Com a concessão pelo Estado dos alvarás de funcionamento a Rádio Fundação e Rádio Santiago, que passaram assim a deixar de ser rádios “piratas” para entrarem na legalidade, a comunicação social em Guimarães entrou numa nova fase na sua já centenária História de vida e serviço à comunidade.
É certo que perderam, ambas, alguma da
espontaneidade, improviso, saudável “loucura” que caracterizaram os seus
primeiros tempos de funcionamento (embora nesse aspecto da saudável “loucura” a
Rádio Guimarães, extinta nessa altura, tenha sido completamente imbatível !!!) para
passarem a adoptar uma pose mais institucional que se reforçaria, e muito, nos
anos seguintes e até à actualidade em que o seu institucionalismo é
manifestamente sinónimo de perda de distância crítica em relação a muitos
acontecimentos, protagonistas e instituições.
Mas ainda não chegamos aí.
Com a legalização, e funcionando como qualquer outra empresa, as
rádios locais passaram a poder manter um relacionamento comercial e
institucional que naturalmente beneficiou as suas actividades e lhes permitiu
fontes de financiamento legal que vieram substituir as dádivas de amigos e a
publicidade sem recibo (em muitos casos) que caracterizavam a sua actividade
nos primeiros anos de vida e não lhe permitiam qualquer expectativa de gestão
financeira para lá do mês seguinte passe o exagero.
Creio que a legalização das rádios, a manutenção dos jornais já
existentes e o aparecimento de novos títulos significaram que no final dos anos
oitenta do século passado e durante a década de noventa até aos primeiros anos
do presente século a comunicação social vimaranense viveu o seu período de
maior pujança, capacidade informativa, pluralismo político e ideológico e diversidade
informativa e opinativa que o advento do novo século não viria, infelizmente, a
dar-lhe continuidade.
Guimarães teve ao logo desse período, e para lá das duas rádios locais
já referidas, os seguintes títulos a publicarem-se semanalmente:
“Notícias de Guimarães”, o mais lido, vendido e com grande carteira de
assinantes (boa parte deles vivendo fora de Guimarães e até do país o que
relevava a importância do jornal) que se situava numa área de centro-direita ,embora
com pluralismo em termos de colaboradores, e era o mais influente em termos de opinião pública.
“Comércio de Guimarães” que se limitou a sobreviver durante décadas
mas após a sua aquisição pela Sociedade Santiago e introdução de uma gestão
profissional e com lógica empresarial rapidamente aumentou o número de leitores
, assinantes e anunciantes e se viria a tornar no jornal de maior circulação no
concelho aproveitando muito bem as sinergias com a Rádio Santiago que fazia e
faz parte do mesmo grupo.
“Povo de Guimarães” ,pertencente a uma cooperativa, jornal claramente
de esquerda surgido pouco anos após o 25 de Abril e desde sempre dirigido por
homens e mulheres afectos ao PS, ao PCP e a outras forças de esquerda mas com
colunistas de outras áreas políticas.
Foi agente activo, embora quando precisou de nada lhe tenha valido, da
conquista da Câmara pelo PS ao PSD em 1989 dando origem a um ciclo político que
ainda se mantém de domínio do município pelos socialistas.
Estes eram os jornais tradicionais das últimas décadas de Guimarães.
Dois anteriores ao 25 de Abril e um surgido logo a seguir.
Depois aparecem mais três.
“Toural”, posteriormente “Expresso do Ave” ,que surgiu na área
política do PSD fruto de uma sociedade com 15 membros que tinham projectos
ambiciosos na área da comunicação social,mas que se ficaram pelos projectos,
tendo o jornal ficado pouco tempo depois da sua fundação nos braços do
jornalista José Eduardo Guimarães que conseguiu mantê-lo em publicação durante
mais de vinte anos.
Foi no seu tempo um jornal criativo, com rubricas que os outros não
tinham, que marcou a diferença em muitas áreas.
O “Tribuna de Guimarães”, um jornal de combate político à câmara
socialista, dirigido pelo jornalista e escritor João Barroso da Fonte que
trouxe à comunicação social vimaranense um estilo de combate frontal e sem
tréguas pouco comum em Portugal mas com sucesso noutros países.
Teve vida efémera mas marcou um estilo.
Finalmente o “Semanário de Guimarães”, pertencente à Rádio Fundação e
que pretendia replicar o modelo Rádio Santiago/Comércio de Guimarães, mas cuja
publicação não durou muito tempo embora fosse um jornal de fácil leitura e até
bastante interessante.
Chegaram a publicar-se os seis em simultâneo e foram, de facto, os
anos de ouro da comunicação social vimaranense.
(Continua)
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