quinta-feira, setembro 06, 2012

A Saída da Procissão

Publiquei este artigo na edição de hoje do Povo de Guimarães

O início dos campeonatos profissionais de futebol, depois de uma pré temporada que como todas as outras serve para afinar equipas e despertar a curiosidade dos adeptos, lançou o Vitória pela primeira vez no seu historial no imenso desafio de ter duas equipas a competir nos dois principais escalões do futebol português.
A equipa A defrontando os seus tradicionais adversários de sempre (Porto, Benfica, Sporting, Braga, Marítimo, Académica, etc) e a equipa B jogando no mais longo campeonato alguma vez disputado em Portugal e encontrando entre outros adversários habituais da equipa A como o são Belenenses. Leixões, Penafiel e por aí fora.
Isto para além, é claro, das equipas B dos adversários históricos da equipa A!
Fez o Vitória frente a este desafio na situação de maior fragilidade financeira do seu historial mas fê-lo por entender que seria atentatório dos seus interesses desperdiçar a oportunidade de proporcionar a um enorme conjunto de jovens talentosos a possibilidade de competirem com a nossa camisola e lançarem carreiras profissionais das quais todas as partes poderão beneficiar.
E é precisamente essa a primeira nota que importa realçar.
O Vitória tem gravíssimos problemas financeiros, de todos conhecidos, que o obrigaram a fazer duas equipas com metade do orçamento da equipa única da época passada.
E pese embora todo o esforço que tem vindo a ser desenvolvido pelos órgãos sociais, que levaram inclusive á aprovação de um PEC em tempo recorde á renegociação de dívidas e aos acordos de saída de vários jogadores (Pedro Mendes, Nuno Assis,Nilson entre outros), o problema continua muito longe de estar resolvido e obrigará a uma gestão rigorosíssima durante os próximos anos.
O que significa, sejamos clarinhos como a água, que para além de ver a sua capacidade aquisitiva severamente condicionada o clube poder-se-á ver obrigado a transferir jogadores (como ainda agora aconteceu com Bruno Teles) contra o que seria desportivamente mais aconselhável mas é financeiramente inadiável.
Diz o povo, com razão, que vão-se os anéis e fiquem os dedos!
E é precisamente “salvar os dedos” a primeira e essencial prioridade de quem dirige o clube.
E este enorme esforço, vital para o Vitória continuar a existir, não pode ser apenas de quem dirige actualmente o clube mas de todos os seus adeptos e associados que certamente saberão dizer presente neste momento tão difícil para a instituição.
E o dizer presente não apenas na vertente financeira.
É importante que se vendam cadeiras, camarotes, boxes; é importante que os associados mantenham as cotas em dia; é essencial que dentro das suas possibilidades adiram á operação “Todos por uma Paixão”.
Mas o fundamental, diria, é que os vitorianos saibam unir-se em volta das nossas equipas e lhes deem o apoio e estimulo que lhes permita suprir algumas lacunas que existem mas que a situação financeira do clube não conseguiu evitar.
Tenho total confiança nos treinadores Rui Vitória e Luiz Felipe.
Bem como nas suas equipas técnicas.
Tenho a certeza absoluta, alicerçada no acompanhamento diário do trabalho que efectuam, que são as pessoas certas para conduzirem as nossas equipas neste momento tão delicado do Vitória quer pela competência de que tem dado provas quer pela forma como compreenderam o projecto do clube e o sabem diariamente corporizar.
Por isso o que se pede aos vitorianos neste momento é apoio e paciência.
Na certeza de que o trabalho está a ser bem feito, que as duas equipais tem valor e jogadores de qualidade, e que os resultados á medida das nossas possibilidades actuais vão aparecer e proporcionar a todos os adeptos um orgulho legítimo nas suas equipas de futebol profissional.
As “procissões” vão ser longas.
30 jornadas para a equipa A e 42 para a equipa B das quais estão cumpridas, até á saída deste artigo, 3 num caso e 5 no outro.
Ou seja as procissões ainda mal saíram do adro, como se costuma dizer nestes casos, pelo que é cedissimo para tirar conclusões definitivas e muito menos para se questionar seja o que for em termos de resultados das equipas.
Ainda assim importa realçar o seguinte:
Fruto da “brincadeira” que são os sorteios de competições ditas profissionais a equipa A abriu o campeonato com dois jogos de elevado grau de dificuldade como o são sempre os confrontos com Sporting e Porto.
Empatou em casa com o Sporting e perdeu na deslocação ao recinto do campeão nacional fazendo um ponto no conjunto dos dois jogos (ao contrário de zero pontos em idênticos confrontos na temporada transacta) o que é perfeitamente aceitável no actual contexto.
Já o empate com o Estoril foi abaixo do expectável mas a equipa sabe que tem de ir recuperar esses dois pontos perdidos a outro estádio e vai, seguramente, fazê-lo.
Quanto á equipa B teve um início de prova perfeitamente dentro do esperado para um conjunto de jovens talentosos mas com muito pouca experiência de competições profissionais e competindo num campeonato tão competitivo como o da II Liga.
Empates caseiros com Covilhã e Arouca(este ultimo injustíssimo face ao “banho de bola”dado pelo Vitória) equipas de enorme experiência, vitória clara sobre o Atlético (que na época passada lutou muito tempo pela subida) e duas derrotas fora de portas com histórias diferentes.
Justa no Marítimo B num dia em que a equipa não se encontrou e o adversário mereceu o triunfo e inventada pelo árbitro em Rio Maior com o Sporting B num jogo em que fomos sempre superiores mesmo reduzidos a dez jogadores (outra invenção arbitral) durante muito tempo.
Há pois boas razões para estarmos optimistas.
Dentro da nossa realidade, conhecedores das nossas limitações, assumindo que estamos a construir duas equipas e a reconstruir o clube.
Acredito que todos juntos vamos conseguir!

5 comentários:

Bruno disse...

Muito bom. Nunca é demais fazer chegar este discurso ao sócio menos esclarecido por todos os meios possíveis. Só queria acrescentar que o Vitória deveria empreender uma forte campanha de captação de crianças para o futebol desde a primária. É aqui que está o Futuro e não nas equipas A ou B! É fundamental haver formação e incentivar a modalidade. Todos os fenómenos fazem-se pela repetição incessante e prática constante de futebol.

Francisco Guise disse...

Caro Cirilo,

Embora discorde de algumas opções tomadas, quero acreditar e faço força, para que o que aqui está escrito se torne uma realidade.
Mas ambos sabemos que alguma coisa vai ter de mudar rapidamente. Principalmente depois do que aconteceu no último jogo. Se assim não for, também sabemos de antemão, que tudo ficará irremediavelmente perdido.
Haja esperança e acima de tudo, como dizes, muito apoio.
Por outro lado, as divergências continuarão a existir, pelo que também será necessário haver bom senso no seio da família Vitoriana.
Quero acreditar que depois da tempestade virá a bonança e nessa altura por favor abram alas ao VITÓRIA.

Francisco Guise

Anónimo disse...

Nao tenho a minima duvida que o LC e o grande ideologo deste Vitoria. Mas chamo a atencao para a fragilidade que pode advir de maus resultados nos proximos dois jogos que podem colocar muita coisa em causa.

Anónimo disse...

concordo com quase tudo o que escreveu, embora tenha de discordar do seguinte:

- os pontos perdidos, estão perdidos, não se recuperam;

- todos teremos de apoiar e incentivar, mas cabe-lhes a voçês deliniar estratégias para aumentar o numero de sócios e cadeiras anuais, e até ao momento não vi nada de especial

- quanto ao início de campeonato, embora tivessemos defrontado equipas fortes (Sporting e Porto) também defrontamos uma equipa que tem de estar ao nosso alcance no nosso estádio (estoril). Não foram somente as derrotas que me deixou decontente, mas a atitude, ou melhor, a falta dela. pior do que isso, não se viu, em nenhuma partida, fio de jogo, uma jogado com pés tronco e membros e isso é que é preocupante, pois a equipa titular, quase toda ela transita do ano passado, assim como o treinador.

luis cirilo disse...

Caro Bruno:
tudo isso será feito porque corresponde ao nosso projecto desportivo de médio prazo.
Caro Francisco:
Neste momento delicadisismo do clube é muito mais importante o quie nos une a todo do que aquilo que pontualmente nos separa.
É de sobrevivência que estamos a falar.
Quanto á equipa ela vai melhorar como é óbvio.
Caro Anónimo:
Vamos ter paciência e não cair no erro de fazer juizos precipitados