terça-feira, dezembro 24, 2013

"Missão Crescer"

Um pouco à boleia de algumas reflexões sobre a falta de público nos estádios, que se repercute inevitavelmente nas receitas dos clubes (cotas, bilhetes, lugares anuais, merchandising, etc) alinhavo agora algumas ideias sobre a forma como o Vitória pode de alguma forma combater esse fenómeno e lançar bases sólidas para um crescimento cada vez mais sustentado.
Não são ideias novas.
Ao longo dos anos, aqui e noutros espaços, tenho-as escrito como forma de dar um modesto contributo reflexivo para uma instituição que não se pode dar ao "luxo" de deixar de pensar no seu destino médio/longo prazo.
O Vitória tem de crescer.
Isso é imperativo.
E tem de crescer para fora do concelho de Guimarães (arrepia-me ás vezes ver o seu confinamento à cidade apenas) captando adeptos e associados noutros pontos do país começando pelos concelhos vizinhos por razões de evidente empatia.
Mas esse crescimento para fora do concelho tem de começar, para ter alicerces sólidos, dentro do próprio espaço concelhio.
Apostando fortemente nos vitorianos do futuro.
Infantários, escolas do ensino básico e secundário, universidade do Minho tem de ser áreas estratégicas de crescimento associativo dando sequência ao que o clube já vem fazendo mas reforçando a aposta e criando formas imaginativas de atrair os jovens ao futebol.
É nestas faixas etárias, apenas e só, que se devem verificar a oferta de bilhetes para jogos oficiais.
Porque é aqui que o assistir a um jogo pode fidelizar um jovem ao clube para toda a vida.
Depois é preciso aumentar a ligação entre clube e comunidade.
Férias desportivas para crianças até certa idade, apoio escolar a filhos de associados, descontos associados ao cartão de sócio, condições atractivas para as famílias comprarem lugares anuais, a bomba de gasolina (com descontos para os sócios) à muito prometida mas ainda não instalada entre outras medidas de incentivo à vida associativa.
E depois partir à conquista de Portugal.
Não por ganharmos muitas vezes nem por termos muitos troféus.
Mas pelo clube que somos e pelo conceito que temos de participação na vida desportiva.
Aquilo a que podemos chamar a nossa "mística".
E que assenta, sucintamente, nos seguintes parâmetros:
  1. Somos um clube formador no futebol e nas modalidades.
  2. Valorizamos o atleta português.
  3. Temos adeptos únicos que bastas vezes são um espectáculo dentro do espectáculo. Fazer parte deles é um privilégio.
  4. Profunda ligação à História de Portugal, à cidade berço e ao primeiro Rei. Enquanto outros tem como símbolo animais nós temos D.Afonso Henriques.
  5. Somos um clube cujos adeptos são apenas e só pelo Vitória.
  6. Valor único de cada titulo conquistado no futebol e nas modalidades com especial saliência para voleibol e basquetebol. Sem favores e com imenso mérito.
  7. Conceito de "clube diferente" respeitado e admirado por muitos e temido por outros tantos.
  8. Ecletismo como imagem de marca. Mais de uma dezena de modalidades e competitivos em todas elas. Com um aproveitamento cada vez maior dos atletas formados no clube.
  9. Parceiro social da comunidade em que estamos inseridos permitindo a prática desportiva a muitos milhares de jovens ao longo dos anos.
  10. Primeiro clube de alta competição, em Portugal, que teve a seriedade de olhar para a sua realidade e viver dentro das suas possibilidades. Um exemplo que todos terão de seguir.
Em traços muito gerais, e deixando a "porta aberta" para muitas outras variáveis, penso que é por caminhos como este que deve ser pensado, estruturado e construído o Vitória que vamos deixar aos que vierem a seguir.
Honrando o legado dos que nos trouxeram até aqui.
Depois Falamos.

P.S. O jovem cuja fotografia ilustra este texto é o Afonso.
Filho,sobrinho e neto de três amigos meus.
E já um grande vitoriano!

2 comentários:

Luís Ferreira disse...

Caro Luís Cirilo,

Começo por dizer que sou um grande adepto de que o Vitória cresça para fora do concelho, creio que para a sua sobrevivência futura é imprescindível que isso aconteça. Na verdade, na época em que nos apurámos para a 3ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões, lembro-me de ter comentado com amigos vitorianos que não deveríamos deixar passar aquela oportunidade de colocar a palavra "Minho" no nosso autocarro para que mais pessoas se pudessem identificar com o clube. Do meu ponto de vista, esse seria o nosso espaço natural de crescimento identitário, embora admita com toda a facilidade que haja quem pense de forma contrária nesta questão geográfica.
Dito isto, tenho de confessar que esse sonho que alimento há vários anos me parece cada vez mais incompatível com o rumo identitário que clube toma. Em primeiro lugar, penso que tratamos como enteados os adeptos que não têm uma ligação directa a Guimarães. Lembro-me até de um deles ter comentado num outro post seu há largos meses algo como "se não querem gente quem não seja de Guimarães, digam" (perdoe-me se a citação for muito criativa da minha parte). E eu, no lugar dele, teria a mesma reacção. Na verdade, eu não vejo grandes hipóteses de atrair muita gente enquanto não invertermos a seguinte situação: não tem de ser o Vitória a mostrar orgulho em ter sede em Guimarães mas sim ser Guimarães a ter orgulho em ser a sede de um clube de dimensão regional ou nacional. Ao contrário do que possa parecer, eu não acho que as duas situações sejam compatíveis e a razão é simples: a primeira torna o clube pouco sedutor a pessoas sem ligação afectiva a Guimarães, ao passo que a segunda o torna muito mais inclusivo. E se queremos atrair pessoas, temos de as tratar como vitorianos de primeira e não como alguém que vem a Guimarães para se deslumbrar com o "primeiro mundo". As pessoas não costumam gostar de potências coloniais, e só a espaços a vaidade vai sendo sedutora.
E para ilustrar o meu ponto de vista, gostaria de lhe colocar uma questão muito directa, visto que já há bastante tempo fiz um comentário sobre este tema mas as ideias acabaram por ficar diluídas. Na sua opinião, o que levaria, por exemplo um Famalicense, habitante de um concelho com excelentes condições de vida, a tornar-se adepto e sócio do Vitória Sport Clube, clube assumidamente bairrista, com jogadores que não se cansam de dar entrevistas a elogiar a cidade, dizendo que os seus habitantes são o último grito em matéria de fervor, que não há coisa igual no mundo inteiro (e este mundo inteiro inclui obviamente Famalicão)? O que levará esse adepto a vir a um estádio gritar que "o berço da nação somos nós", "Guimarães allez (ou olé, nunca percebi bem)" e depois ir para casa, ler os seus textos sobre o amor à terra, sobre a falta de classe que é ser adepto de clubes de outras terras (é habitual ler-se isto nos seus textos sobre o Benfica) e não pensar: Vou mas é ser adepto do FC Famalicão!? (Pode substituir Famalicão por Fafe, Póvoa de Lanhoso/Maria da Fonte, etc. Foi só um exemplo de um concelho que eu acho que extremamente agradável) Não me interprete mal, eu acho que o objectivo é bom e poderá ter pernas para andar. Só falta a estratégia... que é o mais importante. É que se quisermos colocar um pé no futuro mantendo outro no passado, vai dar ruptura muscular. Respeitar o passado, do meu ponto de vista, não é ficar agarrado a ele. E se queremos que que mais gente se sinta atraída pelo clube, temos de estar de peito aberto e mostrar humildade na forma como nos apresentamos a quem sem quer juntar a nós, caso contrário parecerá que estamos a atraí-los dissimuladamente para que engrandeçam Guimarães. Só que terra já eles têm, clube é que esperemos que não!

luis cirilo disse...

Caro Luis Ferreira:
O seu comentário tem tantos pontos de interesse que quase precisaria de novo post só para lhe responder.
Sinteticamente direi o seguinte:
O cresimento para fora do concelho é vital. Obviamente que o Minho, por razões de proximidade, e Trás os Montes por razões de estratégia devem significar o inicio do caminho.
Mas que depois, paulatinamente, se deve estender ao resto do país e ás comunidades de emigrantes onde existem já muitos vitorianos.
É igualmente óbvio que não pode haver vitorianos de primeira(os do concelho) e vitorianos de segunda(os de fora do concelho) porque isso é um disparate tremendo e que impede qualquer tentativa de crescimento sustentado e coerente. São todos vitorianos.
Cocncordo plenamente com a sua visão de que deve ser Guimarães a mostrar orgulho em albergar um clube como o Vitória. Que tem de ser muito mais que um clube de Guimarães sob pena de, realmente, não ser atractivo para quem não é de cá.
É um pouco como quando vejo adeptos nortenhos do benfica ou do sporting a cantarem "cheira bem cheira a Lisboa". É ridiculo.
Há uma diferença clara naquilo que eu acho que deve ser factor de atracção de adeptos para o Vitória e para os chmados 3 grandes.
Nós devemos atrair pela nossa mistica (a que me refiro no texto)e pelo nosso projecto de clube e não pelos nossos triunfos. O nosso crescimento terá de ser com base em adeptos do Vitória e não adeptos das vitórias.
De uma forma geral estou muito de acordo com o que diz na globalidade do comentário. Apenas uma nota final quanto á estratégia para alcançar este objectivo: ela existe. Preciso é pô-la em prática.