Há um erro que ninguém deve cometer, e eu pessoalmente tento nunca o fazer, que é o de levar o futebol português demasiado a sério porque ele de sério tem, infelizmente, muito pouco.
E tem de muito pouco, sejamos claros, essencialmente por culpa de alguns
dirigentes que por palavras e actos põe a sua credibilidade em causa todos os
dias com base em polémicas absurdas e em trocas de acusações que não escondem a
realidade de cada um deles tentar fazer pior do que quem está a acusar em cada
momento.
Todas estas polémicas em volta da taça da liga, que já de si é
suficientemente polémica face ao anacrónico regulamento que a ela preside, são
bem o retrato do actual estado do nosso futebol a pedir urgente intervenção de
uma Justiça que corte a direito sem olhar a emblemas ou dimensão de massas
adeptas.
Não vou sequer discutir, por tão ridículo que é o contexto, se o
árbitro Carlos Xistra (com um longo historial de erros a favorecerem o Benfica
entre os quais três penáltis perdoados num jogo em Guimarães com o Vitória)
esteve bem ou mal na anulação do lance que daria o segundo golo aos encarnados
nem tão pouco se Fábio Veríssimo (outro árbitro com longo historial de como
árbitro e VAR tomar decisões que favoreceram o Benfica como ainda na época
passada na anulação de um golo ao Portimonense que lhe daria o empate na Luz a
três ou quatro minutos do fim da partida) enquanto VAR deu a indicação correcta
ao árbitro.
É um lance de difícil avaliação, mesmo com recurso a imagens
televisivas, em que é tão aceitável que não houvesse fora de jogo como o seu
contrário pelo que se deve enquadrar naquilo que nunca desaparecerá do futebol
que é a possibilidade de erro humano.
Mas o erro humano devia ter parado aí, na insignificância de um lance
altamente duvidoso de um jogo de futebol, e não ter-se propagado de forma tão
avassaladora quanto grave.
Infelizmente tudo que vem a seguir, e está longe de acabar, vai para
lá do direito ao erro.
Comecemos pelo princípio, dando dois exemplos, para contextualizarmos
a questão e aferirmos da moral que alguns tem para se queixar desta arbitragem
neste jogo:
Na fase de grupos quem se devia ter apurado para as meias finais era o
Aves e não o Benfica porque o golo com que os encarnados empataram em Vila das
Aves resultou de claro fora de jogo sem margem para qualquer dúvida ao
contrário do lance polémico do Porto-Benfica.
Nem o Benfica veio contestar a arbitragem nem a comunicação social deu
a esse erro a repercussão que está a dar a este eventual erro.
No Vitória-Benfica, do passado dia quinze de Janeiro a contar para a
Taça de Portugal, o Benfica venceu em Guimarães por 1-0 num jogo recheado de
erros da equipa de arbitragem a favorecerem-no de forma clara.
Um penálti claro que ficou por assinalar e um vermelho a Jardel que
ficou por mostrar,aos 24 minutos por entrada brutal sobre Davidson, foram os
erros graves mais evidentes mas houve outros de menor monta.
Mais uma vez o Benfica não se queixou da arbitragem nem se preocupou
com a verdade desportiva dos jogos e uma vez mais a comunicação social não deu
a esses erros a repercussão que deu ao eventual erro de que se fala neste
texto.
Ou seja, e com a clareza de que nunca fujo, o Benfica esta época
esteve nas meias finais da taça da Liga e está nas meias finais da Taça de
Portugal graças a erros da arbitragem a seu favor.
E exemplos como este em relação ao Benfica, mas também ao Porto e em
menor escala ao Sporting, são literalmente às centenas ao longo dos anos.
Com e sem VAR.
Por isso se torna incompreensível esta moral conforme as
conveniências, estas exigências de verdade desportiva quando se perde com erros
dos árbitros (raramente) compensada pelo silêncio quando se ganha graças a esses
erros (o que acontece com regular frequência) este estado de podridão para que
paulatinamente o nosso futebol se encaminha por culpa dos clubes a quem chamam “grandes” e de alguns dirigentes que nesses
clubes e nas estruturas dirigentes mostram todos os dias não estarem à altura
das suas responsabilidades.
O que aconteceu e está a acontecer com o árbitro Fábio Veríssimo é
muito grave e um exemplo claro do atrás escrito.
Não sei, e creio que ninguém sabe, se as decisões que tomou enquanto
VAR nesse jogo (porque noutros...) foram ou não correctas.
Mas sabe-se o que disse o presidente do Benfica sobre ele no final do
jogo nomeadamente afirmando que não podia voltar a apitar.
E também se sabe que o Conselho de Arbitragem ficou muito preocupado
(ao contrário da displicência com que encara erros a favor dos chamados “grandes),
terá chamado o árbitro para uma reunião de análise ao seu trabalho e fruto de
tudo isso Fábio Veríssimo resolveu pedir licença por tempo indeterminado
deixando de arbitrar jogos e de actuar como VAR.
Ou seja, em linguagem de outras áreas, quem se mete com o Benfica
leva!
E ele levou.
E por isso todos os árbitros ficaram a saber que se tomarem decisões,
por mais correctas que sejam, que desagradem ao Benfica e ao seu presidente
correm o risco de lhes acontecer o mesmo que a Fábio Veríssimo e serem
proscritos da arbitragem.
É inaceitável.
Como inaceitável é o silêncio cúmplice da APAF, da LPFP, da FPF e de
todos os outros clubes (excepção feita a Sporting e Porto que já reagiram) que
assobiaram para o ar e fizeram de conta que não é nada com eles quando na
realidade está em causa a verdade desportiva das competições face a esta coacção sobre os árbitros.
É grave.
Muito grave.
Por isso acabo este texto como o comecei.
Não se pode levar o futebol
português a sério porque ele de sério tem muito pouco!
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