terça-feira, dezembro 11, 2018

Democracia e Informação IV

O meu artigo desta semana no jornal digital Duas Caras.

Com a concessão pelo Estado dos alvarás de funcionamento a Rádio Fundação e Rádio Santiago, que passaram assim a deixar de ser rádios “piratas” para entrarem na legalidade, a comunicação social em Guimarães entrou numa nova fase na sua já centenária História de vida e serviço à comunidade.
É certo que perderam, ambas, alguma da espontaneidade, improviso, saudável “loucura” que caracterizaram os seus primeiros tempos de funcionamento (embora nesse aspecto da saudável “loucura” a Rádio Guimarães, extinta nessa altura, tenha sido completamente imbatível !!!) para passarem a adoptar uma pose mais institucional que se reforçaria, e muito, nos anos seguintes e até à actualidade em que o seu institucionalismo é manifestamente sinónimo de perda de distância crítica em relação a muitos acontecimentos, protagonistas e instituições.
Mas ainda não chegamos aí.
Com a legalização, e funcionando como qualquer outra empresa, as rádios locais passaram a poder manter um relacionamento comercial e institucional que naturalmente beneficiou as suas actividades e lhes permitiu fontes de financiamento legal que vieram substituir as dádivas de amigos e a publicidade sem recibo (em muitos casos) que caracterizavam a sua actividade nos primeiros anos de vida e não lhe permitiam qualquer expectativa de gestão financeira para lá do mês seguinte passe o exagero.
Creio que a legalização das rádios, a manutenção dos jornais já existentes e o aparecimento de novos títulos significaram que no final dos anos oitenta do século passado e durante a década de noventa até aos primeiros anos do presente século a comunicação social vimaranense viveu o seu período de maior pujança, capacidade informativa, pluralismo político e ideológico e diversidade informativa e opinativa que o advento do novo século não viria, infelizmente, a dar-lhe continuidade.
Guimarães teve ao logo desse período, e para lá das duas rádios locais já referidas, os seguintes títulos a publicarem-se semanalmente:
“Notícias de Guimarães”, o mais lido, vendido e com grande carteira de assinantes (boa parte deles vivendo fora de Guimarães e até do país o que relevava a importância do jornal) que se situava numa área de centro-direita ,embora com pluralismo em termos de colaboradores, e era o mais influente em termos de opinião pública.
“Comércio de Guimarães” que se limitou a sobreviver durante décadas mas após a sua aquisição pela Sociedade Santiago e introdução de uma gestão profissional e com lógica empresarial rapidamente aumentou o número de leitores , assinantes e anunciantes e se viria a tornar no jornal de maior circulação no concelho aproveitando muito bem as sinergias com a Rádio Santiago que fazia e faz parte do mesmo grupo.
“Povo de Guimarães” ,pertencente a uma cooperativa, jornal claramente de esquerda surgido pouco anos após o 25 de Abril e desde sempre dirigido por homens e mulheres afectos ao PS, ao PCP e a outras forças de esquerda mas com colunistas de outras áreas políticas.
Foi agente activo, embora quando precisou de nada lhe tenha valido, da conquista da Câmara pelo PS ao PSD em 1989 dando origem a um ciclo político que ainda se mantém de domínio do município pelos socialistas.
Estes eram os jornais tradicionais das últimas décadas de Guimarães.
Dois anteriores ao 25 de Abril e um surgido logo a seguir.
Depois aparecem mais três.
“Toural”, posteriormente “Expresso do Ave” ,que surgiu na área política do PSD fruto de uma sociedade com 15 membros que tinham projectos ambiciosos na área da comunicação social,mas que se ficaram pelos projectos, tendo o jornal ficado pouco tempo depois da sua fundação nos braços do jornalista José Eduardo Guimarães que conseguiu mantê-lo em publicação durante mais de vinte anos.
Foi no seu tempo um jornal criativo, com rubricas que os outros não tinham, que marcou a diferença em muitas áreas.
O “Tribuna de Guimarães”, um jornal de combate político à câmara socialista, dirigido pelo jornalista e escritor João Barroso da Fonte que trouxe à comunicação social vimaranense um estilo de combate frontal e sem tréguas pouco comum em Portugal mas com sucesso noutros países.
Teve vida efémera mas marcou um estilo.
Finalmente o “Semanário de Guimarães”, pertencente à Rádio Fundação e que pretendia replicar o modelo Rádio Santiago/Comércio de Guimarães, mas cuja publicação não durou muito tempo embora fosse um jornal de fácil leitura e até bastante interessante.
Chegaram a publicar-se os seis em simultâneo e foram, de facto, os anos de ouro da comunicação social vimaranense.

(Continua)

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