sábado, janeiro 09, 2021

Presidentes

Pode parecer um bocadinho sádico recordar nestes tempos de campanha presidencial os quatro Presidentes eleitos antes de Marcelo Rebelo de Sousa quando se constata a falta de nível que vamos vendo nos debates dos actuais candidatos. 
Mas faço-o por três razões essenciais deixando desde já claro como a água que nem vou avaliar a forma como exerceram os mandatos nem os seus percursos políticos.
Vou , pela positiva, realçar aquilo que é comum aos quatro e que em minha opinião os tornou uma referência merecedora de ser citada como exemplo. 
Em primeiro lugar realço que António Ramalho Eanes, Mário Soares, Jorge Sampaio e Aníbal Cavaco Silva quando se tornaram presidentes (e todos eles, e não foi por acaso, foram reeleitos para um segundo mandato) tinham um sólido e bem conhecido percurso de vida e de intervenção pública. Eanes, apesar de tudo o menos conhecido à data da eleição, tinha dado um contributo decisivo para a defesa da democracia ao liderar as tropas que em 25 de Novembro impediram a tomada do poder pela extrema esquerda ditatorial. Fizera também parte do Movimento dos Capitães responsável pelo 25 de Abril. 
Mário Soares foi toda a vida um combatente pela Liberdade. 
Em ditadura e quando a democracia era ainda frágil e teve papel decisivo na sua consolidação.
Foi ministro dos negócios estrangeiros e primeiro ministro, fundou e liderou o PS. 
Jorge Sampaio integrara a oposição democrática antes do 25 Abril, foi fundador do MES, líder do PS e presidente da câmara de Lisboa.
Cavaco Silva fora professor universitário, director do gabinete de estudos do Banco de Portugal, ministro das finanças e primeiro ministro durante dez anos. 
Percursos sólidos, relevantes e conhecidos de todos. 
Em segundo lugar eram políticos cultos, sensatos e conhecedores dos limites num debate político. Todos eles participaram em debates bem acesos, de intensa rivalidade até pessoal mas nunca nenhum chamou ao oponente "vigarista", "cobarde", "troca tintas" ou "boneco ao serviço de interesses ocultos" entre outros "mimos" tão semelhantes como deploráveis. 
Porque além do respeito pessoal entre eles tinham respeito pelo cargo a que se candidatavam e sabiam claramente que a chefia do Estado é incompatível com a ordinarice mais própria da tasca do que de um estúdio de televisão.
Mas há uma terceira razão. 
Eanes, Soares , Sampaio e Cavaco quando debatiam com adversários faziam-no com convicção e firmeza mas sem o olhar de permanente ódio que caracterizou duas candidatas em debates recentes e que tão negativamente me impressionaram. 
E vi deles grandes debates. 
Soares com Cunhal em 1975, Cavaco com Soares em 2006, Soares com Zenha (um debate terrível entre dois grandes amigos que estavam zangados)em 1985, Sampaio com Marcelo Rebelo de Sousa nas autárqicas de 1989 em Lisboa, entre outros que poderia citar. 
Grandes debates mas que ficaram na memória pela excelência da argumentação e não por estados de alma negativos veiculados por olhares furibundos.
A Presidência da República é um cargo demasiado importante para ser ocupado por gente sem educação, sem valores, sem tolerância, sem respeito pelo lugar a que se candidata. 
E ao recordar hoje Eanes, Soares , Sampaio e Cavaco estou certo que também os terei presentes na hora de votar.
Depois Falamos.

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