Ao mesmo tempo que a selecção nacional A prepara a sua participação no Mundial da Rússia, realizando dois jogos particulares também de cariz solidário com as vitimas dos incêndios, o futebol nacional mergulha uma vez mais no lodo das polémicas e das controvérsias sem fim que são a sua infeliz imagem de marca.
Chega a ser chocante como é possível um futebol que tem a sua principal selecção apurada para a décima grande competição consecutiva (Mundiais e Europeus) , que tem um dos dois melhores jogadores do mundo de há dez anos a esta parte, que tem grandes jogadores e grandes treinadores espalhados pelos principais campeonatos europeus consegue na vertente interna ser tão medíocre, tão falho de responsabilidade, tão carente de verdadeiro profissionalismo ao nível directivo, tão falso em termos de verdade desportiva.
Em Portugal, ao contrário do que acontece em quase toda a Europa, os que deviam ser principais interessados na rentabilidade, na imagem e prestigio do futebol- os seus dirigentes- são os primeiros a desprestigiá-lo, a envergonhá-lo e a fazerem-no verdadeiramente terceiro mundista.
Já tínhamos, de há muito, o deprimente espectáculo quase diário dos paineleiros televisivos afectos aos três clubes “donos disto tudo” protagonizarem tristes espectáculos de intolerância, de insensatez, de uma clubite doentia que na esmagadora maioria dos casos ultrapassa tudo que se possa entender como racional.
Envolvidos nessas furiosas discussões, quase ao nível das lutas de gladiadores na antiga Roma, nem sequer se apercebem do triste serviço que estão a prestar aos seus clubes e ao futebol em geral com essas exibições de fanatismo insensato e, sabe-se agora, comandados por cartilhas enviadas pelos donos desses clubes.
Mas não satisfeitos com isso, com essa pancadaria verbal quase diária, os três clubes e quem neles manda resolveram subir o grau de agressividade das questões fazendo entrar em cena uns personagens denominados de “directores de comunicação”, mas que mais parecem os pistoleiros do velho Far West sempre dispostos a atirarem a tudo que mexe, para através deles redobrarem os ataques aos adversários e com esse “ruído” distraírem os seus adeptos dos próprios insucessos.
Andamos há meses a assistir a esse “tiroteio”.
Mas esta semana, talvez porque o campeonato está parado e os adeptos tem mais tempo para olharem as carreiras das suas equipas para lá do imediatismo do resultado do jogo anterior e dos prognósticos para o jogo seguinte, entraram literalmente em campo aqueles que mais juízo e contenção deviam ter.
Os próprios presidentes dos clubes.
No caso os presidentes do Sporting e do Benfica que (duvidosa) honra lhes seja feita conseguiram ultrapassar paineleiros e “pistoleiros” na contundência, na insensatez, na falta de nível com que se pronunciarem sobre os clubes adversários.
Insultos, insinuações, acusações que nunca serão provadas, provocações sem sentido, perante um país desportivo perplexo com tanta baixeza, tanta malcriadice , tão mau exemplo dado por quem tem a obrigação de ser uma referência positiva perante os milhões de adeptos dos seus clubes.
Creio que as próprias autoridades do Estado, porque das desportivas pouco há a esperar como é sabido, deviam obrigar a que responsáveis de clubes tivessem outra contenção e outro respeito mutuo quando aparecem a prestarem declarações sobre os seus clubes e respectivos adversários.
Porque ao invés de fazerem pedagogia e serem exemplos éticos perante os seus adeptos surgem como autênticos incendiários de ânimos e fomentadores de conflitualidades que vão muito para lá daquilo que devem ser apenas e só rivalidades desportivas.
Nesse aspecto foi mais uma semana negra para o nosso futebol.
E apetece perguntar até quando este estado de coisas se vai manter.
Porque quem conseguir despir-se de paixões clubísticas e quiser olhar de frente para este grave problema, que já é muito mais que desportivo porque de cidadania, perceberá que estamos muito para lá do que é sensato e admissível e à beira de uma situação descontrolada que ninguém sabe como acabará.
P.S. Também para o “meu” Vitória foi uma semana negra.
Porque perder em casa por 1-4, mesmo na taça CTT, face ao décimo sétimo classificado da II Liga (U.D. Oliveirense) é um resultado horrível que compromete a passagem à “final four” de Braga e muito pior que isso envergonha todos os vitorianos.
Desfeito o mito insustentável de termos uma das melhores equipas dos últimos anos, e sem entrar em particulares considerações sobre como foram gastos os tais 13 milhões de investimento nesta época, é cada vez mais evidente que também no Vitória há muita coisa que tem de mudar.
E depressa!
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