Há muitos anos atrás não havia internet, televisões privadas, rádios locais e outras formas de comunicação que permitissem aos vitorianos acompanharem os jogos fora do Vitória que não fosse acompanhando a equipa (também não havia as auto estradas de hoje...) ou ouvindo os relatos radiofónicos na Emissora Nacional (depois Antena 1), na Rádio Renascença ou no Rádio Clube Português.
À noite, num programa da RTP chamado "Domingo Desportivo", lá davam dois ou três resumos dos jogos da jornada normalmente de Benfica e Sporting pelo que só quando o Vitória ia aos estádios desses clubes tínhamos direito a ver um resumosinho do nosso clube.
No tais relatos radiofónicos (relatos em cadeia assim se chamavam) quando o Vitória não jogava com esses dois clubes tínhamos direito a uma intervenção inicial com a constituição das equipas, às entradas do locutor quando acontecia um golo e a um curto comentário final porque como todos os jogos se disputavam ao mesmo tempo a prioridade ia sempre para os dois clubes de Lisboa.
Em suma quase nada por quem ansiava por saber...tudo.
Como quase todos os jornais , nomeadamente os desportivos, só saíam no dia seguinte a única forma de driblar a curiosidade e saber pormenores era precisamente com a excepção à regra, O Norte Desportivo, que se publicava no Porto ao fim da tarde e chegava a Guimarães por volta das dez da noite num dos últimos comboios que faziam a ligação entre as duas cidades.
Morava nesse tempo na rua de Gil Vicente.
E a curiosidade era tanta que ainda miúdo de 12 ou 13 anos dirigia-me, depois de jantar, para um pequeno quiosque situado frente a uma entrada lateral da igreja de S. Domingos, na rua de D.João I, que estava aberto ao domingo à noite chamado "Zé do Século" (pertença de um antigo ardina e cauteleiro muito conhecido na cidade) e lá esperava que uma vez chegados os jornais à Tabacaria Marinho no Toural esta procedesse à distribuição pelos quiosques que estavam abertos e cujos proprietários lá iam levantar os exemplares pedidos.
E se às vezes a espera era curta, dez ou quinze minutos, noutros casos era bem mais longa porque o jornal não tinha chegado no comboio das dez e qualquer coisa e por isso vinha no ultimo que chegava uma hora depois.
E eu lá ficava pelo quiosque, com mais meia dúzia de curiosos (quase todos muito mais velhos que eu) das novidades vitorianas, ouvindo as animadas conversas sobre o Vitória e com elas aproveitando para aprender enquanto o "Norte Desportivo" não chegava.
Raramente dava opinião, e não era o único porque um ou outro pouco mais velhos também preferiam escutar os que tinham outras idades, perante quem sabia naturalmente muito mais que eu mas ouvia com atenção, aprendia e quando dizia alguma coisa era pela "certa".
Passaram mais de quarenta anos sobre essas noites de domingo no "Zé do Século".
Entretanto os meus pais mudaram de casa, para bastante mais longe do quiosque, as fontes de informação foram-se diversificando e essa "tertúlia" espontânea ficou definitivamente para trás como tantas outras coisas.
Hoje é tudo mais fácil
Televisões ,rádios locais e nacionais, jornais on line, internet é tudo ao momento e a informação tornou-se fácil e acessível a todos.
Ainda bem que assim é.
Mesmo quando alguma arrogância, a pseudo sabedoria ,o atrevimento típico da idade de alguns jovens os faz pensar que já sabem tudo e que podem ensinar ao mais e muito mais velhos o que é o Vitória, a sua História e as suas tradições.
Confesso que perante algumas coisas que ás vezes leio pelas redes sociais me lembro sempre dessa tertúlia no "Zé do Século" em que os que sabiam falavam e os que queriam aprender ouviam.
Outros tempos mesmo...
Depois Falamos
2 comentários:
É curioso o título do artigo de fundo de página:
"A crise do futebol leonino"
Ontem como hoje :) :)
Caro luso:
Essa crise é eterna
Enviar um comentário