Não há no
futebol lugar mais ingrato que o de guarda-redes.
Tão ingrato
é que no Brasil, onde ser guarda-redes é quase “castigo”, se costuma dizer que guarda-redes
é lugar tão ruim que onde ele joga nem nasce relva!
A verdade é
que jogar à baliza pressupõe qualidades e a aptidões muito diferentes das que
são necessárias para jogar noutras posições, desde logo porque os jogadores de
campo jogam essencialmente com os pés enquanto os que vão para a baliza jogam
quase sempre com as mãos, o que torna o guarda-redes num corpo quase estranho
numa equipa de futebol.
Estranho mas
decisivo.
Porque
enquanto os jogadores de campo tem o “direito” de falharem, sem que desses
falhanços resultem situações comprometedoras em muito dos casos, já quando o guarda-redes
falha o mais certo é a equipa ser penalizada com um golo.
E por isso
desde os grandes mestres aos treinadores recentemente diplomados (já no que
toca a dirigentes o panorama é por vezes bastante diferente) todos sabem que uma
boa equipa se constrói de trás para a frente e nessa construção o guarda-redes
tem um papel absolutamente decisivo.
Não é em vão
que se diz que os ataques ganham jogos mas as defesas (incluindo os guarda
redes como é óbvio) ganham campeonatos pelo que ter um grande guarda-redes
equivale a ganhar desde logo alguns pontos.
E por isso
ao longo dos anos, nomeadamente nas últimas décadas, o treino dos guarda-redes
que dantes se processava sem grandes diferenças em relação ao dos restantes
jogadores passou a adquirir características extremamente especificas surgindo
técnicos especializados no seu treino e autonomizando cada vez mais os guarda-redes
dos outros colegas de equipa.
Bastará
atentar, e eu gosto bem de o fazer, na forma como jogadores de campo e guarda-redes
fazem o aquecimento antes dos jogos para perceber que há todo um mundo de
diferenças entre eles ao ponto de alguns guarda-redes trabalharem mais no
aquecimento do que no próprio jogo que se lhe segue.
Não admira
por isso que nos clubes onde se sabe que a diferença está nos detalhes, e se
valoriza devidamente a competência provada e comprovada, se dê hoje uma
particular atenção à contratação dos treinadores de guarda-redes porque do seu
trabalho podem resultar os tais pontos que no fim das provas fazem a diferença.
Sendo
igualmente certo que por maior que seja a sua competência não fazem milagres
como o de transformarem guarda-redes “apenas” bons nos tais guarda-redes de
topo que podem dar muitos pontos, títulos e troféus.
Atente-se, a
título de exemplo, no que se passa nos três candidatos ao título.
Enquanto o
Sporting tem na baliza um dos melhores guarda-redes do mundo e titular
indiscutível da selecção campeã europeia, o Porto tem como número um uma
autêntica lenda do futebol que é um dos melhores guarda-redes de todos os
tempos, o Benfica vendeu o excelente Ederson, manteve um Júlio César em fim de
carreira e muitas vezes lesionado o que levou Rui Vitória a ver-se obrigado a
dar a titularidade a um jovem Bruno Varela que sendo um bom guarda-redes está
muito longe de se poder comparar aos que defendem as balizas dos principais
rivais.
E é um caso
paradigmático de um clube que tendo um dos melhores treinadores de guarda-redes
do futebol europeu, Luís Esteves, não lhe pode pedir o milagre de transformar Bruno
Varela num iker Casillas ou num Rui Patrício porque isso não está ao alcance
dele nem de ninguém.
É
simplesmente impossível.
E isso, mais
a opção errada dos dirigentes em não contratarem um guarda-redes ao nível do
transferido Ederson, vai custar os tais pontos que no apuramento final do
campeonato podem fazer diferença.
Muita
diferença diria.
Tenho muito
apreço pelos guarda-redes.
Posição solitária,
que requer qualidades muito específicas das quais a coragem não é a menor,
facilmente responsabilizados pelas derrotas mas mais raramente apreciados na
hora dos triunfos são ainda assim um espectáculo dentro do espectáculo e
proporcionam ao futebol alguns dos seus momentos mais sensacionais.
Já vi jogar
tantos guarda-redes de elevado nível que me é impossível dizer com justiça
quais os melhores porque correria sempre o risco de me esquecer de algum.
Ainda assim
se tivesse de escolher dez seriam estes:
Michel
Preud’Homme, Peter Schmeichel, Manuel Neuer, Rinat Dasaev, Gianluigi Buffon,
Iker Casillas, Lev Yashin, Vitor Baía, Sepp Maier e Edwin Van der Sar sem que a
ordem tenha qualquer significado.
Opções de
quem aprecia, desde sempre, a forma de jogar dos “donos” das balizas.
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