Não se entenda este post como uma descortesia ou uma falta de consideração pelo CDS.
Tão pouco como uma falta de reconhecimento pelo seu espaço próprio, pela sua autonomia de decisão, pelas diferenças ideológicas que tem em relação ao seu parceiro de coligação.
É apenas um retrato, figurado, do que tem sido a sua lógica de actuação, as suas fidelidades internas, a forma como se posicionam no especto político e nas coligações que tem feito com o PSD.
A verdade é que o CDS, tal como foi criado por Freitas do Amaral e Amaro da Costa, já não existe!
Depois dos anos tormentosos que se seguiram ao fim da AD, em que perdeu grande parte do seu eleitorado para o PSD (e praticamente desapareceu do mapa autárquico), o partido arrastou-se penosamente pelo cenário politico reduzido a ser o “partido do táxi” e sem nenhum espaço relevante de intervenção.
Líderes como Lucas Pires ou Adriano Moreira, pese embora a qualidade politica e intelectual de que davam mostras, foram incapazes de travarem essa queda do partido na irrelevância e acabaram por abandonar funções sem honra nem glória porventura convictos de que o problema não tinha solução.
Foi das sombras que então emergiu um pequeno e aguerrido grupos de jovens, unido por fortes (não tão fortes como alguns pensavam…) laços pessoais e políticos, decididos a conquistarem o poder interno e a devolverem ao partido o peso politico então perdido.
Com um líder (pelo menos ele achava que era…), Manuel Monteiro e um guru ideológico (Paulo Portas),assentes nas fidelidades de um pequeno grupo em seu redor imbuído de uma dedicação fanática aos seus comandantes o CDS reergueu-se da tal irrelevância e voltou a ganhar espaço.
Mudando de nome (passou de CDS a PP),defendendo com ardor três ou quatro causas mediáticas como a lavoura, tornando-se útil ao governo de Guterres (a famosa negociação em suite de hotel) o pequeno grupo foi ganhando espaço e protagonismo.
Pelo caminho, e como acontece muitas vezes nas seitas, o guru viu-se na necessidade de “matar” o líder e tomar o seu lugar em nome do fortalecimento do grupo, do cerrar fileiras nas causas e no garantir do seguidismo fanático.
Sem qualquer prurido ou hesitação voltaram ao nome original, retornaram à democracia cristã, deixaram algumas das tais causas mediáticas e voltaram, em 2002, a ser um partido de poder.
De lá para cá a história é mais fácil de relembrar.
Presença nos governos de Durão Barroso e Santana Lopes,sem merecerem criticas especiais quanto á solidariedade de que deram provas (há quem fale em submarinos, sobreiros e uma certa careta numa certa tomada de posse mas passemos adiante…), e depois deste ultimo ter sido derrubado pela famosa cabala voltaram á oposição sem danos especiais na sua imagem.
Tal como acontece nas seitas em ocasiões especiais o guru/líder deu um passo atrás, deixando os seus fieis bem posicionados para na oportunidade certa derrubarem o “inocente útil” que se predispusera a acarretar o fardo do primeiros tempos de oposição, e as coisas correram conforme previsto.
A manobra táctica, brilhante diga-se de passagem, permitiu reforçar lealdades, reafirmar convicções, separar os fiéis dos que tinham dúvidas (coitado do Luis Nobre Guedes que só tarde percebeu…) e apurar as lógicas internas de funcionamento em “seita”.
Com os disparates do governo Sócrates a acentuarem-se e sendo previsível que este dificilmente chegaria ao fim o guru/líder tocou a reunir e mandou os fiéis dos fiéis para o combate necessário á retoma do total poder interno.
Derrubar José Ribeiro e Castro.
O que fizeram de uma penada.
Com o “querido líder” de regresso, com os seus fanáticos admiradores a controlarem todo o partido desde os órgãos nacionais aos distritais passando pelos parlamentos (nacional e europeu) o CDS estava pronto para regressar ao poder na primeira oportunidade.
O que aconteceu nas últimas legislativas.
Feito o acordo de coligação logo se percebeu que desta vez a lógica de “seita” seria claramente assumida em detrimento da prudência com que em 2002 o partido tinha integrado o governo de Durão Barroso.
Começou pelo lugar exigido por Portas.
Os Negócios Estrangeiros.
Onde se paira acima dos problemas comezinhos de governar um país em crise e se tem um palco privilegiado para assistir ao desgaste dos outros!
Depois os outros lugares.
Onde outrora indicara nomes com peso politico para os “seus” lugares de ministros (Bagão Félix, Celeste Cardona, Luis Nobre Guedes e Telmo Correia) agora a aposta foi à descarada nos seguidores fiéis e mais fanáticos do guru/ líder.
Mota Soares (que pese embora o apelido foi de lambreta para a tomada de posse e logo aí deixou um sinal que só não percebeu quem não quis…) e Assunção Cristas.
E ao aceitar esses nomes cometeu o PSD o primeiro (a própria orgânica do governo foi um erro tremendo) de vários erros mas não é esse o tema deste post.
A que se somaram alguns secretários de estado moldados no mesmo tubo de ensaio.
Dedicação fanática ao “querido líder”, absoluta disponibilidade para “matarem” e “morrerem” por ele, absoluta ausência de pruridos na execução das suas dogmáticas directivas.
Percebeu-se isso, na última semana para citar apenas factos recentíssimos, através das críticas a Vítor Gaspar protagonizadas por João Almeida no Parlamento ou das intervenções de Nuno Melo no debate na RTP.
Dois fidelíssimos de Portas como não podia deixar de ser!
A que a conferência de imprensa de ontem do guru/líder apenas veio juntar a evidência do que os seus pupilos já tinham demonstrado.
O CDS (ainda) está no governo mas absolutamente ansioso por deixar de estar.
E penso, mas isto é apenas um reflexão pessoal, que ainda está apenas e só porque ainda não conseguiu (pese embora o brilhantismo táctico do “querido líder”) engendrar a melhor forma de se pirar da governação fazendo o ónus do fracasso recair inteirinho sobre o PSD.
Mas não subestimemos o “querido líder”, o pequeno grupo de fanáticos que o segue para todo o lado, nem as lógicas de “seita” pelas quais o partido se orienta.
Eles não vão desistir!
Depois Falamos
P.S. No fundo o que me aborrece, enquanto cidadão contribuinte, é que a história recente de PSD e PS não é assim tão diferente da do CDS como pode parecer