Este
assunto não é novo, diria que quase tão antigo como o futebol português, mas
infelizmente repete-se ano após ano e por isso creio que são poucas todas as
vozes que se levantem contra este estado de coisas.
O
assunto é, evidentemente, a protecção que desde sempre é dada por todas as
instâncias do nosso futebol mais a generalidade da comunicação social a três
clubes que são uma espécie de “donos disto tudo” na versão desportiva.
Esses
clubes são o Benfica, o Porto e o Sporting.
São
tantos e tão variados os exemplos que nem vale a pena estarmos a referir-nos a
um passado recheado de “fretes” (na versão mais moderna chamam-lhe “colinho” )
a esses clubes que lhes valeram inúmeros triunfos e alguns títulos em prejuízo
da verdade desportiva das competições e de todos os outros clubes.
Sempre
assim foi.
Sempre!
Contudo
nos últimos anos face à impunidade, que é a característica maior do nosso
futebol face a esses três clubes, de que gozam o descaramento chegou ao ponto
de esses favorecimentos serem patrocinados pela própria Liga face ao deleite
dos três e a um silêncio tão incompreensível quanto cobarde de todos os outros
que assistem a esta pouca vergonha sem tugirem nem mugirem.
Vou
dar o mais concreto dos exemplos.
O
sorteio do campeonato.
Uma
prova profissional, que envolve somas elevadíssimas em salários e
transferências(que levaram alguns clubes à quase ruína), que tem espectadores
pagantes que merecem respeito e que se supões igual em direitos e deveres para
todos os dezoito clubes que nela participam.
Supõe...mas
não é!
Porque
numa inaceitável, vergonhosa e inqualificável política de “filhos” e “enteados”
é a própria LPFP que logo no sorteio da prova faz questão de dizer alto e bom
som, com uma desfaçatez que só não envergonha porque a vergonha há muito que
desapareceu do nosso futebol, que o campeonato não é de dezoito clubes mas sim
de três mais quinze!
Porque
há três-Benfica,Porto e Sporting- que tem direito a condições especiais no
sorteio de molde a melhor protegerem os seus interesses enquanto todos os
outros tem de sujeitar a esses condicionalismos como se fossem filhos de um
deus menos.
Detalho:
No
ponto um define-se que esses três clubes não podem jogar entre eles nas duas
primeiras jornadas.
Porquê?
O campeonato não é uma prova de regularidade em que todos jogam com todos aos
longo de 34 jornadas?
No
ponto três que não podem jogar entre eles em duas jornadas consecutivas e que
nenhum deles pode defrontar os outros dois em casa na primeira volta.
Porquê?
Tem medo que os meninos se cansem?
E
depois há um caricato ponto seis, invenção deste ano, que define que nas duas
primeiras jornadas os clubes que disputam a supertaça (Vitória e Benfica) não
podem jogar com o Sporting devido a este disputar a pré eliminatória da Liga dos
Campeões.
Simplesmente
ridículo.
Desde
logo porque o Benfica e Sporting nunca poderiam defrontar-se nessas duas
primeiras jornadas face ao aberrante e vergonhoso ponto um.
Depois
porque fica claro que há uma intenção clara de defender o Sporting de jogos
mais complicados porque ao Vitória não lhe daria seguramente transtorno nenhum
jogar com o Sporting numa dessas duas primeiras jornadas.
Ironicamente
o sorteio destinou um Vitória-Sporting na...terceira jornada.
Dir-me-ão
que a Liga quis defender os interesses de um clube português nas competições
europeias.
Era,
mesmo assim, um fraco pretexto mas que ainda podia ser aceite se fosse
verdadeiro e visasse a defesa global do nosso futebol.
Mas
visa apenas a defesa de um dos “donos disto tudo”.
Provas?
Simples.
Se a
LPFP quisesse realmente defender os interesses do futebol no seu todo incluiria
então uma clausula a impedir que o Sporting de Braga e o Marítimo, que também
vão disputar pré eliminatórias europeias, tivessem de jogar nas duas primeiras
jornadas com os clubes que se classificaram à sua frente na Liga de 2016/ 2017.
Mas
a Liga não quis saber disso para nada e por isso na primeira jornada teremos um
Benfica-Braga jogo que certamente os bracarenses prefeririam noutra altura por
razões óbvias.
Mas
é o futebol que temos.
De
“filhos “ e “enteados”.
Em
que uns mandam a seu bel prazer, põe e dispõe, fazem do nosso futebol uma
coutada dos “donos disto tudo” enquanto os restantes de forma servil são
incapazes de levantarem a voz para defenderem os seus direitos e exigirem
verdade desportiva de principio a fim em todas as competições.
Porquê?
Ou
porque estão à espera das “migalhas” (leia-se jogadores emprestados) que os
outros( SLB/FCP/SCP) vão deixar cair da “mesa”, ou porque acham que estando
caladinhos e bem comportados ainda vão ter alguma sorte por não incomodarem os
“donos disto tudo”, ou porque neste ou naquele casos são dirigidos por pessoas
que à no fundo são mas é benfiquistas,portistas ou sportinguistas e põe isso à
frente dos interesses dos clubes que dirigem, ou por qualquer outra razão a
verdade é que calam.
E
calando consentem.
Depois,
com a prova a decorrer, vamos ouvi-los a queixarem-se dos árbitros, dos
castigos, da disciplina , das multas.
Nessa
altura deviam era lembrar-se que foram eles próprios, através do silêncio
cúmplice, a permitirem que desde o sorteio a LPFP determinasse que há “filhos “
e “enteados” , que as provas são de três mais quinze, que há clubes que tem
regras especiais a pautarem a sua participação nas competições.
Arbitragem
e Disciplina limitam-se a seguirem as orientações superiores!
É a
vida...
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