quinta-feira, fevereiro 25, 2021

Angústia

A angústia referida no título deste texto nada tem a ver, é bom que fique claro, com a actualidade do clube, a equipa A, B ou sub 23, as modalidades, a pandemia que nos priva de  todos os bons hábitos vitorianos desde o ir ao estádio ver futebol até ao ir ao pavilhão ver as modalidades ou participar em assembleias gerais passando pelo ir  às piscinas municipais ver o pólo aquático.
Isso, bem como a situação financeira do clube da SAD agravadas pela pandemia, são preocupações mas não são angústias e espero que nunca o venham a ser.
A angústia tem a ver com o clube em si no âmbito da sua história quase centenária e considerando aquela que é mais antiga e principal modalidade que nele se pratica, ou seja, o futebol.
Conheço o Vitória, balizando esse conhecimento com a primeira vez que o vi jogar algures entre 1964 e 1965 numa partida face ao Porto disputada na Amorosa, vai para 56 anos.
Conheci-o como todos os vitorianos da minha geração, e de outras, frequentando a "universidade" da Amorosa ao sábado á tarde para ver as "reservas" , ao domingo de manhã para ver iniciados, juvenis e juniores e ao domingo à tarde indo ao estádio municipal ver a primeira equipa.
Pontuado com deslocações a jogos fora a que era levado pelo meu Pai e pelos seus amigos que seguiam o Clube um pouco por todo o lado.
Braga, Santo Tirso, Póvoa de Varzim, Coimbra, Aveiro, Porto (Antas), Tomar, Matosinhos são algumas deslocações de que me recordo nesses já longinquos anos 60 e princípio da década de 70 e nas quais tive oportunidade de ver o Vitória extra muros.
Depois fiz o meu percurso vitoriano.
Espectador assiduo nos jogos em casa e nalguns fora, colaborador do extinto jornal "Vitória", membro da mesa da Assembleia Geral, Presidente da comissão organizadora da comemoração dos 75 anos do clube, director, secretário geral e vice presidente para o futebol e modalidades foi todo um percurso que me permitiu conhecer profundamente o clube e a realidade vitoriana.
E a par disso conhecer muitos vitorianos que muito me ensinaram sobre o que é o nosso clube.
Já referi várias vezes que para lá do meu Pai e do meu Avô, primeiros mestres na Causa, tive cinco amigos que destaco entre todos porque com eles muito aprendi sobre o Vitória e já não estando no mundo dos vivos merecem ser sempre recordados porque foram cinco enormes vitorianos.
Hélder Rocha, Custódio Garcia, Lourenço Alves Pinto, Jorge Folhadela e o recentemente desaparecido Francisco Martinho que foi seguramente a pessoa com quem em toda a minha vida mais falei sobre o Vitória e de cujos telefonemas no dia seguinte aos jogos continuo a sentir uma falta e uma saudade sem remédio.
Mas tive também o prazer, a honra e a sorte de ter convivido, mais com uns do que com outros como é habitual, com grandes presidentes do nosso clube como o foram António Pimenta Machado (para mim o melhor Presidente de sempre), Fernando Roriz, Gil Mesquita, Egídio Pinheiro, o já referido Hélder Rocha e aquele a quem chamarei sempre o "meu" presidente  Antero Henriques da Silva Júnior.
O "meu" Presidente porque era ele Presidente quando o meu Pai me inscreveu como sócio e portanto foi sempre o meu primeiro presidente e uma pessoa pela qual sempre tive uma enorme consideração pessoal mesclada pela admiração pelo enorme vitoriano que foi.
E como eles conheci e convivi com outros dirigentes que ajudaram a que o Vitória fosse o que é hoje.
Dos quais não posso deixar de destacar o eng. José Arantes cujo papel na expansão patrimonial do clube foi absolutamente relevante.
Mas para lá de todos esses que atrás referi conheci e conheço muitos vitorianos que nunca passaram pelos orgãos sociais, ou ainda não passaram mas podem vir a passar, senhores de sólidas convicções vitorianas e possuidores de qualidades pessoais e competências profissionais que postas ao serviço do Vitória os poderiam/podem constituir em reais mais valias para o clube.
Bem como gente de gerações mais novas,muitas das quais conheço apenas das redes sociais,  que pelos seus escritos, pelas suas reflexões, pelas ideias que apresentam  mostram bem que a sucessão geracional está mais que assegurada e que o Vitória continuará a ter excelente "massa crítica" entre os seus adeptos.
E não posso deixar de incluir aqui, por mérito próprio, aqueles que no mundo político local serviram e servem a "Causa Vitória" dos quais destaco de forma absolutamente justa o nome de António Xavier que foi um Presidente de Câmara que só não fez mais pelo clube  porque não pôde(ou não o deixaram) e que tem um percurso vitoriano exemplar como adepto de toda a vida, atleta e dirigente.
Chegado aqui é tempo, então, de falar da angústia.
O meu avô morreu em 1985, o meu pai em 1990, os cinco amigos que referi morreram ao longo dos últimos vinte anos (Francisco Martinho o ano passado) , alguns dos presidentes que conheci também já não estão entre nós bem como outros dirigentes e outros vitorianos destacados.
E não estarei a exagerar se disser que todos morreram sem verem o seu grande sonho como  vitorianos cumprido.
Verem o Vitória sagrar-se campeão nacional de futebol!
Alguns nem na mais "bela tarde vitoriana" em 26 de Maio de 2013 puderam participar porque já não estavam entre nós.
O Vitória para o ano completará o seu primeiro centenário.
E para lá das comemorações, que serão naturalmente condignas e com a grandiosidade que o clube e a data justificam, será também um tempo( se assim o quisermos), daqui até lá, para uma reflexão conjunta de todos quantos temos neste fantástico clube a nossa maior Causa desportiva sobre as razões pelas quais continuamos tão longe de cumprir esse sonho de sucessivas gerações.
Porque razão um clube com uma massa adepta extraordinária, uma envolvência da comunidade inigualável e sem concorrência de emblemas forasteiros, que teve dirigentes de grande qualidade e dedicação, que tem adeptos com valor, com ideias, com capacidades, um clube que tem tudo para ser único neste país continua tão longe do grande objectivo.
Mais longe do que estava, por paradoxal que pareça, há vinte, trinta, quarenta ou cinquante anos!
Porque razão este clube continua a marcar passo, a alternar épocas em que o "gigante adomecido" parece despertar com épocas de profunda letargia, a adiar sucessivamente aquilo que devia estar cada vez mais próximo.
Porque razão clubes, próximos ou longinquos, que não tem o nosso historial nem as nossas condições brutais de crescimento, discutem posições connosco ou nos deixaram cada vez mais para trás ao longo dos ultimos quinze anos depois de longas décadas em que para nos verem tinham de olhar bem para cima.
O que falta ao Vitória para ser aquilo que pode ser?
Em que falhamos, não fomos competentes, não estivemos à altura do nosso nome, da nossa tradição e do nosso símbolo?
É a reflexão que vale a pena fazer. 
Pensar que Vitória queremos para os próximos cem anos, como o vamos construir, os passos que precisamos dar, os erros que temos de corrigir, a estratégia de crescimento sustentado que vamos adoptar, as opções desportivas , patrimoniais , associativas, financeiras  e comunicacionais que terão de sustentar esse crescimento são aquilo que considero fundamental ocupar o centro da nossa reflexão.
Porque o futuro que o nosso Vitória vai ter depende dos vitorianos de hoje.
Na minha família, em linha directa, somos cinco gerações de vitorianos.
O meu avô,  o meu Pai, eu, os meus filhos e a minha sobrinha e o meu neto.
Sei bem os valores vitorianos que recebi, sei bem o quão fidedigmamente os procurei transmitir, sei bem que a quinta geração também os está a receber.
E como na minha familia isso acontece em centenas, milhares de famílias vitorianas em que o Vitória é um membro querido do agregado familiar  em que a Causa passa de avôs para pais, filhos , netos e bisnetos.
A nossa responsabilidade e o nosso dever , dos que cá estamos hoje, é legar aos que vieram a seguir um Vitória maior e melhor, mais forte , mais competitivo, capaz de cumprir o sonho inatingido dos nossos primeiros cem anos.
E tal como o meu Avô , o meu Pai, e tantos vitorianos que referi neste texto sempre me disseram esse sonho pode ser uma realidade.
Depende de nós.
Da nossa vontade, do nosso querer, da nossa capacidade de nos unirmos em torno de um grande objectivo.
E se fizermos as coisas bem feitas acredito que o sonho se transformará em realidade.
Depois Falamos.

2 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns pelo texto!Revejo-me em quase tudo de que escreve,também eu entrei para sócio com o saudoso Snr. Antero,Também eu fiz as peregrinações que transcreve á Amorosa até por talvez termos a mesma idade(63)anos.O Vitória discute-se assim, de forma positiva e sem bota abaixismos. Agora também é preciso dizer que quem está no poder deve ter mais atitude agregadora de toda esta massa que quer colaborar e a isso não é chamada. O presidente deve falar amiúde para os Vitorianos,dando-lhes conta dos seus projetos e ambições e pedir a sua colaboração naquilo que deles precisar.O projeto deve ser sentido por todos,foi assim que o Vitória cresceu e se tornou num caso único de paixão e amor.

Cumpts.
J.M.

luis cirilo disse...

Caro J.M.
Acho fundamental envolver a massa associativa nos projectos que o clube queira desenvolver.
É muito mais fácil mobilizar e estimular as pessoas se elas forem ouvidas e tiverem oportunidade de darm opinião. Nem que fosse preciso fazer Assembleias Gerais propositdamente para ouvir as opiniões dos sócios e não apenas aquelas a que os estatutos obrigam.
Há muito a fazer no nosso clube.
Não podemos perder mais tempo.