mundo que se perpetua. Olhe para o mundo de hoje, e veja para onde vai. E quais são as forças que o dirigem. Quais são os valores pelos quais se lutou há 70 anos e quais são aqueles que prevalecem hoje : o dinheiro. Os valores mais nobres desaparecem e o egoísmo domina . A solidariedade morre todos os dias, subvertida pela corrupção do mundo politico e do mundo dos negócios.

Cumprimentos

Freitas Pereira

.

luis cirilo disse...

Caro Anónimo:
Não me custa a crer.
É um excelente escritor

luis cirilo disse...

Caro Joaquim de Freitas:
Concordo inteiramente com o sue comentário.
Não li, ainda, essa obra deste autor sobre a batalha de Estalinegrado mas depois dos elogios que o meu amigo lhe faz vou certamente lê-la a curto prazo.
Até porque Estalinegrado foi realmente o ponto de viragem decisivo na guerra em termos de Europa e se o triunfo tivesse sorrido aos alemães talvez a História fosse bem diferente.
Devo dizer-lhe que para além do mais há algo que me fascina, pela negativa, em todo este conflito.
A forma como russos e alemães se deixaram subjugar por duas ditaduras atrozes e viram em criminosos loucos como Hitler e Estaline líderes capazes de assegurarem um futuro melhor.
É impressionante.
Até porque, mesmo em termos estritamente militares, cada vez que se intrometiam nas decisões estratégicas Hitler e Estaline raramente deixavam de tomar opções profundamente erradas.
Grandes generais tinham russos e alemães para conseguirem os sucessos militares que tiveram apesar dos seus líderes.

luis cirilo disse...

Caro PPF:
Agradeço as sugestões.
Naturalmente que as seguirei dado parecerem-me bem prometedoras