segunda-feira, julho 24, 2017

Loucuras...

O meu artigo desta semana no zerozero.

José Mourinho, ironicamente um daqueles que maior contributo tem dado para isso, dizia recentemente que face aos valores envolvidos em transferências de jogadores o futebol parecia ter enlouquecido.
Se as palavras não foram exactamente estas o sentido seguramente que o foi.
E tem razão.
Porque embora de há muito ninguém tenha o “direito” de olhar o futebol apenas como um desporto, pelo menos a nível de competições profissionais, a verdade é que naquilo que concerne às grandes ligas europeias (Inglaterra, Espanha, Alemanha e  Itália ) ou aquelas que não sendo das mais importantes tem em volta delas muito dinheiro (França, Rússia, Turquia) o futebol deixou de ser um desporto com uma componente de negócio para ser cada vez mais um negócio com uma componente desportiva.
O que vamos vendo por aí, nesta pré temporada na qual ainda falta correr muita água debaixo das pontes confirma essa loucura de números que não podem deixar de, apesar de tudo, espantar e preocupar quem quiser ver as realidades sem óculos cor de rosa.
E nem seque falo das duas maiores enormidades que ultimamente vieram a público:
O clube chinês que terá oferecido ao Real Madrid qualquer coisa como trezentos milhões de euros por Ronaldo enquanto ao jogador oferecia cem milhões de euros por cada ano de contrato.
O que mesmo tratando-se de um dos dois melhores do mundo a jogar e ,de longe, o melhor de todos  em termos de receitas publicitárias associadas à sua imagem não deixa de ser um completo absurdo porque não há nenhum atleta em nenhuma modalidade que justifique valores dessas ordem mesmo vindos de um mercado (o chinês) completamente desregulado face à realidade.
E o negócio “Neymar” com o PSG, de França e portanto de um mercado e uma Liga sujeitos a regras de fair play financeiro da Uefa, a propor-se pagar a clausula de rescisão do jogador com o Barcelona no valor de duzentos e vinte milhões de euros e depois pagar-lhe um prémio de assinatura de cem milhões de euros mais trinta milhões por cada um dos cinco anos de contrato.
Embora Neymar seja um grande jogador, logo a seguir aos estratosféricos Ronaldo e Messi, e um certo vencedor de “Bolas de Ouro” mais dia menos dia a verdade é que também ele não vale (repito que ninguém vale) esses valores que raiam o absurdo.
Mas se esses são, pelo absurdo de que se revestem, os exemplos mais evidentes da loucura que grassa no futebol há muitos outros que abrangendo jogadores menos mediáticos e de valor abaixo dos citados nem por isso deixam de também eles atingirem valores incompreensíveis.
E o grande exemplo são os oitenta milhões pagos pelo Chelsea ao Real Madrid por um excelente jogador-Morata- mas que não me parece merecedor de uma quantia dessas pese embora ser um dos melhores pontas de lança europeus da actualidade.
Tal como, e aqui volto a José Mourinho, os mais de cem milhões que o ano passado o Manchester United pagou por Pogba são um exagero absoluto face a um excelente jogador que, contudo, não é mais do que isso.
Mas depois abaixo desses patamares das muitas dezenas de milhões encontram-se, com relativa facilidade, outros negócios de menos milhões mas ainda assim claramente exagerados face ao valor dos jogadores transaccionados.
 E é aí que entra o mercado português.
Que nas transacções internas se fica por valores modestos (já lá iremos) mas que tem conseguido tirar proveito desta febre de loucura que grassa no futebol para os principais clubes portugueses, também eles, venderem por valores (e ainda bem) acima do que seria expectável face ao valor dos jogadores que colocam noutros mercados.
E nesse aspecto o Benfica também tem sido o campeão face à capacidade negocial demonstrada.
Depois de na época passada terem vendido Renato Sanches por um valor em função do que ele prometia mas ainda não valia (e não se sabe se chegará a valer) este ano repetiu a dose a triplicar transferindo Ederson, Lindelof e Nelson Semedo por valores muito lisonjeiros face à real valia dos jogadores como Guardiola e Mourinho já estão a descobrir e Valverde lá chegará mais dia menos dia.
O Sporting na época passada fez um negócio excelente com a venda de João Mário ao Inter, muito à boleia de o jogador ter sido campeão europeu por Portugal, mas depressa os italianos descobriram que tinham pago dinheiro a mais por um bom jogador,é verdade, mas que dificilmente algum dia será mais do que “apenas” um bom jogador.
Este ano para lá de se livrar de alguns erros da época passada os “leões” ainda não venderam nenhum jogador por valores sonantes mas é inevitável que até 31 de Agosto isso aconteça e o maior candidato parece ser William Carvalho outro jogador que seguramente será transferido por valores empolados face à realidade.
O Porto, noutros anos campeão indiscutível do mercado com negócios de muitos milhões, tem andado mais “calmo” nestes dois últimos anos destacando-se apenas a venda de Imbula (um erro de casting que resolveram sem prejuízo) e nesta pré temporada a de André Silva ao Milan por valores que me parecem adequados ao valor actual do jogador.
Provavelmente ainda venderão Danilo e talvez Brahimi e aí se verá se a dimensão dos valores atingidos merece enfileirar na galeria das “loucuras” ou se insere naquilo que se considera razoável.
Resta o mercado interno.
Praticamente sem expressão financeira, face ao reduzidos valores envolvidos, e onde os clubes a que alguns gostam de chamar “grandes” (provavelmente em função dos respectivos passivos) tem a péssima, mas consentida pelos outros, prática de comprarem a preço de saldo jogadores que se fossem adquirir a outros mercados por eles pagariam milhões.
Aproveitando-se despudoradamente de a maioria dos outros clubes viverem em crónica crise financeira e se verem quase obrigados a aceitarem as “esmolas” que lhes oferecem pelos seus melhores jogadores.
Ainda um destes dias a generalidade da imprensa noticiou que o Benfica após encaixar quarenta milhões por Ederson teria oferecido ao Vitória 2,5 milhões por Miguel Silva um jovem e talentoso guarda redes que em valor potencial nada deve ao brasileiro.
E então das duas uma:
Ou a virgula está no sítio errado devendo situar-se à direita do cinco ou o Benfica quer comprar “lagosta” ao preço do camarão da costa provavelmente pensado que ainda vivemos em feudalismo e que o Vitória é um qualquer servo da gleba.
Num tempo em que se fazem loucuras a pagar a mais espero que não se façam agora loucuras a receber a menos especialmente num caso como este em que talento, idade, posto no terreno de jogo e experiência recomendam tudo menos precipitações e vendas apressadas.

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