Com a realização do respectivo sorteio pode dizer-se que está dado o
início à época 2020/2021 num tempo em que são mais as dúvidas que as certezas e
maior o receio do que a confiança sobre como a época se irá desenrolar.
Começa a época mal.
Porque o referido sorteio, uma vez mais, pouco tem a ver com a verdade
desportiva da competição e muito com os interesses de alguns clubes que
beneficiam de clausulas especiais quanto aos seus jogos.
Entendo, desde sempre, que sendo uma competição em que todos jogam contra todos
num campeonato a duas voltas não devia existir nenhum tipo de condicionalismo à
altura em que os jogos se realizam e devia ser realizado um sorteio puro sem
qualquer tipo de excepções a não ser aquelas que fossem inultrapassáveis por
questões fundamentadas de segurança dos jogos.
Como, por exemplo, dois clubes do mesmo concelho não poderem jogar em
casa no mesmo dia mas poderem fazê-lo na mesma jornada desde que em dias
diferentes.
Agora excepções por causa de participações em competições europeias, seja liga Europa seja
Liga dos Campeões, não fazem qualquer sentido e criam desde logo um nicho de clubes
que são diferentes dos outros perante os
regulamentos e essa diferença depois repercute-se na arbitragem, no VAR, na disciplina,
na comunicação social e até nas reuniões da Liga e da FPF com o primeiro
ministro !
Na Europa não é assim mas Portugal é um país em que o feudalismo custa
a erradicar.
Começa mal, também, com o formato em que a Liga vai fazer disputar a
sua taça restringindo-a a oito clubes em função da classificação das Ligas lá
para o final do ano.
Porque uma entidade como a Liga Portuguesa de Futebol Profissional,
que alberga todos os clubes que disputam as duas ligas profissionais, tem a
estrita obrigação de tratar todos os seus associados por igual e mais ainda
numa competição por ela organizada.
E se o regulamento normal, com as quatro séries, já deixava muito a
desejar porque era feito para favorecer os três do costume o regulamento de
excepção ainda é pior porque marginaliza a maioria dos clubes pertencentes ao
organismo.
Muito claramente, e percebendo bem o problema de datas que esta época
tem, mais valia não realizar esta edição da taça da liga do que fazê-lo de uma
forma discriminatória em relação a tantos clubes.
São dois maus sinais a balizarem uma época sobre a qual pendem muitas
interrogações nomeadamente em torno do esforço que vai ser pedido aos jogadores
assoberbados com a disputa das competições internas e em muitos casos das
competições europeias de clubes e de selecções.
E neste último caso convém não esquecer que esta época se disputa a
Liga das Nações e lá para Junho/Julho a fase final do Europeu e os Jogos
Olimpicos que a pandemia impediu que fossem este ano em ambos os casos.
Cada vez mais jogos, clubes e selecções, mas os jogadores são sempre
os mesmos e com o esforço que lhes é exigido a ser cada vez maior ao sabor da
incontrolável ganância por dinheiro da FIFA da UEFA, dos patrocinadores e por
aí fora...
E no fim da linha os clubes a suportarem as consequências de tudo
isso!
Mas aquilo que neste momento suscita mais dúvidas e mais incertezas
quanto à próxima época prende-se com a presença do público nos estádios face à
evolução da pandemia e aos cuidados de segurança a ter.
Nalguns paises europeus começa a ensaiar-se o regresso dos
espectadores, embora em número necessariamente reduzido, enquanto noutros nem
nisso se pensa variando as posições em função dos números da pandemia.
Em Portugal não se sabe ,ainda, como será embora a tendência pareça
apontar para a continuação dos jogos à porta fechada já que o futebol (e outras
modalidades desportivas) não parecem gozar do estatuto de excepção atribuido a
eventos políticos, espectáculos tauromáquicos e concertos de alguns artistas.
Sabendo-se agora que o país voltará a entrar em estado de contingência
a 15 de Setembro, precisamente cinco dias antes de começar o campeonato, com
todas as restrições que isso implica parece claro que o regresso dos
espectadores aos estádios não estará para breve com tudo que isso significa
para adeptos e clubes.
Adeptos que estão privados de ver as suas equipas desde há muito tempo
e assim irão continuar por prazo indefinido e clubes que sofrerão as
inevitáveis quebras de receitas oriundas dos bilhetes e dos lugares anuais que
não venderão e do merchandising que não
comercializarão.
2020/2021 começa sob negras núvens de dúvidas e incertezas sobre a
forma como as competições se irão desenrolar.
Ao menos que seja, em termos de jogo jogado, uma boa época com grandes
jogos e uma verdade desportiva bem maior do que o habitual.
Não seria pedir muito se não estivessemos em Portugal.
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