Jerónimo

Bem à moda do PCP, ou seja tudo resolvido entre quatro paredes que sendo suposto serem de vidro já se sabe que não são, Jerónimo de Sousa deixou ontem o cargo de secretário geral do PCP por razões de saúde que tudo indica serem reais.

Bem à moda do PCP, também, o sucessor não foi nenhum dos que nos últimos anos vinham sendo apontados nesse sentido (especialmente João Ferreira e João Oliveira) e sim um desconhecido Paulo Raimundo de que mais de 99,9999% dos portugueses nunca tinha ouvido falar.

Fragilizado por dezoito longos anos de liderança, pelos 75 anos de idade, pelos problemas de saúde já manifestados na campanha eleitoral de Janeiro o ex secretário geral resolveu sair pelo seu pé depois de ter prestado relevantes serviços ao seu partido durante os longos anos em que a sua simpatia, o seu carisma, a sua honestidade valeram sempre mais em termos eleitorais do que o próprio partido o que permitiu ir adiando o inexorável desgaste deste.

Mas nem isso impediu o brutal desaire eleitoral do PCP nas últimas legislativas em que obteve o seu pior resultado de sempre.

Essencialmente por dois erros políticos significativos como o foram a geringonça e o chumbo do penúltimo orçamento de estado que redundaram em perda significativa de expressão eleitoral (tal como o BE e pelas mesmas razões) em proveito absoluto do PS.

É pois um PCP ferido, falta saber se de morte, que Paulo Raimundo herda.

Desconhecido dos portugueses, não sendo deputado, não tendo acesso ao espaço mediático que o Parlamento sempre dá o novo líder vai ter tremendas dificuldades de afirmação ainda por cima arrostando com o terrível anátema de na questão da Ucrânia o PCP ter estado ( e continuar a estar) ao lado do criminoso e genocida Putin e da agressora Rússia.

A que acresce o facto não menos importante de o famoso "colectivo, que no PCP sempre valeu bem mais que qualquer líder (com excepção, talvez, de Alvaro Cunhal) em termos de poder interno, não dá o mínimo sinal de querer arrepiar caminho e escolher outro percurso que em termos ideológios seja menos fossilizado que aquele que vem seguindo desde há cem anos.

Creio por tudo isto que o novo secretário geral por maior que seja o seu empenho e o seu esforço não vai conseguir travar o caminho do PCP rumo à irrelevância política e social.

Há um tempo para tudo. Até para mudar.

Mas esse tempo para o PCP já passou.

Depois Falamos.