A propósito do seu tão precoce desaparecimento,ocorrido esta semana, veio-me à memória um episódio ocorrido entre mim e o ex árbitro Paulo Paraty.
Na época de 2003/2004 o Vitória treinado inicialmente por Augusto Inácio posteriormente substituído por Jorge Jesus fazia um campeonato abaixo do que lhe era normal e até do valor dos jogadores que então integravam o seu plantel entre os quais se destacavam nomes como Nuno Assis, Palatsi, Flávio Meireles, Romeu, Djurdevic, João Tomás, Hugo Cunha, Rui Ferreira,Bruno Alves, Cléber,Fangueiro, Bessa,Rafael, Afonso Martins entre outros.
Um senhor plantel mas uma época irregular e muito abaixo do esperado.
Tão abaixo que ainda na primeira volta Pimenta Machado resolveu despedir Inácio e contratar Jorge Jesus.
É já com este treinador ,há apenas três jornadas no cargo, que o Vitória vai a Alvalade e perde por 2-1 (depois de estar a ganhar 1-0) com uma arbitragem brutalmente polémica que condicionou todo o jogo do Vitória, mostrou dois vermelhos e não sei quantos amarelos ao jogadores vitorianos e permitiu que o Sporting vencesse um jogo que dificilmente venceria de outra forma.
Tive oportunidade de assistir ao jogo no estádio e de lá saí, como toda a direcção e adeptos do Vitória, profundamente indignado.
Curiosamente o árbitro desse jogo foi...Bruno Paixão!
Nesse tempo eu era deputado na Assembleia da República, integrando entre outras a comissão de educação,juventude e desporto(era assim que na altura se chamava), e quis o destino que logo na terça feira seguinte a comissão recebesse em audiência a direcção da ...APAF.
Presidida por Luís Guilherme e que tinha em Paulo Paraty um dos seus directores.
Durante a troca de opiniões entre deputados e dirigentes da APAF recordo que a certa altura Paraty disse qualquer coisa como "...convençam-se os senhores deputados que os árbitros são pessoas tão sérias como as outras...".
Não resisti, foi mais forte que eu ainda por cima de cabeça quente depois do que tinha visto em Alvalade 48 horas antes, e dei uma sonora gargalhada que teve como efeito o silêncio na sala.
Claro que Paraty perguntou a razão do riso e claro que tive todo o gosto em explicar-lhe ao que se seguiu uma troca de argumentos acesa mas correcta que continuaria depois da reunião em conversa já no corredor.
Na semana seguinte o Vitória iniciava a segunda volta com uma complicada deslocação a Leiria num jogo que recordo-me bem se disputou numa segunda feira à noite.
Normalmente ia para Lisboa à terça feira logo de manhã mas nesse contexto resolvi ir na segunda ao fim da tarde com paragem em Leiria para ver o Vitória.
Chegado ao estádio dirigi-me à zona dos balneários onde já estavam Pimenta Machado, o seu irmão Rui, o José Luís Machado (então director de relações públicas)e mais uma ou outra pessoa e ali ficamos em conversa a fazer horas para o jogo.
A certa altura recordo-me de alguém ter dito que estavam a chegar os árbitros (nem sabia quem estava nomeado para esse jogo) e quando olhei...pois,era ele mesmo, Paulo Paraty.
Ao chegar à nossa beira cumprimentou os presentes tendo-me dedicado um "...boa noite senhor deputado..." acompanhado de um inevitável sorriso irónico.
Entrou para o balneário e eu contei aos presentes o episódio ocorrido na terça feira anterior na Assembleia da República o que aumentou a nossa ansiedade,chamemos-lhe assim, quanto ao jogo.
A verdade é que Paulo Paraty fez uma excelente arbitragem e o Vitória empatou 0-0 conquistando um ponto moralizador face à valia do adversário e à dificuldade que se adivinhava para o jogo.
Foi uma época complicada, cheia de imprevistos e momentos difíceis (basta recordar que no jogo seguinte a esse de Leiria o Vitória recebeu o Benfica e deu-se a morte em campo de Fehér!) mas recordo sempre este episódio com Paulo Paraty como um momento engraçado numa temporada sem piada nenhuma.
Paulo Paraty foi um dos mais destacados árbitros do seu tempo a quem vi grande actuações, outras nem tanto,algumas assim assim e outras ainda com as quais nada concordei e critiquei duramente.
Mas agora isso já não interessa para nada.
Que descanse em paz.
Depois Falamos.
6 comentários:
Um homem tem de tudo. Mas, vivo! Quando morre, os defeitos são piedosamente esquecidos. Haja Deus - que não haja mais arbitragens, no Além.
Caro Anónimo:
A morte é uma fronteira para lá da qual pouco importa o que ficou do lado de cá.
Com Paulo Paraty e com todos.
Permita-me discordar. "A morte é uma fronteira para lá da qual" tudo "importa o que ficou" (e fizemos) "do lado de cá". Não estou a pensar no Paulo Paraty em particular, mas em todos nós. Paz na terra aos homens de boa vontade. Cptos, Pr.
Não festejo a morte de ninguém,mas,também não sinto falta de personagens,que de certeza nunca sentiram pesar por nos ter espoliado em vários jogos em que tivemos de os aturar...
Caro Anónimo:
Claro que importa o que fizemos do lado de cá. Mas nada é passível de ser mudado e por isso acho que falar agora sobre a qualidade como árbitro é irrelevante.
Apenas lamentar um Homem que morreu novo.
Caro De Guimarães:
Em boa verdade o texto tem pouco a ver com a morte de Paulo Paraty.
É mais com um episódio ocorrido ainda ele era árbitro.
E em que até nem prejudicou o Vitória
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